23 - Victor Hugo

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Fiquei sem reação. Meu melhor amigo tinha atacado uma mulher e ainda mentido descaradamente sobre o ocorrido? Custava acreditar que alguém tão desajeitado e meio lerdo como Fábio pudesse fazer algo daquele tipo, mas estava ali, gravado e datado.

- Isso não é uma montagem? – perguntei para Edith que tomou o celular da minha mão e saiu irritada.

- Paspalho – minha mãe deu um tapa no meu braço – Se não fosse tão parecido em aparência com o pai eu pensaria que foi trocado na maternidade.

Ela saiu batendo a porta com força demais. Eu hesitei e quando sai da sala para falar com Edith, elas já tinham ido. Que droga. Eu não podia sair por que estava á espera de uma ligação muito importante e não podia mais ser adiada. Mandei que chamassem Fábio para minha sala assim que ele chegasse, eu tinha que limpar esse assunto.

Não pude deixar de lembrar o fato de Fábio ter agido com tanta ansiedade em me levar para aquela casa noturna e liguei isso ao fato de Edith insistir em trabalhar numa casa noturna, será que ele sabia disso? Fábio conhecia Edith desse lugar e por isso insistiu em me levar lá duas noites seguintes? Fiz um esforço para me lembrar, naqueles dias ela tinha adoecido e desaparecido até se recuperar, uma coincidência? Busquei informações sobre a casa noturna na internet e encontrei o site do local, nem hesitei em abrir, queria qualquer informação que pudesse aliviar minhas duvidas.

E lá estava a prova. Edith trabalhava mesmo naquele lugar, senti o coração afundar quando a assistia dançando com um grupo de mulheres todas usando lingerie sexy e rodopiando em perfeita sincronia. Ela não era chefe de segurança como me contou que era, Edith era uma stripper.

Quando Fábio apareceu, eu já tinha vasculhado todo aquele site que mesmo sendo atualizadas todas as segundas-feiras com grade de programação da casa noturna, slides dos clientes feitos com fotos que eles postavam em suas redes-sociais marcando a N8, vídeos dos espetáculos de dança do fim de semana que parecia ser a atração mais esperada por quem frequentava aquele lugar e, um chat que permanecia em aberto para interação dos clientes com os funcionários.

Confesso que foi onde eu perdi um precioso tempo lendo as conversas, muito fora do contexto para um site de um night club, entre um quarteto á respeito de viagens no tempo, não sobre filmes e livros e sim sobre as pesquisas de cientistas reais e renomados, eu fiz uma busca rápida na internet sobre os nomes citados. Eu ainda estava fazendo isso, lendo as conversas dos outros quando Fábio entrou na minha sala sem bater.

- O que está vendo? – ele quis saber tentando olhar meu computador, mas sai da página antes que ele visse o que era.

Não estava com paciência ou humor para escutar suas piadas sobre pornografia ou o que quer que ele pense a me ver lendo num site como aqueles, embora pudesse provar que estava acompanhando um debate curioso á respeito das improbabilidades de se conseguir fazer um salto no tempo seja para o passado seja para o futuro de acordo com a opinião de cientistas esquisitões que perdiam tempo estudando meios de quebrar a barreira do espaço-tempo.

- Nada importante – ver meu amigo me fez lembrar-se do por que eu acabei entrando naquele site – Precisamos conversar.

- E eu achando que tinha me chamado para um brinde – ele debochou – O que houve? Não vai me dizer que o finlandês deu para trás?

- Não, ele ainda nem ligou – verifiquei o relógio, eu devia ter recebido á ligação do cliente há quatro minutos – Meu assunto com você é outro. Quero falar sobre Edith.

Ele nem alterou a expressão, sem surpresa, sem susto, só o sorriso alegre de sempre como se vivesse numa realidade perfeita onde nós erámos só o entretenimento televisivo.

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