50 - Victor Hugo

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Deposito as rosas brancas no vaso em forma de anjo no túmulo de minha mãe e sigo para o túmulo de Nice. Faço isso todo o ano desde sua morte e assim sempre será, é o único modo com que posso redimir pelo que fiz, pelo mau que causei á ela no tempo em que fomos casados.

- Este foi um ano difícil – falei enquanto trocava as flores antigas pelas novas.

Há exato um ano atrás mais ou menos nesta hora eu estava conhecendo aquela que seria a aventura mais incrível da minha vida, uma paixão inesperada que me moveu rumo a experiências que nunca acreditei que viveria. Amei e amo Edith como eu sei que jamais serei capaz de amar outra pessoa, uma pena que ela me abandonou.

Poucos meses atrás eu acreditava que sua raiva era passageira e que logo ela ia esfriar a cabeça e me desculpar por meu deslize de ir para a cama com Sophie, o que nem era minha culpa por que fui dopado. Só que eu fui realmente proibido de entrar não só na casa noturna onde ela trabalha com frequência como também não podia entrar em mais outros estabelecimentos pela cidade. Edith não é apenas chefe de segurança de uma casa noturna, ela chefiava a segurança de um conglomerado - como ela tem tempo para fazer bem seu trabalho nem consigo imaginar.

Eu tentei falar com ela novamente, mas Edith parece ser muito habilidosa em sumir ou se esquivar, pelo menos no que diz respeito á mim já que toda vez que eu a via ela desaparecia antes que eu estivesse perto o bastante para falar com ela, e eu tenho certeza que em mais de uma vez ela me viu também, pelo modo com que sua expressão mudava para certo descontentamento antes de revirar os olhos e sair do meu alcance.

Então desisti, se ela queria espaço eu ia lhe dar todo espaço que desejava. Mas o acaso parecia querer que eu a visse mais vezes do que eu pretendia, nos meses que se arrastaram lentamente desde minha decisão de não mais procurar por ela, vi Edith como se ela estivesse por todos os lados ou talvez, antes eu nunca tivesse notado o quanto esta cidade é pequena embora considerada metrópole populosa.

Vi Edith numa tarde, em que estava conhecendo a vizinhança do meu novo apartamento, queria conhecer melhor a região onde estava morando, onde era seguro ir e onde eu devia evitar, essas coisas. E ela estava segurando um bebê na entrada de uma farmácia enquanto conversava com um garoto que não devia ter chegado aos quinze anos, eu achei a imagem estranha e só fui entender quando saiu da farmácia uma mulher que pegou o bebê trocando algumas palavras com Edith antes de entrarem no carro e partirem.

Outra vez a vi entrando numa casa noturna para gays quando anoitecia, achei que tivesse delirando, mas o carro era dela e menos de dois minutos depois ela saiu acompanhada de uma drag queen toda caracterizada que pegou o carro Edith saindo. Eu confesso que escorreguei na minha decisão de entrar ali até descobrir que não podia por que estava proibido. Foi assim que eu descobri que era proibido de entrar em vários lugares.

E brevemente por várias vezes só por que ela parece ter um imã que me atrai mesmo quando estamos de lados opostos de uma rua movimenta, separados por uma multidão barulhenta. A mais marcante de nossos "encontros casuais" foi uma manhã em que eu estava indo para a empresa saber qual em fim seria meu destino na Dracar, eu estava esperando o sinal abrir quando olho para o lado e vejo Edith com o rosto escorado no vidro de um carro vermelho dirigido por aquele cara com quem ela estava se agarrando na casa noturna, não sei se ela me viu, ela estava de óculos escuros.

Doeu vê-la com aquele cara outra vez. Cada vez mais tinha certeza de que não havia sido coisa de momento, eles estavam juntos – tendo ele namorada ou não –, era uma sexta-feira. Então fui eu quem resolveu que não ia mais atrás dela, se ela não me queria, se ela preferia sua vida medíocre de ir para a cama com vários homens em vez de aceitar meu amor, que ela fosse muito infeliz nas suas aventuras.

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