Rafe
Não sei o que sentir, estou imóvel, paralisado e absurdamente chocado com o tanto de informação.
Sou o pai da Emma. Devia está vibrando de felicidade agora, mas não consigo.
Passei a vida desejando que o Universo a trouxesse pra perto de mim, que me desse a chance de conhecê-la, que me me concedesse o amor de uma mãe.
Passei a vida precisando de colo, cafuné pelos cabelos e um "vai ficar tudo bem".
Passei a vida imaginando seu rosto, apreciando as minhas próprias semelhanças para poder imaginar a suas.
Passei a vida idealizando um reencontro em que ela me procurasse, se desculpasse por ter me abandonado e nos reaproximássemos para recuperarmos o tempo perdido.
Mas não; Como um balde de água fria, descubro que ela não só me abandonou como também manipulou e desestabilizou a minha vida inteira apenas por causa de seus próprios interesses.- Rafe? — Sua voz ecoa pelo ambiente, em uma maldita coincidência do destino.
Me reluto a ter que me virar e olhar em seus olhos, mas sei que preciso.
Carla está vestida como de costume, esbanjando todo dinheiro que tem em suas roupas caras e acessórios extravagantes.
Está usando uma faixa nos cabelos, segurando um copo de café, enquanto seu cão de guarda está atrás dela, como de costume.
- Estou a horas esperando você no saguão de embarque, pensei que você não viesse mais. — Ela fala diretamente comigo sorrindo educadamente mas no exato momento em que seus olhos decaem sob Topper atrás de mim, o brilho em seus olhos se desfaz.
Não sei o que acontece comigo, não faço a mínima idéia do porquê mas de uma hora pra outra estou gargalhando no meio do aeroporto.
Estou rindo alto pra caralho, minha barriga dói e meus olhos lacrimejam por conta do riso.
Sinto seus olhos confusos, estranhando a ninha reação.
- Rafe... Você precisa se controlar, não pode ter um de seus surtos agora. —Carla fala baixo, envergonhada, já que os outros passageiros olham na nossa direção e cochicham sobre nós.
- Vamos, faltam apenas 15 minutos para o avião embarcar. — Sua voz autoritária embrulha meu estômago.
- Eu não vou. — Falo firme e Carla vira-se para mim novamente, porque já havia me dado as costas e eu, como sempre, obedecer feito cachorrinho.
- Como é? — Ela parece surpresa com o que acabei de dizer.
- Eu não vou pra lugar nenhum com você.
- Ficou louco, imbecil? Acha que esse poder está em suas mãos? —Seu capacho está quase avançando em cima de mim mas Carla o impede.
- Rafe, aconteceu alguma coisa? — Ela pergunta educadamente, se fingindo de dócil.
Sinto seu olhar cruzar-se com os de Topper e é a certeza que preciso de que ele está falando a verdade.- Não está planejando me abandonar agora; Está, Rafe? — Carla pergunta, tentando manter contato visual mas estou desviando suas tentativas.
- Não depois de tudo o que eu investi, projetei e idealizei pra você. Seria um golpe muito baixo. — Carla fala, se vitimizando.
Minha crise de riso se cessa para dá lugar a uma sensação sufocante em meu peito.
Estou com raiva, querendo explodir com ela ou com qualquer outra pessoa na minha frente da mesma forma que estou perdido e machucado com a situação.
- Mas não se compara ao que você fez. Não é, mamãe? — Falo ironicamente, olhando fundo em seus olhos mas dessa vez Carla que desvia.
- Eu não sei ao que você está se referindo. — Ela se faz de desentendida, mantendo a postura novamente.
- CHEGA! — Grito alto o suficiente, explodindo todo o misto de sensações dentro de mim e Carla se assusta com a minha reação.
- É isso o que sou pra você, não é Carla? Um projetinho que você abandonou no mundo e agora uma marionete que você quer a todo custo controlar. — As palavras saltam da minha boca em uma facilidade e apesar de não está estabilizado para resolver essa situação, não quero parar de falar.
- Não sei porque você está tão surpresa, estou fazendo a mesma coisa que você fez a 26 anos atrás: Ir embora.
- Porque foi isso que você fez, VOCÊ ME DEIXOU. — Grito novamente e lágrimas escapam dos meus olhos.
- Foi embora e me deixou com aquele desgraçado.
- Sabe o quanto precisei de você? Sabe o quanto precisei de uma mãe?
- Faz idéia das milhares de vezes em que chorei no meio do palco ou me recusei a participar das apresentações escolares no dia das mães? E todas as vezes em que eu me apaguei ao amor e carinho de toda emprega e professora porque eu não fazia idéia do que era isso, não tinha noção do que era ser amado.
- Eu era só uma criança... — Minha voz vacila e quando olho em seus olhos, vejo os mesmos marejarem.
- Você nunca me deu nada e ainda assim fez questão de me tirar tudo.
- Você nunca fez questão de me dá uma família e ainda assim tirou a única que eu tinha.
- Voltou agora só porque está velha o suficiente para precisar de um herdeiro, não é?
- ADMITE. — Grito mais uma vez, chamando atenção de olhares e burburinhos e somente por isso abaixo o tom de voz.
- Não foi sempre assim, Rafe... Eu... — Sua voz enfraquece e acho que a velha vai ter um derrame mas logo ela volta a falar.
- Eu paguei todos os seus anos de colegial, paguei as suas atividades extracurriculares, paguei a sua viagem e luxos, depositei dinheiro todos os meses em sua conta, mexi os pauzinhos para te aprovar na melhor universidade da Califórnia, eu... — Carla está iniciando suas desculpinhas esfarrapadas mas a corto porque novamente minha gargalhada alta ecoa pelo ambiente.
- Acha que faço questão da porra do seu dinheiro, Carla? Olhe pra mim. — Me aproximo, caminhando na sua direção.
Tiro as passagens compradas com o seu dinheiro do bolso.
- Não quero o seu dinheiro, não quero mais o emprego, não quero mais o cargo, não quero sua empresa, não quero seu sobrenome, não quero você na minha vida. — Falo olhando em seus olhos e a cada frase, rasgo mais um pouco do papel.
- Você é vazia, Carla. Eu podia ficar aqui jogando os 26 anos da minha vida que passei na sua ausência, mas não vale a pena.
- Vamos inverter os papéis, te darei o mesmo que você me deu todos esses anos: Desprezo. — Falo secamente, grosseiramente e é o suficiente para suas lágrimas escorrerem descontroladamente.
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Accident- Rafe Cameron
FanfictionApós conseguir vaga na universidade, S/N Heyward se muda para Outer Banks para cursar seu tão esperado curso de jornalismo. Em busca de melhores condições de vida e sua estabilidade financeira, aceita o emprego de cozinheira na mansão dos Cameron'...