57 - Edith

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- Não vai mesmo me contar?

- Nem sob a pior das torturas.

- Alguém sabe?

- Para você arrancar a verdade desse alguém? Não banque o bobo, conheço as regras, sem pontas soltas.

- Mas Jô e Cris sabem de algo, você estava planejando com eles antes de ir encontrar seu namorado.

- Ex-namorado e, o casal sabe apenas que eu estive com Fábio, qualquer prova que eles tenham sobre isso implica apenas que capturaram e me entregaram o homem.

- Eddie, o que foi que você fez com o cara?

- Chega de suas perguntas, Gabriel, oficialmente Fábio é um foragido, aceita. Agora sobre minhas férias, estou liberada?

- Não até que me diga o que fez com ele.

Na verdade a situação é bem mais simples do que fazemos parecer, não é como se Gael pudesse mesmo me impedir de fazer qualquer coisa ou me compelir á agir contra minha vontade. Concordo que na maioria das vezes sigo suas ordens quase que cegamente, não opinando contra ou questionando suas razões, ele é meu chefe e ponto.

Meu chefe apenas na boate.

Comecei trabalhando com ele aos dezenove anos quando ele me chamou para fazer algo arriscado e carecia de alguém que fosse ágil ao mesmo tempo em que tivesse a capacidade de estar prestando atenção ao seu redor, de sair ilesa de uma situação perigosa sem precisar de uma equipe de resgate.

Eu sabia que Gael tinha lá seus segredos e por muito tempo pensei que ele fosse gay e tivesse vergonha de admiti-lo ou que saia com alguma mulher casada por que havia vezes que ele do nada tinha que ir viajar ou atendia ligações que o obrigava a se afastar e falar baixo demais. Nunca imaginei que por trás do dançarino notável houvesse algo como um ladrão especializado em falsificação de artefatos.

Entrar no escritório de alguém me passando por candidata á estágio para trocar alguns documentos de um arquivo que seria destruído foi moleza. Difícil foi saber que tais arquivos tinham ido parar nas mãos de jornalistas de vários canais de televisão que não hesitaram em denunciar um caso de fraude em licitações públicas.

Eu podia ter sido pega, podia ter me dado mal. Gael havia dito que eu estava tendo uma crise histérica por nada, que ele tinha sido contratado e o serviço foi concluído com sucesso graças a minha ajuda. Que serviço e contratado por quem? Ele nunca me disse, na verdade poucas vezes ele diz quem contrata seus serviços.

Ele ter me convencido a roubar não foi lá grande surpresa, Gael é muito bom em conseguir o que quer sem se rebaixar á chantagem – precisei de muita pratica para ver quando ele está jogando comigo e pará-lo antes de ser envolvida nos seus joguinhos. A grande surpresa foi quando meses depois ele me chamou para outro trabalho eu fui sem nem hesitar.

Naquela época eu estava na faculdade de dança, meus planos era abrir uma escola de dança assim que formasse, tinha até escolhido o local onde abriria a escola, uma antiga loja que depois de reformado daria um salão espetacular. É claro que meus planos foram se dissolvendo á medida que eu me envolvia no submundo do crime, com todos os segredos e trapaças.

O bizarro é que só depois de começar a me incomodar com a inclinação com que alguns acatavam minhas opiniões como se fossem ordem e como muitos me chamavam de chefe, é que Gael me contou sobre Eddie Valentino, sim, eu já tinha ouvido sobre este suposto criminoso. Aos vinte e um anos eu já tinha ouvido e visto de tudo, achava que nada podia me surpreender.

Eddie Valentino não era um xará meu. Até então, eu pensava que era homônima de um mafioso, chefão de alguma organização criminosa na qual a polícia não conseguia colocar as garras. Nada disso. Eddie Valentino, o negociador, como chamavam, era apenas uma ficção criada para manter os narizes intrometidos noutra direção, um nome artístico se preferir.

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