Ferimentos

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[Aviso de gatilho: auto mutilação e depressão]

- Não é nada demais, foi só um incidente na cozinha._ Aiko disse enquanto escondia os braços com a manga da blusa.

Com isso reparei em outra coisa, Aiko estava sempre com uma blusa de manga comprida, mesmo que mais fina. Até mesmo seu uniforme de heroína havia também luvas compridas que chegavam até seu cotovelo.

- O que anda se passando?_ eu a perguntei realmente preocupado.
- Nada, meninos, podem ficar tranquilos. Foi realmente apenas um incidente na cozinha.
- Aiko, tem cicatrizes de tempos aí. Você não tá bem!_ Shouto disse dessa vez.
- Sinceramente, sei que não vai realmente nos contar a verdade. Mas você sabe que a gente tá aqui pra você né? Assim como você sempre está para nós.
- Se você precisar conversar pode contar com a gente.
- Eu tô bem, gente...
- Eu acho que você deveria se abrir, faz muito bem falar, não ache que falar é algo fútil. É bom que fale para que a gente possa te ajudar de alguma forma._ disse a incentivando a falar.

Percebi que ela hesitava em falar. Shouto a analisava por completo, assim como eu fazia. Aiko respirou fundo e se pós a falar.

- Desde que perdi a memória uma dor terrível de angústia e um vazio enorme tomaram conta da minha vida. Me da uma vontade enorme de morrer, a vida toda estou sempre sofrendo com algo, e agora que havia passado vem isso de novo. Está difícil aguentar e eu fiz isso pra amenizar a dor emocional com a dor física.

Nenhum de nós ousou dizer uma palavra se quer, Aiko continuou falando e era perceptível que quanto mais ela falava menos pesado tudo aquilo se tornava para ela. A postura dela ia se tornando menos tensa e as palavras saiam com menos dificuldade.

- As cicatrizes antigas são da época que eu morava com os Todoroki, houve uma época em que eu realmente cogitei a possibilidade de acabar com tudo. Eu já tinha tudo planejado, mas nesse mesmo dia eu fui aprovada na U.A. _ de repente lágrimas começaram a escorrer por seu rosto e eu pude ver o quão doloroso falar daquilo novamente era pra ela. - E o meu medo, Shouto, sempre foi que o mesmo acontecesse com você. Por isso que assim que tive a oportunidade de sair eu quis te trazer comigo. Eu morria de medo de um dia abrir o noticiário e ver você lá. Por isso estou feliz que agora tenha vindo para cá._ ela olhou para mim desta vez antes de continuar a falar. - Me dói também, Keigo, que eu sei que você é uma das pessoas que mais me ajudou naquela época, mas eu simplesmente não consigo lembrar nada. Eu sinto que não é justo com você que eu o mantenha aqui comigo, sendo que a nossa história foi apagada de minha mente. É muito lindo que apesar de tudo você queira me ajudar, mas me sinto culpada por tudo isso._ ela respirou fundo novamente, secou suas lágrimas o silêncio se fez por uns minutos antes que ela continuasse. - Mesmo com tanto tempo ainda me sinto culpada pela morte de minha mãe, ainda me sinto culpada por meu pai me deixar e se tornar um vilão, me sinto culpada por tudo que o Eiji fez comigo e me sinto culpada por deixar que aconteça com o Shouto o mesmo. Me sinto mal por me esquecer do Keigo, me sinto mal por não ter mais minhas indicidualides e não poder trabalhar. Me sinto mal por estar dependente de proteção por ser incapaz.

Aiko não conseguia mais conter suas lágrimas, mas era perceptível que ela precisava disso. Era tanta coisa que eu nem imaginava que ela sentia, que eu percebi que sempre fui muito egoísta com ela.

Era sempre eu com problemas, era sempre eu pedindo ajuda, sendo que a Aiko que mais precisava de ajuda. Ela precisava de mim, mas eu estava cego demais com meus próprios problemas pra poder ajudá-la.

Aiko sempre estava com algum hematoma, e sempre que eu a questionava ela dizia que os roxos ela havia adquirido com o treino de luta e os ralados nos joelhos cotovelos ou até mesmo no rosto ela dizia que ela havia caído no treino de vôlei. Acho eu que a única coisa que ela realmente fazia por que tinha vontade era o vôlei. Já que o treino era só para se mostrar capaz de algo a mais, mesmo com a sua individualidade.

- Eu não fazia ideia do que acontecia com você naquela casa, e tudo que eu posso fazer é me desculpar por estar tão cego com meus problemas que não reparei em você. Sempre cheia de ferimentos, e com aquele repúdio enorme pelo Eiji.
- Você não tinha como imaginar, Keigo. Aiko sempre guardou isso para si, nem eu sabia do que o pai fazia com ela, até que começasse a acontecer comigo._ ele parou de olhar para mim e se virou para a Aiko. - Aí que tá o problema, tudo isso fez com que você pensasse que a melhor decisão a se tomar era guardar tudo para você. Você sempre se mostrava muito durona, e eu a admirava tanto por isso, não sei como nunca percebi que era uma armadura para não ferir os outros com os seus problemas. Você é muito forte, Aiko.
- Não sei como eu sempre caia com aquelas desculpas para os machucados. Nunca que o vôlei poderia fazer com que você se ferisse tanto, nem mesmo a luta poderia te deixar com tantos roxos pelo corpo. E as blusas de manga comprida que você nunca tirava nem quando ia nadar, eu devia ter imaginado. Me desculpa por não poder te ajudar na época, mas eu tô aqui agora. E não quero que você se culpe pelo o que aconteceu, eu estou aqui porque gosto de você, porque quero você por perto, não por alguma obrigação ou coisa do tipo.

Ela se pós a chorar mais que antes, e eu e Shouto nos levantamos para abraçá-la, como se tivéssemos entrado em um consenso silencioso enquanto nós encaravamos.

Eu errei bastante em não reparar nos olhares triste, nas desculpas esfarrapadas, no repúdio dela por Eiji, nas blusas sempre compridas por mais que estivesse fazendo 40 graus. Mas agora eu estava aqui, e ainda bem que estava. Eu não fiz antes, mas farei agora, ela sempre me ajudou e eu não vou deixá-la na mão agora.

- Escuta, Aiko, isso tudo vai passar ok? Você tem eu, Shouto e Rumi ao seu lado, a gente sempre vai tá aqui pra você. Sempre que precisar conversar você pode falar comigo. E sobre esse vazio e angústia, a gente vai aprender a lidar juntos, tudo bem?_ ela me encarou como se tivesse entendido que naquele final eu não tivesse falado apenas da dor dela, mas da nossa dor, e por fim assentiu me abraçando com força.
- Obrigada, meninos, eu realmente precisava desabafar.

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Autora: Se você se sente mal constantemente, sem vontade de continuar, um peso para alguém, um vazio e angústia, pensamentos suicidas ou até mesmo desânimo para fazer coisas básicas. Procure ajuda. Você é importante, você é forte e o que você sente não é frescura. É importante que você procure ajuda de alguém que possa contar e melhor ainda se conseguir um profissional da saúde nesse caso.

A vida não é feita de felicidade, mas se você se sente triste com mais frequência que se sente feliz, procure ajuda! Você é capaz e merecedor(a) de felicidade e amor.

Se cuidem, benzinhos. E não se esqueçam que todo sentimento é válido. 💛

Um amor improvável (Keigo Takami/ Hawks)Onde histórias criam vida. Descubra agora