10 - Victor Hugo

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Ainda estou me perguntando por que digo sim para dona Ângela antes de saber o que ela quer de mim. Estou na casa de Carlos Amarillas morrendo de tédio ouvindo música clássica instrumental que está me dando dor de cabeça, eu nem sabia que minha mãe era amiga deste homem, eu mal sei os nomes de nossos vizinhos e realmente não esperava ser convidado para a casa de um deles alguma vez em toda minha vida.

Para compensar a música ruim pelo menos há boa bebida e Deus sabe que eu preciso de muita bebida para suportar a companhia irritante de Sophie, a prima de Fábio que veio como sua acompanhante e está flertado comigo a tempo demais para meu gosto. Sophie é muito linda, loura de olhos verdes e pele branquinha, tem um corpão com curvas perfeitas, tem presença e intelecto para ser uma companhia agradável, mas é mimada e não aceita "não" como resposta.

Procuro minha mãe com intuito de usar meu inicio de dor de cabeça para me safar dessa festa sem sentido, mas meus olhos chocam com duas pessoas que acabam de entrar. Uma mulher jovem e roliça usando um vestido multicolorido de alças que se molda ao corpo curvilíneo a deixando sensual, sensualidade que contrastava com o rosto de aparência angelical. E ao lado dela, Edith.

De vestido preto curto e esvoaçante ela andava com a confiança de quem conhece o caminho que segue e diferente de sua amiga que sorria enquanto olhava para os lados de um modo quase fascinado, Edith estava séria e apenas virou a cabeça de um lado para o outro antes de escolher uma direção e ser seguida pela amiga que ainda espiava tudo com uma expressão quase infantil de quem está descobrindo algo novo.

Elas param perto de dois homens mais velhos, um deles eu sei que é escritor por que minha mãe quase se derreteu ao vê-lo, parecia uma daquelas fãs adolescentes de boy bands que ficam histéricas quando coloca os olhos num de seus ídolos. Fazer o que? Dona Ângela é louca por romance policial e um bom suspense cheio de reviravoltas, o que parece ser o gênero escrito pelo homem que abraçou e beijou Edith no rosto.

- O que está olhando com tanto interesse? – reviro os olhos para o excesso de suavidade que Sophie emprega ao falar comigo.

- Procuro minha mãe, solte meu braço, Sophie.

Ela se agarrou a mim como se tivesse tentáculos, o cheiro de seu perfume invade meus sentidos e gemo de frustação por estar nesta situação. E ela entendeu isso de modo errado e praticamente se esfrega em mim.

- Podemos encontrar um pouco mais de privacidade, Victor.

Estremeço de horror pelo modo com que pronunciou meu nome acentuando-o vi-qui-torr. Sou obrigado a me afastar dela com um pouco de grosseria para que ela entenda logo que não vai acontecer nada do que ela quer entre nós.

- Me deixa em paz, Sophie, vá procurar um homem que te queira.

Ela abriu a boca e olhou para o lado, constrangida, antes de voltar sua atenção para mim, não gostei de como estava me olhando.

- Eu quero você Victor, os homens que me desejam não são nem a metade do que você é.

- Mas tenho certeza que um deles tem o que você precisa, vá atrás deles.

- E como sabe o que eu preciso? – ela ronrona voltando a aproximar nossos corpos e felizmente sou salvo por Fábio que aparece nesse momento.

- Vão procurar um quarto – ele brinca – Não estou a fim de ver minha prima sendo fodida no meio da festa alheia.

- Não se preocupe com isso, priminho, seu amigo não é homem suficiente para me foder – ela me ofendeu.

Minha dor de cabeça esquecida voltou como uma bomba explodindo meu cérebro. Fechei os olhos, não sei o que é pior, ser ofendido por uma oferecida que dispensei ou ter que aguentar as piadas de Fábio sobre minha masculinidade. Felizmente vejo minha mãe se aproximando do grupo onde Edith está e resolvo ir até ela, mas antes aviso meu amigo que ainda ri do último comentário feito sobre minhas partes baixas.

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