Bati na porta da sala de Daniel e entrei com sua permissão, reparando na pessoa que estava com ele. Eu tinha acabado de sair de uma longa reunião com Bernardo e estava ficando desanimada, não estava com cabeça para criar teorias.
- Novidades? – Daniel perguntou quando parei há dois passos de sua mesa, atrás da cadeira onde sua cliente ocupava.
- Sim, Bernardo encontrou sua nêmesis.
Bernardo podia ser considerado por Daniel e Gael e por todas as pessoas que eu conhecia o melhor detetive particular que o dinheiro podia pagar, mas Lily era melhor em fugir do que ele podia ser em encontrar. Já fazia quase dois meses que minha irmã tinha entrado em modo anônimo e a melhor pista que tínhamos do seu paradeiro era exatamente a que nos deu a dica de que ela estava fazendo coisas erradas.
Ela havia enviado uma foto para mamãe poucos dias atrás na rede social, estava orgulhosa e sorridente diante de um sortimento de cupcakes decorados sobre uma legenda que indicava que ela tinha o feito para sua maratona de séries – algo que fazia quando estava entediada e queria ficar longe das pessoas –, a foto não revelava nada além de uma geladeira e um armário branco ao fundo, o que podia ser absolutamente qualquer cozinha mundo á fora.
Também conversou por áudio no aplicativo com Conrado na mesma noite, todo som que vinha do outro lado era da televisão e sugeria que ela maratonava uma comédia, dessas que não tem graça nenhuma só um monte de pessoas tentando conciliar a vida pessoal com a profissional e casais trocando de pares o tempo todo. Isso só deixava claro que ela estava bem e agindo para que os pais não se preocupassem com ela, fazendo acreditar que ainda não queria contato com o mundo exterior além dos dois.
- Sua irmã é formidável – Bernardo comentou enquanto relatava como todas as pistas que ele seguia davam em nada – Em todos meus doze anos de carreira nunca encontrei um desafio como ela.
- Você está se divertindo por ela estar jogando contigo?
- Estou – ele deu de ombros ao confirmar – Se todos esses maridos e esposas que sou pago para investigar fossem tão bons na arte da discrição, como a sua irmã é, meu trabalho seria mais emocionante.
- Achei que fosse pago para achar pessoas e ferrar com a vida de criminosos do colarinho branco.
- Sou pago para fazer muitas coisas, Eddie.
- Um mercenário moderno, basicamente.
- Basicamente.
Eu não estava interessado na vida emocionante que o detetive particular queria ter, eu queria saber de minha irmã, mas ela não dava bobeira o que nos fazia especular por que alguém tão hábil em apagar seus rastros deixou uma pista do que estava fazendo. Tanto Bernardo quanto Daniel e eu não acreditávamos que ela tinha gasto com viagens repentinas e deixado Daniel saber sem querer, ela sabe que meu irmão é quem lida com meu dinheiro e isso significa que se uma de minhas irmãs faz um gasto exorbitante no cartão só sou informada se Daniel quiser que eu saiba.
Se Lily queria dizer algo ela devia ter sido mais clara e se estivesse em perigo teria pedido socorro de modo mais eficaz. Toda essa bagunça só servia para me deixar preocupada. Ela estava sendo coagida? Precisava de ajuda e não queria nos envolver? Estava tudo bem e ela só exagerou? Foi um engano? Eram tantas questões e nenhuma resposta que dava vontade de sair gritando, ou melhor, contar para mamãe e Conrado para que eles resolvessem seja lá que problema ela tenha começado.
- Bem feito, eu disse para ele que não ia procurar uma pessoa desaparecida e sim que ia caçar uma Valentino, mas ele zombou de minha opinião – Daniel expressou seu convencimento antes de voltar á formalidade – Ângela Sandoval te apresento minha irmã Eddie de quem falávamos.
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Piloto Automático
RomanceEdith não tem nada contra o amor, só preza mais pela sua liberdade. Pelo menos é o que ela vive dizendo para justificar seu desapego ao romance. Victor Hugo é um workaholic que se colocou em celibato depois da morte da esposa e do filho. Nenhum del...