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*Quebra de tempo*.

Rafe

- EMMA!!! - Uma voz estridente ecoa e consigo escutar mesmo do lado de fora do studio.
- QUANTAS VEZES EU VOU TER QUE REPETIR? VOCÊ ACHA QUE ESTÁ EM UMA COLÔNIA DE FÉRIAS? - A professora da minha filha grita mais uma vez com ela e preciso segurar o corrimão com toda força para não avançar em cima dela.
Emma está deitada tranquilamente, como se não tivesse escutado nenhuma só palavra.

Emma está deitada tranquilamente, como se não tivesse escutado nenhuma só palavra

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- Estou falando com você, sua garotinha mimada... - A ruiva está puxando com força seus bracinhos, com toda brutalidade, até que eu a interrompo.
- NÃO ENCOSTE UM DEDO NA MINHA FILHA, ESTOU LHE AVISANDO. - A mulher solta rapidamente Emma assim que entro na sala, que cai com tudo no chão.
- Você ficou louca, porra? - Estou descontrolado e como se soubesse Emma se enfia na minha frente.
- Tudo bem, pai. Eu fiz de propósito. - Emma fala com voz de choro, fitando o chão.
- Sua filha não pisa mais os pés na minha aula, estou lhe avisando. - A mulher me encara como um desafio e a raiva em meu peito cresce cada vez mais.
- Ninguém nunca mais vai pisar os pés aqui, porque pode ter certeza que eu vou cuidar para que hoje mesmo alguém venha aqui fechar essa espelunca. Me aguarde. - Falo carregando Emma em meus braços e batendo forte a porta atrás de mim.

- Pai, me desculpa. Eu sinto muito, eu... - Emma fala desesperada, soluçando de tanto chorar em meus braços.
Emma tem o mesmo transtorno que eu.
Quando começa a chorar não consegue respirar direito e por isso as palavras saem emboladas e pausadamente.
Suas mãozinhas pequenas tremem e Emma as aperta com força para que ninguém perceba o quão inquietas as mesmas estão.
- Tudo bem, princesa... Tudo bem. - Falo entrelaçando nossas mãos e segurando seus joelhos para que Emma pare de bater descontroladamente os pés no chão.
A abraço forte em meu peito, sentados no carro e acaricio suas costas para que Emma possa se tranquilizar novamente.
- Eu odeio fazer balé, pai... - Emma sussurra em meu ouvido e meu coração gela.
- O que? - Pergunto para ver se entendi direito.
- Odeio fazer balé.
- O collant faz calor, a meia calça pinica, as sapatilhas apertam... - Emma começa falando e se afasta para olhar em meus olhos, secando as lágrimas.
- As meninas são metidas, a professora não gosta de mim, a sala de aula fede...
- Tudo é ruim, pai. Eu não quero voltar pra lá, por favor... - Um soluço escapa de seus lábios e a pequena volta a chorar alto de novo.
- Você nunca mais vai precisar calçar isso aqui de novo, eu prometo. - Falo tirando lentamente as sapatilhas de seus pés e continuo a abraçando mais forte para tentar passar nem que seja 10% de uma segurança que nem eu mesmo tenho.


S/N

- Oi, amores. Demoraram, aconteceu alguma coisa? - Pergunto quando Emma e Rafe passam pela porta da frente mas nenhum dos dois me respondem.
- Alô? Terra chamando!! - Estralo os dedos para chamar sua atenção.
- Processei Daniela. - Rafe finalmente abre a boca.
- Daniela? A professora de balé da Emma? - Me certifico de que entendi direito.
- Isso. Processei Daniela e desmatriculei Emma da academia de balé.
- Por que? Aconteceu alguma coisa? - Pergunto apreensiva.
- Entrei na sala de aula e ela estava praticamente batendo na minha filha, aquela desgra... - Rafe para de falar e joga as chaves na mesa, passando a mão pelos cabelos, estressado.
- Ô meu amor, o que ela fez com você? Ela te machucou? - Me agacho até a pequena que está escondida atrás de Rafe como se fosse sua sombra ou como se estivesse com medo de mim.
- Não. - Emma responde baixinho e seus olhos se enchem de lágrimas.
- A gente procura outra escola de balé, ouviu? A gente dá um jeito. - Tento tranquiliza-la.
- Eu não quero. - A voz de Emma responde de imediato e fico confusa.
- Como assim?
- Ela não vai mais fazer balé. - Rafe responde por ela.
- Sim eu já entendi, naquele lugar realmente ela não vai. Mas existem outras academias. - Respondo ainda sem entender o que está acontecendo.
- Acho que as coisas ainda não ficaram claras, Emma não vai mais pisar em nenhuma escola de balé. - Rafe fala decidido.
- Como é, Rafe?
- Não gosto de dançar, mãe. - Emma fala já chorando.
- Que história é essa, Emma? Você faz balé desde os dois anos de idade.
- Mas não quero fazer mais. Por favor, mãe - Sua voz sai embolada enquanto seca com as costas das mãos as lágrimas que escorrem rapidamente de seus olhos.
- Foi o John, né? Claro que foi. - Falo andando de um lado pro outro, estressada.
- Foi a droga daquele saco de pancada, não foi? - Falo olhando em seus olhos.
- RESPONDE, EMMA. - Grito a balançando pelos ombros.
- Você está descontrolada, s/n. Vamos esfriar a cabeça, conversar depois... - Rafe tenta contornar a situação.
- DESCONTROLADA? EU ESTOU DESCONTROLADA?
- Você não tem O MÍNIMO de controle com essa menina, Rafe.
- Ela pede aqui, chora ali e você faz. VOCÊ É UM IDIOTA.
- EU SOU UM IDIOTA? E VOCÊ É AUTORITÁRIA. VOCÊ NÃO TEM O MÍNIMO DE RESPEITO COM AS DECISÕES DO OUTRO. VOCÊ SÓ PENSA EM VOCÊ, EGOÍSTA.
- DECISÕES DO OUTRO RAFE? ELA TEM CINCO ANOS, ACHA QUE ELA TEM ALGUM PODER OU MATURIDADE PRA TOMAR ALGUMA DECISÃO? - Estamos gritando e apontando o dedo um pro outro até que o choro e soluço de Emma ecoa mais alto do que nossas vozes e chama nossa atenção.
- Eu só... Eu só quis dizer que o balé não era a minha praia. - Emma fala soluçando, se acabando de chorar, sentada no chão.
- Não era sua praia? Quem te ensinou a falar assim? - Falo cada vez mais incrédula com o que está acontecendo.
- Você dançou antes mesmo de andar, Emma... - Falo me agachando até ela, olhando em seus olhos e dessa vez quem está chorando descontroladamente sou eu.
- Você rodopiava pela casa, vestiu o Mike de bailarina, fez o JJ aprender uma coreografia inteira com você.
- O balé era o seu sonho, minha filha... - Falo quase como uma súplica para que ela mude de decisão.
- Não mamãe, o balé é o seu sonho... - Emma fala tão baixinho mas ainda assim consigo escutar.
- O seu sonho era que eu fosse bailarina, mas nunca foi o meu. - Emma fala decidida e sustenta o olhar.
- Precisa entender mãe, por favor... - Suas mãozinhas tocam de leve meu rosto mas as afasto rapidamente porque agora os seus carinhos não serão suficientes para reverter a situação.
- Chega. - Falo levantando do chão.
- Sabe o que eu vou fazer com aquele saco? Eu vou destruí-lo.
- Vou mandar você pra um colégio interno, Emma. Eu não quero NUNCA MAIS NINGUÉM DANDO PALPITE SOBRE A SUA EDUCAÇÃO. NINGUÉM. - Grito olhando em seus olhos.
- EU TE ODEIO. - O grito em resposta de Emma ecoa pela sala e meu coração inteiro se despedaça junto.
Não consigo responder absolutamente nada porque as batidas fortes de seus pés subindo as escadas já são o suficiente para eu saber que o que quer que eu tenha a dizer, Emma já não está mais aqui para ouvir.

Accident- Rafe Cameron Onde histórias criam vida. Descubra agora