Epílogo

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Era o primeiro aniversário de Angelina, a filha do tio Hugo que só era tio por ser casado com a tia Ed que era sua tia duas vezes por ser irmã mais velha do papai e da mamãe. Não que qualquer dessa explicação complicada fizesse sentido para Iago que no momento só estava interessado nos docinhos.

Para um menino de cinco anos e meio – como gostava de enfatizar – nada fazia muito sentido. Sua família parecia ser grande e numerosa cheia de parentes verdadeiros e tios e vovôs que não eram parentes de verdade, e agora uma prima.

Não é que ele não gostasse de Angelina, para um bebê que andava de gatinhas balbuciando, babando e derrubando tudo o que conseguia alcançar, até que ela era suportável, mas preferia que fosse um primo de sua idade com qual pudesse brincar e soubesse responder com palavras quando falava com ele.

Mas não se pode ter tudo o que deseja, ele conhecia a lição. Vovó Babi estava ensinando para ele lições importantes para fazer dele um homem de bem, ainda que Iago achasse que ia demorar um tempão para ele virar homem, seu pai era homem e tinha mais idade do que Iago sabia contar – e ele já contava até cinco, dedinho por dedinho.

Ele tinha aprendido essa lição sobre não poder ter tudo por que pediu ao papai Noel que a mamãe voltasse para casa. Ele ganhou um papai e perdeu a mamãe, isso era triste, achava. Ninguém contava por que ela foi embora ou para onde foi, apenas que tinha saído o deixando com seus avós e nunca mais voltou, nem ligou.

- Iago, não fique ai, venha – seu pai o chamou quando se aproximava da janela aonde sentava e olhou para fora procurando alguma coisa na rua.

Daniel tinha passado o dia com a impressão de estar sendo observado, devia estar ficando paranoico por que não via nada de errado para onde quer que olhe. Carregou o filho para longe da janela ainda com a impressão de que alguém o olhava.

Se Daniel ou Iago pudessem ver através do metal e fixassem sua atenção para o carro azul estacionado debaixo do poste no outro lado da rua teriam visto uma jovem de aparência abatida de quem está se recuperando suas forças. Não que qualquer um deles fosse reconhecê-la no primeiro momento.

Havia passado por várias cirurgias estéticas em pouco tempo, havia perdido muito peso ganhado outra silhueta, seus traços foram harmonizados a deixando com aparência mais madura e muito menos parecidos com ela mesma. E se a dupla de pai e filho fosse capaz de ver além da aparência, não veriam naqueles olhos marrons a moça que outrora fora doce e amável ainda que teimosa e mimada.

O pouco tempo que havia passado desde que fugiu movida pela vontade de ser livre buscando um ideal de felicidade, tinha a tornado outra. Seu coração havia enchido de ressentimento contra seus parentes, assim como a inveja tinha corroído seu afeto por sua irmã. A amargura de ter escolhido um sonho em vez do filho á quem tanto se dedicou teria minado suas emoções se cada sentimento bom que na adolescência floresceu em seu ser. Mas para cada boa coisa que um dia sentiu, uma má foi plantada no lugar.

Ainda que Daniel ou Iago a vissem não a reconheceria.

A mulher recostou de volta no assento confortável e ordenou que o motorista a levasse para o aeroporto, depois de meses abaixo do radar da irmã, da policia e de Gael, ela finalmente podia se mover livremente.

Ela havia se escondido, sim, mas agora não estava em fuga. Era apenas uma retirada estratégica, ela voltaria em breve pelo filho e para destruir aqueles hipócritas que apontavam contra ela enquanto a própria moral afundava em um lamaçal de crimes hediondos.

Os lábios se curvaram na sombra de um sorriso quando pensou em Edith brincando de casinha com seu executivo bonitinho, ela que aproveitasse essa brisa de felicidade por que em breve cairia sobre ela uma tempestade de verdades sangrentas.

Mal via a hora de seu retorno triunfal.

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Da autora:

E é aqui que me despeço de vocês...

Obrigado por acompanharem a jornada não-tão-romântica deste casal.

Eddie não é uma pessoa fácil e Victor Hugo teve seus momentos de completa estupidez, mas...

O amor é cego – e um tanto quanto desmiolado.

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