53 - Edith

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Foi de proposito que demorei para chegar ao ponto de encontro á noite, Victor já estava lá á espera, sua postura tensa teria sido divertida se aquele encontro secreto fosse do modo que tínhamos suposto que seria horas mais cedo, quando não sabíamos a razão por qual estaríamos ali – ainda não era certo a razão, apenas uma suposição.

Estacionei um pouco depois dele, passei a bolsa pelo ombro antes de descer do carro e fiquei com o celular na mão. Dei uma olhada dei uma olhada ao redor, para as árvores que formava um corredor longo na estrada que levava á boate. Um lugar bem incômodo para se marcar um encontro á altas horas num dia onde o ponto mais movimentado da região estava fechado.

- Sabe que se torna um alvo fácil exposto desse modo, não sabe? – ele estava escorado no carro com braços cruzados.

- Pensei que não viria mais, por que demorou tanto? – meia acusação, meia desconfiança.

Só estava dez minutos passando da hora marcada, dei de ombros.

- Estava planejando uma fuga espetacular.

Ou elaborando o que podia ser a cena de um crime imperfeito, depende do ponto de vista. Depois dessas entradas ficamos calados por longos, desagradáveis e constrangedores minutos, parados um ao lado do outro olhando casualmente para os pontos de saída da armadilha que nos colocaram. Ambos estávamos mais impacientes pelo atraso de quem tinha orquestrado aquilo do que tentados a iniciar uma conversa.

O estranho da situação era que não havia estranheza alguma, ao menos da minha parte, eu estava bem a vontade em ficar calada esperando pela sequência. Já não tínhamos mais o que conversar, não depois de como tudo acabou entre nós. Eu havia colocado o ponto final na nossa história e o ignorado até que sua ficha caiu e ele desistiu de uma vez. O impulso de ir conversar foi meu, eu quem quebrei o gelo que tinha colocado entre nós dois.

- Por que vocês construíram uma casa noturna no meio do nada? – a pergunta de Victor rompeu nosso silêncio.

- Gael não queria vizinhos para atrapalhar os negócios e aqui havia esta fábrica desativada, ele procurou pelos antigos donos e comprou.

E todo o espaço ao redor ele comprou da prefeitura para transformar numa espécie de bosque que conta com trilhas, escadas nas árvores e sensores de movimento que sem nenhuma surpresa servia mais para vigiar atividades humanas do que a vida selvagem – aposto que se as pessoas que invadem o espaço imaginassem que estão sendo monitoradas, não fariam tantas coisas erradas como urinar nas árvores ou descartar uma caixa com filhotes de gatinhos ou fazer sexo ao ar livre.

Há três modos de chegar á boate. Pelo bosque, cuja entrada principal fica perto de um posto de gasolina do outro lado, mas são poucos que usam com intenção de vir á boate por que ninguém quer atravessar um matagal de noite á pé. Há uma rua estreita que contorna o bosque e para direto no estacionamento, o problema desse é que só tem espaço para carros pequenos dispostos em fila indiana se o motorista não ligar com buracos e possíveis assaltantes á espreita.

E a entrada oficial na qual você sai da cidade e pega uma estrada de terra cercado por um corredor de árvores até chegar á um prédio antigo que parece cenário de sci-fi de baixo orçamento, some á isso o fator noite e a ausência de "vizinhos". Ao menos quando a boate está funcionando á uma grande movimentação, quando fechamos é tudo muito... desértico. Sem exageros, mas o lugar é mesmo inquietante e isolado demais.

- Estão chegando – informei depois de ler o recado no celular.

Victor olhou com ligeira desconfiança.

- Está em contato com eles?

- Não. Alguns conhecidos estão mapeando a região com drones, ao menos é a versão oficial para explicarem a presença deles onde não deveriam estar.

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