- Dance comigo.
Dante me levou pelo cotovelo para o espaço livre na sala que era obviamente uma pista de dança sem utilidade já que não dava nem para imaginar alguém dançando aquela música, a menos que estivéssemos num filme de época a lá Jane Austen. Mas á quem quero enganar? Adoro dançar e quando o parceiro sabe conduzir nem ligo se estou sambando ao ritmo de lambada, e como devo ter mencionado Dante é um pacote completo de homem perfeito, nisso inclui saber dançar, tocar instrumentos e cozinhar.
- O que estão aprontando, Eddie Valentino?
Engulo em seco, Dante tem uma tendência estranha a chamar as pessoas pelos nomes e ouvi-lo usando uma alcunha é de causar calafrios.
- A que se refere? – faço-me de sonsa.
- Sua presença em plena quinta-feira numa festa como esta e ser apresentada como Eddie Valentino para o dono da casa quando esse nome é sussurrado feito uma praga mortal e se isso não bastasse você parece conhecer Gabriela Freitas.
Enganar Dante para que ele me pressione até ter o que quer ou ir direto ao ponto e me livrar dele? Claro que o caminho mais curto.
- Eu não tenho nada haver com seja lá o que Catarina está planejando e ela devia ter fingindo nunca ter me visto na vida. É a regra e não tenho culpa se ela passou por cima disso.
- Então sugiro que você vá embora e leve sua irmã.
- O que? Eu nem fiz nada.
- Gabriela Catarina seja lá quem ela finge ser é uma caçadora de recompensas atrás de vingança pela família destruída por Luís quando ela era pouco mais que uma pré-adolescente, eu conheci Luís e tivemos altos e baixos até que as diferenças acentuou uma inimizade profunda e irreversível.
- Por que me disse isso? – perguntei depois de várias voltas em que ele ficou calado demais para meu interesse.
- Por que não fui convidado por Luís, fiquei curioso pelo convite e o questionei sobre. Ele pensou que tivesse sido algo aleatório, afinal sou casado com um dos escritores mais renomados do país.
- E não foi por isso?
- Até dez minutos atrás eu pensei que sim, então vi a caçadorazinha desfilando ao lado dele e ela teve a ousadia de apresentar Eddie Valentino á um criminoso que é tão autoconfiante a narcisista que se pavoneia sem notar que leva no braço um cesto de víbora.
Levei duas voltas perfeitas e um olhar na direção de minha irmã que olhava com interesse para o casal anfitrião que vinha na direção da pista de dança para entender o que Dante estava sugerindo.
- Aquela quenga estúpida está planejando nos usar como bode expiatório para seja lá que ato vingativo vai acontecer esta noite – Dante assentiu com um sorriso frio – Eu amo que Catarina tenha uma mente tão ardilosa e cruel, mas não gosto de ser usada.
- Ninguém gosta Edith. Vá embora e leve sua irmã.
- E deixar você e papai em seja lá que teia o projeto de viúva-negra está tecendo?
- Fico tocado por sua preocupação, mas sei me defender e Alessandro não é tão indefeso quanto aparenta.
- Desculpe, mas eu fui tirada do status de filha do escritor renomado para Eddie Valentino e se você conhece a reputação deste personagem então sabe que meu álter-ego só responde á uma pessoa.
- Você sabe que se eu falar para Alessandro a razão por qual Luís te olhava como se você fosse um banquete para um faminto, ele vai te arrastar daqui ligar para Barbara e antes da meia-noite você estará sendo trancada em algum lugar remoto sem contato externo, não sabe?
- Você sabe que eu posso ligar para Gael e antes que você termine de explicar para papai quem é Eddie Valentino já estarei fora do alcance de todos, não sabe?
Ele sorriu com diversão e orgulho refletido no gesto.
- Sei perfeitamente de quem é a sombra projetada pela luz dos holofotes que cega os espectadores maravilhados pelo ilusionista no palco.
Ri. Ele tinha citado uma fala de um dos livros de papai na qual o protagonista procura desvendar um crime ocorrido durante um programa de TV ao vivo quando uma assistente de mágico é assassinada na frente de todos que pensam ser parte do truque de ilusionismo. Os livros que papai escreve são tão sanguinários que deixaria até o conde Drácula enjoado de sangue.
- Isso significa que não vai me persuadir á ir embora?
- Você é responsável por seus atos, só tome cuidado.
- O mesmo vale para você, tio – encerro a conversa no momento que a música acaba.
Voltamos para nosso pequeno grupo que agora contava com a presença de um casal, uma loira com aparência de estrela de cinema para papéis de donzela em perigo á espera do príncipe encantado e ares de gêmea má de novela mexicana e, um homem que eu reconheci como o loiro alto e engravatado que vi no elevador com Victor dias atrás. E falando no meu moreno sexy que está muito elegante com um visual "homem de negócios á paisana", percebo seu incômodo pelo agarramento descarado da loira ao seu braço.
Papai e Ângela estão seguindo para a pista, onde, depois que Luís Carlos e sua noiva traiçoeira, brilhante e psicótica se juntaram a mim e Dante, os outros convidados resolveram que também queriam usar. A versão vilã de novela de princesa da Disney deu uma secada em Dante que olhou através dela como se esta fosse a mulher invisível, depois se virou para mim olhando-me dos pés á cabeça. Oh, garota tola.
- Vamos dançar Victor?
Eu podia ter deixado passar, podia sim, mas ela estava me olhando com aquela superioridade asquerosa de gente que se acha melhor que as outras quando não passam de vermes rastejantes. Ergui o queixo sem me dignar a retribuir aquela lenta analise cabeça-ao-pé cheio de pré-conceito e preconceito, até por que eu já tinha descoberto mais do que o necessário nos trinta segundos entre o momento em que a olhei e o instante em que a vi.
- Na próxima – eu disse antes que Victor pudesse responder ao convite dela – Hugo já tinha me chamado antes.
Eu não gostei de como ela pronunciou Victor arrastando as letras quase como um gemido. Ela piscou parecendo chocada por eu estar falando com ela, então sorriu para Victor ainda se agarrando a ele mais ainda, embora parecesse impossível.
- Victor pode dançar com você outro dia – ela sorriu com o que eu supus ser um sorriso sedutor – Eu amo essa música.
- Então dance com Fábio – Victor disse praticamente a empurrando para o loiro alto que nos observava impassível.
Olhei para Mortícia que sorria como se estivesse controlando o riso e para Dante que estava constrangido com a cena, embora disfarçasse olhando para os casais dançando. Meus instintos diziam que aquele tal Fábio era problema com "P" maiúsculo numa colossal placa de neon cercado por outras inúmeras placas onde se lia palavras como: cuidado, perigo, não se aproxime.
Victor segurou minha mão e antes que ele me levasse para junto dos dançarinos, o puxei para outro lado, ele devia estar com tanta vontade de se livrar da loira pegajosa que me acompanhou sem oferecer resistência alguma. A mulherzinha irritante ainda teve a audácia de nos questionar enquanto nos afastávamos:
- Aonde vão? A pista de dança é ali.
- Ela não disse que ele tinha a chamado para dançar – ouvi a resposta zombeteira de Mortis – Ele apenas a chamou e ela respondeu.
- Onde fica a saída disto? – sussurrei olhando para os lados.
- Vem comigo – Victor me guiou através da sala.
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Roman d'amourEdith não tem nada contra o amor, só preza mais pela sua liberdade. Pelo menos é o que ela vive dizendo para justificar seu desapego ao romance. Victor Hugo é um workaholic que se colocou em celibato depois da morte da esposa e do filho. Nenhum del...