Full Mon

Longa noite

“ Querida Alice como sinto sua falta por aqui, tudo em Forks permanece igual antes mas sem a beleza de antes que só vocês conseguem trazer, hoje mais do que nunca, como em todas as vezes que fui uma péssima pessoa e tive que pagar meus pecados dessa vez não foi diferente, Damon partiu a uma semana e não retorna mais minhas ligações, fui cruel e infantil com ele mas como poderia ter sido uma pessoa diferente se as lembranças sobre o Edward ainda me atormentam dia após dia? Voltei a ter pesadelos e não consigo dormir bem, agora como antes todas as noites são um tormento, as bolsas sob meu olhos estão ainda mais escura, sinto falta das nossas conversas e dos seus conselhos, queria poder ter a certeza que você vai aparecer aqui quando receber esse e-mail mas sei que não vai, vocês partiram e tenho a certeza que jamais verei nenhum de vocês novamente, minha mente está um turbilhão de pensamentos suicidas e queria muito que você pudesse me tirar desse buraco sem fim. Sinto falta de vocês, de todos vocês e em especial dele, a falta dele é o que mais me atormenta, é a chave para todos meus pesadelos. René ligou a três dias, disse que sente algo diferente na minha voz, ela quer me tirar de Forks mas como eu poderia ir embora? Deixar para trás tudo o que eu construí aqui com vocês, essa ligação de sangue é cortante, por favor Alice me responda preciso de você mais do que nunca”

Com o notebook aberto vejo um alerta subir na tela “ encaminhar e-mail número 1268 para Alice?” era engraçado como a vida me pregava peças inusitadas, todos aqueles que eu amava estavam me deixando de alguma forma e em todas elas eu havia feito algo para que isso tivesse acontecido, como culpar um meteoro que atinge a terra se você é como um ímã contrário que afasta as pessoas para longe? O vazio que Damon estava me causando já estava mostrando os efeitos colaterais horríveis, a antiga cicatriz estava se abrindo aos poucos e latejava de dor como antes, será que eu aguentaria muito tempo essa situação? Não existia culpados para isso, eu fracassei com Damon como fracassei com Edward. Dê certo modo estava aliviada de estar sozinha, eu carregava o peso de um sentimento recentido com Edward no ombro esquerdo, e o sentimento de ternura por Damon no ombro direito. Era um alívio ficar sozinha, sem ter que sorrir e ficar satisfeita por um deles estar ao meu lado enquanto o único que eu queria estava longe, não era justo tratar Damon como um curativo, ele era mais do que aquilo, no fundo era mesmo um alívio olhar pela janela a chuva entristecendo tudo e até deixar algumas lágrimas caírem, eu sabia que nenhum dos dois ia voltar e isso me deixava dividida entre estar feliz por conseguir ser sincera enquanto ainda era tempo e infeliz por ter perdido duas pessoas que eu amava, e eu me dei conta com uma penetrante sensação de desespero, que não havia jeito, a situação já estava perdida de todas as formas, eu nunca mais veria os Cullen novamente. Com as mãos apoiadas sobre a mesa, trêmula, busquei o mouse novamente e aceitei a mensagem de aviso, aquele e-mail seria encaminhado a Alice, mesmo que ela nunca o visse, eu precisava que algum deles, em algum lugar do mundo soubesse que eu ainda estava aqui, que jamais os abandonaria. Deixei que as lágrimas caíssem sobre minhas bochechas e mesmo com os olhos fechados, mesmo sentindo a madeira velha e ondulada da mesa, parecia que meu corpo não estava mais ali presente naquele quarto, a frase “ estar morta por dentro” nunca fez tanto sentindo.

(...)

O barulho do motor da picape assusta alguns alunos que estavam no estacionamento, com a touca do moletom cobrindo minha cabeça caminho em direção a entrada da escola sem reparar em ninguém, novamente minha figura invisível era o assunto predominante nos corredores da escola. A Bela depressiva tinha voltado e todos já estavam notando isso, se existisse alguma possibilidade de me jogar em um buraco sem magoar meus pais eu faria mas não seria justo com Charlie que me acolheu tão bem, não seria justo com a minha mãe que não pediu para nada disso acontecer, por sorte eu tinha os dois a quem me apoiar ou tudo e todos já estariam longe dos meus pensamentos a muito tempo. A sala já estava cheia quando entrei, mas por sorte nenhum professor havia começado a aula. Jéssica e Angela me observavam ao fundo da sala enquanto me ajustei na cadeira da frente jogando minha mochila sobre a mesa, os cochichos eram intensos e ninguém mais se importava se eu estava escutando ou não, imaginar rumores sobre mim era meu único divertimento por aqui. Pude notar também quando Jessica se levantou e foi em minha direção, estava cautelosa, não sabia se quebrava ou não a barreira invisível que construí entre nós, mas mesmo com receio resolveu se aproximar.