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58 - Edith

Lilith estava se preparando para ir nos visitar no fim de semana próximo, por isso Sara e Bernardo tinham achado engraçado que eu viera fazer uma surpresa quando minha irmã tinha a mesma intenção. Sara estava explicando que Lilith teria viajado no sábado e só adiou para a semana seguinte por causa de Luc que estava ferido e ela não queria o deixar antes de ter certeza que ele ia ficar bem.

- Quem é Luc? – perguntei.

Luc era um dos cinco cachorros de Lilith, precisei recuar quando chegamos no sítio onde ela mora e três vira-latas vieram nos receber. Lilith veio ver quem tinha chegado para que seus bichinhos estivessem fazendo tanto barulho, e veio me abraçar para empolgação dos caninos que viram o gesto como boas vindas – segundo Lilith, para mim eram apenas cachorros fazendo barulho de cachorro.

- Uau! Agora entendo você ter vindo morar aqui, resolveu abrir um canil.

- São apenas seis. Aqui Mascote, Fionulla e Bo – ela apresentou os vira-latas e apontou para um cachorro que latia preso numa corrente – Aquela é Venera, de castigo. Luc 'tá de molho e Montgomery nesta hora deve 'tá no portão da escola esperando as crianças. Venha, tenho um monte para falar.

Ela me arrastou para dentro da casa enquanto falava sobre seu plano adiado de ir nos visitar, agora que eu tinha vindo estraguei seu plano de fazer uma surpresa para mim e quis saber se ninguém mais tinha algum plano de sair em viagem para não estragar o que ela tinha em mente.

Enquanto tagarelava sobre a sorte de não nos desencontrarmos – se ela viajasse na semana anterior ou se eu viesse na semana próxima –, eu observava sua casa. De fora parecia um pequeno sobrado roxo com pergolado por onde trepadeiras subiam formando um telhado verde, na parte de cima tinha uma parede de tijolos vazados que não passava informação nenhuma além de uma pessoa com gosto estranho para decoração.

Subimos pela escada externa em caracol que nos levou direto para uma sala de estar com teto de vidro, seguido de uma mesa de jantar e a cozinha – que ficava na parte superior frontal da casa, como um avesso de cabeça para baixo, calculando que os quartos estavam no térreo. Olhando lá para fora vi muitas arvores frutíferas, uma horta da qual mamãe teria gostado, uma edícula de madeira cujo telhado tinha alguns painéis solares, e não vi nenhum muro, só aquelas cercas frágeis de arame.

- Não tem medo de assalto? Não há muros e suas coisas estão praticamente expostas aqui fora.

Ela riu como quem ouve uma piada ruim e força para não demonstrar tédio.

- Tenho seis cães bem treinados, um sistema de segurança high-tech e, caso não lembre, fui educada pela mesma mãe que te educou.

- Está pronta para o que der e vier com duas rotas de fuga e um álibi perfeito – ditei.

- É isso e pare de reparar na minha casa, parece que caças defeito.

- Sua casa lembra uma caverna pedregosa com telhado de vidro que me fazem pensar nuns trocadilhos sem graça, e por que esse formato? Com todo esse espaço dava para fazer uma mansão com uma mega piscina.

- É estilo rustico, não é vidro é policarbonato, as mansões não combinam com esta cidade, detesto piscinas e quanto ao resto, a casa já estava aqui quando cheguei, apenas redecorei.

Contou que o antigo dono do sítio era um pedreiro que começou a reforma no sítio depois da morte dos pais já idosos, como o pedreiro não tinha filhos e os irmãos e sobrinhos viviam noutras cidades maiores com suas famílias – nenhuma interessada em morar numa comunidade de pescadores –, depois de sua morte, colocaram a propriedade á venda. Lilith comprou.

- Quando foi que ganhou na loteria? – questionei divertida.

A verdade é que sei muito pouco sobre o que minha irmã faz, com exceção de que é uma pequena autora que publicou uma trilogia de sucesso na editora de papai... Lili tem formação técnica em seis áreas, é inteligente e preguiçosa, então optou por reduzir o tempo de estudo garantindo um certificado para provar que está apta para certos cargos.