Um amor improvável (Keigo Takami/ Hawks)

Amava?

Pov Keigo

Pude ouvir a voz de quem chegou, aparentemente era a voz do primo menor de Aiko, o Shouto. Ela meio que o criou já que ele quase não teve a presença da mãe e do pai.

Eu já não estava bravo, mas ainda estava terrivelmente animado, meu amigo não me deixava em paz. Ele latejava em desejo e por um momento só queria que Shouto tivesse chegado mais tarde.

Me fiz de sonso com tudo isso e tentei dormir, não que eu fosse conseguir, já não conseguia sem estar assim, imagina desse jeito.

Uma meia hora depois Aiko entrou no quarto, mas não era pra continuar de onde paramos, ela se vestiu e me convidou para tomar café.

- Keigo, se veste e vem comer, agora.
- Que delicadeza.
- Não tô no clima pra piadinha, anda logo._ com isso ela saiu do quarto.

Eu já não estava em situação deplorável, mas não parava de pensar nisso. Aiko parece abalada, então decidi não desobedecer.

Me vesti rapidamente e fui até a cozinha. Chegando lá vi que a situação não tava nada legal, Shouto parecia que tinha sido atropelado por um caminhão, não muito diferente de mim, que estava com a cabeça começando a doer por causa da bebedeira.

A diferença era que Shouto estava cheio de ferimentos e hematomas.

- Senta aí. Tem coisas pra tomar café, e um resto de Yakisoba, o que você quer comer?
- No momento um remédio pra dor de cabeça cairia bem._ ela se levantou e saiu da cozinha.
- O que você tá fazendo aqui?_ Shouto me perguntou olhando fundo em meus olhos enquanto comia.
- Sua prima me arrastou até aqui depois que eu liguei pra ela bêbado em um bar extremamente perigoso.
- Por que estava bebendo?
- Por quê? Bom...sinceramente não sei o que se passou na minha cabeça quando fiz isso. Você não bebe?
- Não quero ficar que nem meu pai.
- Como assim?
- Ele fica mais agressivo que o normal quando o faz, não quero ser assim, não quero machucar as pessoas que amo.
- Sinto muito...
- Não sinta, eu tô bem agora, Aiko vai cuidar de mim, ela sempre cuida de mim._ ele me deu um sorrisinho e Aiko voltou pra cozinha.
- Toma aqui._ ela estendeu pra mim um kit com dois comprimidos, um líquido amarelo e um saquinho de Eno.
- Pra que isso tudo?
- Pra ressaca, confia em mim. Dois engov, um epocler e um Eno sempre resolve.
- Você tá acostumada a beber?
- Todo mundo já foi adolescente.

E foi aí que fiquei intrigado, Aiko nunca bebia em festas comigo, nunca mesmo.

Ela nunca saía sozinha, então onde é que ela ficava bêbada?

- Não tente achar resposta, Keigo, eu sempre arrumo saída pra tudo.
-Aiko é a única pessoa que quando bebe fica emotiva, ela deitava no chão do meu quarto e ficava dizendo "AAAAAAA ele nunca vai me amar"_ disse o Shouto rindo e se levantando para lavar sua vasilha.
- Pode deixar a vasilha aí, Shouto, eu lavo depois.
- Não tá tudo bem, eu lavo.
- É mesmo Shouto, mais o que ela falava?
- Não se atreva, para de ser curioso.
- Nem você se lembra disso, tenho certeza que quer saber.
- Não, não quero não. Vou me arrumar pra me encontrar com minha planejadora de móveis para que ela veja qual seria a melhor combinação pro quarto do Shouto, se comportem aí. O café tá na garrafa e tem comida no armário, Keigo._ E então ela saiu.

Assim que ela saiu Shouto olhou bem nos meus olhos e começou a falar.

- Keigo, você é muito bobo, e sempre foi muito lento.
- O que você quer dizer com isso?
- Tá vendo? Você foi amigo dela por 3 longos anos, e logo depois ficou 4 anos sem ver ela, e em nenhum momento passou pela sua cabeça que sua melhor amiga era perdidamente apaixonada por você?_ enquanto ele falava ele ia pegando comida no armário para servir a mesa.
- Como você sabe que ela era apaixonada por mim?
- "AAAAA ele nunca vai me amar" "Por que ele não percebe que eu amo ele?" "Até quando ele vai me tratar só como uma amiga? Shouto eu não aguento mais isso." Sabe de quem ela tava falando?
- Quem?
- Você. Era você quem atormentava os sonhos dela. Era você, era sempre você.
- Claro que não, deve ser outra pessoa.
- É mesmo? Até então não vi ela com ninguém se não você.
- A gente não tá junto, você sabe né? Ela se esqueceu de mim.
- Sabe quando ela entrou em coma pela primeira vez por causa dos poderes?
- Sim, mas eu não pude estar perto, seu pai me proibiu de entrar lá.
- Ela acordou te procurando, ela acordou chorando muito, e tudo que ela queria era você, ela só queria ver você. E sabe quais foram as palavras que ela me disse quando estávamos só eu e ela no quarto nesse mesmo dia?
- Quais?
- "Eu te disse que ele não me amava, Keigo nunca vai me amar, ele me disse, ele disse pra mim que o Keigo só tá brincando comigo".
- Quê? Quem disse?
- Eu perguntei pra ela também, mas ela só disse "O homem sem rosto"
- Homem sem rosto? Quem é esse?
- Não sei, mas acho que foi algo que aconteceu enquanto ela tava sem consciência. Faz sentido, já que ela falava "Me diz que é mentira, me diz que é mentira! Keigo nunca faria isso." E coisas do tipo enquanto dormia.
- Nunca ia pensar que ela achava isso de mim, não era verdade, eu me apaixonei por ela desde o primeiro momento e continuei apaixonado por sete anos...ainda sou apaixonado por ela.
- Ela passou anos apaixonada por você também, ela ainda é apaixonada por você, só não sabe disso, mas no inconsciente dela ela não consegue controlar.
- Ela te disse isso?
- Ela não precisa, sei o que ela sente só de olhar, da mesma forma que ela sabe também o que eu sinto.

Como eu nunca percebi isso? Como eu nunca vi que ela podia gostar de mim? Em todo momento eu estava com medo de me machucar, de estragar a amizade, mas se tivesse arriscado, se eu tivesse dito o que sentia, talvez isso não tivesse acontecido.

Talvez ela não tivesse se esquecido de mim.

Então, com esse pensamento, tomei meu café, e fui embora depois de me despedir de Shouto.

Isso não saia da minha cabeça, por que tão frouxo? Se eu já fiquei 4 anos sem a amizade dela? Se no último ano eu já havia decidido sair da vida dela, por que não me confessei??

Eu me arrependo amargamente por isso, já me arrependia antes, agora me arrependo mais ainda.

O vazio retornou, estava tão bom o momento que eu estava com ela que até me esqueci de que já havia sentido esse vazio.