6 - Edith

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- Seu irmão não veio? – Conrado pergunta depois dos cumprimentos costumeiros quando entramos em casa.

Troquei um olhar com Mortis, ele mal tinha nos cumprimentado e já estava perguntando sobre Daniel, não é ciúmes de irmã ou qualquer coisa similar, papai não tem nenhuma natureza paterna tanto que ele fez vasectomia para não correr risco de haver outro "acidente", a mãe de Daniel tinha morrido no parto, então ele só tinha á mim e nossos avós paternos como família e mais tarde Conrado que sequestrava meu irmão de mim assim como ele fazia agora com o neto.

Mamãe teve complicações na gravidez de Mortis e teve que fazer cirurgia por que ela não sobreviveria á outra gravidez, então quando Daniel aparecia Conrado o tratava como um filho querido – ele foi uma figura paterna exemplar para mim e minhas irmãs, mas nós três erámos sempre do contra, a única coisa que estávamos em comum acordo com Conrado era o fato de adorarmos comprar.

- Daniel estava ótimo da última vez que o vi, ontem – informo.

- Cadê a mãe e meu monstrinho? – Mortis pergunta antes que o pai foque em Daniel.

- Me expulsaram da horta, Babi acha que eu sugo a vida de suas plantas só em olhar.

Mortis e eu rimos de seu drama enquanto vamos para o quintal, mamãe e Iago estão dentro do cercado tirando erva-daninha enquanto cantam alguma coisa incompreensível que soa como italiano.

- Isso é torturante – Mortis resmunga.

- Pelo menos ela está com Iago no que parece um momento fofo – Conrado disse com uma ponta de malícia debochada – É assustador quando ela senta com um violão e toca para as plantas.

- Perturbador – concordo.

- Sinistro – Mortis ri.

Bárbara, mamãe, é jardineira, estranhamente não temos um jardim em casa, só sua preciosa horta. Ela ergue-se tirando a luva e Iago a imita, a luva dele é só um acessório por que tem terra e pedaços de folhas dos cabelos ás pernas.

- Ó manhê, eu tavo judano vovó planta batata.

Conrado ri.

- Eu vou plantar uma batata no meio da sua cara se não parar de rir – mamãe é tão doce.

Sua ameaça só serviu para que eu e Mortis fizéssemos coro á Conrado, sempre que ela estava mexendo na horta ele dizia "Babi foi plantar batatas", a piada era idiota e velha, mas a reação indignada de mamãe ainda nos fazia rir.

- Sério, eu pari vocês e vão ficar zombando de mim? O que aconteceu com o bom dia mamãe, sentimos sua falta.

Ela saiu do cercado fechando a portinhola e lavando a mão na bica próxima.

- Nos vimos sexta-feira, quando a senhora e Conrado se convidaram para jantar lá em casa e sequestrar meu sobrinho – a lembrei – E nunca fui chamada, você já foi Mortis?

- Não, eu lembro vagamente de ter sido expulsa na última visita.

- Não te expulsamos Mortícia, só perguntamos se você não tinha nada para fazer na sua casa em vez de ficar fazendo hora aqui – Conrado informou – Não me olhem assim, parece sua mãe.

- Isso é um elogio ou uma ofensa? – perguntei o fazendo olhar para mamãe antes de responder que era um elogio, óbvio.

Para um ex-policial ele teme demais as reações de mamãe diante de sua opinião, todos tememos um pouco quando se trata de seu excesso de candura todos ficamos apreensivos, é como aquele dito sobre calmaria antes da tempestade, eu acho que os únicos de meu círculo familiar que não a teme é Rosemeire, minha avó paterna, e Dante, meu outro padrasto – casado com papai.

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