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S/N

Ainda estou sem acreditar no que acabou de acontecer. Nossa pequena chutou pela primeira vez e não tem sensação melhor do que essa.
Passamos um mês inteiro esperando por esse momento e quase não consegui ter um momento a sós comigo mesma porque todos, literalmente, queriam está presente no exato instante em que acontecesse.
Estou tão emocionada e tão feliz ao ver Rafe e seus olhinhos brilhando, gritando e comemorando que é impossível não chorar.
Mas como se o destino tivesse escutado nossa felicidade e quisesse tirá-la de nós, uma dor absurda me invade.
- Linda, ela está pulando? — Rafe pergunta confuso ao sentir as milhares de batidas e chutes que a bebê está fazendo.
Não consigo responder porque estou gemendo de dor, medo e preocupação.
- Ela não está pulando, Rafe... — Tento continuar a frase mas não consigo.
- Tudo bem? O que tá acontecendo? Linda, olha pra mim. — Rafe pede preocupado e tento juntar todas as forças para dá ao menos uma justificação.
- Ela está soluçando. — Digo com a voz fanhosa e fraca.
- Estou tendo contrações involuntárias, faz isso parar Rafe, por favor. — Peço já com as lágrimas escorrendo mesmo sabendo que não há nada que Rafe possa fazer agora.
- Preciso que controle a respiração comigo, linda. Consegue fazer isso? — Rafe pede tentando manter a calma enquanto enxuga minhas lágrimas e olha fundo em meus olhos.
- Baby, sou eu, seu pai. Sua mamãe vai fazer uns movimentos e preciso que você obedeça e repita-os, ok? — Rafe fala acariciando de leve a minha barriga e falando diretamente com o bebê.
- Puxa o ar... — Rafe olha pra mim e eu obedeço.
- Agora prende. — Repito os movimentos de respiração e no começo não consigo ver reação da bebê que insiste em pisotear minha barriga com força.
Mas Rafe não desiste, continua contando os segundos nos dedos, me ajudando a controlar a respiração, falando com o bebê e por fim, cessando a crise de soluço.
Quando me dou conta de que os chutes tranquilizaram, estou chorando de novo.
- Você conseguiu. — Falo em meio às lágrimas.
- Nós conseguimos. — Ele fala e sela nossos lábios e deita-se na cama para conseguirmos adormecermos juntos.

 — Ele fala e sela nossos lábios e deita-se na cama para conseguirmos adormecermos juntos

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*Quebra de tempo*
Rafe

- 29ª semana. — Sarah aparece atrás de mim como um cronômetro.
- Ah, jura? Eu não fazia idéia de que falta apenas um mês para minha filha nascer. — Reviro os olhos impaciente.
- Pela minha sobrinha, eu não vou me dá ao trabalho de devolver na mesma moeda.  — Ela fala mas eu finjo que não escutei e continuo fervendo o chá que S/N pediu.
- Ela está tendo outra falsa contração de parto lá em cima. — Sarah fala sem jeito.
- Liguei para obstetra, ela precisa ficar em observação, acompanhada o tempo inteiro. — Ela continua falando e é impressão minha ou Sarah está tentando puxar assunto comigo?.
- Ela já reconhece minha voz... — Ela fala baixo e quando viro para olhá-la está sorrindo envergonhada, feliz da vida, fitando o chão.
- Desembucha, Sarah. O que é que você quer? — Falo já impaciente com tanta educação vindo da minha nada agradável, irmã.
- Não vai me afastar dela, vai? — Sua voz sai tão fraca que estou quase pedindo para repetir mas quando menos espero, Sarah já está colocando tudo pra fora.
- Eu sinto muito pelo que fizemos com você, Rafe. Pelo que fizemos a vida inteira.
- Eu sinto muito por não ter te olhado com mais carinho, mais atenção, mais cuidado.
- Quando disse que você era um psicopata, a oito meses atrás, falei sério. Porque era a visão que eu tinha de você, Rafe e eu sinto muito.
- Mas hoje? Vendo você se doando tanto, contando historinhas para a bebê, se declarando o tempo inteiro, colocando fones de ouvido na barriga para que ela escute suas músicas favoritas... — Sarah para de falar para controlar as próprias lágrimas e eu busco em seu rosto qualquer sinal de falsidade ou mentira mas pela primeira vez, não encontro.
- Você está construindo uma família linda, Rafe. Sabe quantos de nós esperavam que eu fosse a primeira a proporcionar isso? Todos.
- Mas você vai ser a primeira, Sarah. Você sempre foi. Acha que algum dos Cameron's está dando a mínima para a gravidez? Não. E vão continuar fingindo que nós não existimos porque foi isso que ele me disse, Sarah, disse que a partir daquele momento eu não existia mais para vocês. Consegue se imaginar escutando isso do seu papai, Sarah? Não então quer fazer o favor de sair da minha cozinha e parar com esse choro de crocodilo? — Falo já perdendo a porra da paciência.
- Ele fez um mural no escritório só pra você, Rafe. Não que isso tenha importância agora, porque você está no seu direito.
- Mas quero que saiba que ele fez um mural no escritório e todo mês, exatamente todo mês, ele anota quanto tempo falta para essa criança nascer.
- Eu sei, é complicado e eu não estou aqui para passar uma borracha em tudo o que a gente viveu.
- Estou aqui porque do fundo do meu coração, eu sinto muito. — Ela enxuga as lágrimas e se aproxima na minha direção.
- Me desculpa. — Sarah termina de falar e acho que pela primeira vez na vida, seus braços entrelaçam minha cintura em um abraço.
  Sarah é mais nova e mais baixa que eu e mesmo querendo ou não sempre foi a minha protegida também, nem sempre fomos assim.
  Me lembro de quando sua primeira menstruação desceu na escola, o quanto ela ficou desesperada e nervosa e ficamos sentados no chão do pátio e Sarah sem coragem de levantar pediu pra que eu a levasse de cavalinho até o banheiro e precisei dá a minha cueca para que ela pudesse se sentir "mais limpa", ou então quando seu primeiro dente caiu e nosso pai sempre tão mais preocupado com os próprios assuntos esqueceu de colocar o dinheiro debaixo do travesseiro e eu coloquei minhas únicas moedas da época só pra evitar sua frustração, ou no natal em que cada um revezava o horário de dormir para pelo menos um de nós estarmos acordados quando "papai Noel chegasse" e eu fazia de tudo pra ser na hora do seu cochilo para que ela não se decepcionasse ao ver Rose colocando os presentes na árvore.
  Não sei quando a gente se perdeu um do outro ou quando deixamos de sermos tão próximos para chegarmos no estardalhaço que somos hoje mas sei que assim como ela também tenho muito a me desculpar.
- Eu... — "Meu deus porquê tem que ser tão difícil pedir desculpas?" Penso comigo mesmo.
- Eu sinto muito também. — Falo secamente mas retribuo o abraço e a aperto mais forte em meus braços.
- Os hormônios do papai estão a flor da pele também? — Ela ironiza e sinto minhas lágrimas descerem junto com as suas.
- Em minha defesa, estou fazendo isso pela minha evolução e para me livrar das sessões com a terapeuta. — Falo e sua risada faz cócegas no meu ouvido.
- RAFE!!! — Ela bate no meu braço me repreendendo e pela primeira vez estamos sorrindo juntos, de forma leve, natural e sincera.
- Eu nunca te afastaria dela, Sarah. Você foi tia, amiga, médica, nutricionista, cuidadora a gestação inteira. — Falo e vejo seu sorriso formando-se em seus lábios.
- Não seria justo fazer isso com a madrinha. — Falo e me divirto com seus olhos arregalados e sua cara completamente surpresa.
- AI MEU DEUS ESTÁ FALANDO SÉRIO? — Ela grita no meu ouvido.
- Não. — Falo e gargalho alto pra caralho.
- Vai se foder, Rafe. — Ela levanta o dedo do meio e sai pisando forte da cozinha.
- Ah, Sarah! — Chamo sua atenção fazendo virar-se para mim novamente.
- Quando puder, rasga a porra do mural por que minha filha não é uma ação de empresa pra ficar escondida em escritório naquelas malditas planilhas. — Falo sério mas Sarah parece se divertir com o que eu disse.
- Por que você mesmo não faz? — Ela fala presunçosa.
- Por que eu só piso meus pés naquela casa novamente quando ele respeitar S/N como minha mulher. — Falo dando de ombros mas escuto palmas vindo em sua direção.
- Rafe Cameron, estou completamente orgulhosa. — Ela fala, sorrimos um pro outro e Sarah sai novamente da cozinha.

Accident- Rafe Cameron Onde histórias criam vida. Descubra agora