Your Voice, Mikey

e i g h t

— Tu é mó folgado, hein, Mikey — Draken reclamou enquanto carregava o amigo sonolento nas costas. Costume que tinham desde que eram pequenos.

— Poxa, Kenzinho. Não precisa reclamar tanto assim.

— Vai pedir pra Amber te carregar também?

— Não — ele bocejou alto e apertou a bochecha contra a cabeça do amigo. — Eu que carrego ela. Ela é a minha Bee.

— E por que eu tenho que te carregar?

— Porque eu sou seu Mikey — ele abraçou o pescoço do amigo e deu um peteleco na orelha, ambos riram juntos. Apesar das reclamações, Draken gostava daquilo. Se sentia como um irmão mais velho ou algo do tipo.

— Chegamos — ele falou assim que chegaram na frente da casa e Mikey escorregou das costas de Draken.

— Valeu, Kenzinho! — Manjiro se espreguiçou e deu mais um longo bochecho.

O sol começava a nascer e a brisa matinal era gostosa. Ken observou o amigo mais baixo caminhar na direção do portão e respirou fundo.

O conhecia bem o suficiente para saber o que se passava na mente dele, e não queria vê-lo sofrendo outra vez. Draken podia não ser bom com as palavras, mas se esforçava ao máximo.

— Mikey...

— Hã? O que foi?

— Não se afasta dela — Draken suspirou e cruzou os braços.

— Kenzinho...— o sono pareceu se dissipar rapidamente. Mikey ficou alerta, sentindo o coração disparar enquanto encarava o olhar severo do amigo.

Severo, porém carinhoso. Manjiro sabia que aquela era a forma de Draken demonstrar que se preocupava e se importava.

— Eu sei o que você tá pensando. Você vai querer se afastar da Amber pra evitar problema pra Toman, não é isso? — ele esperou, mas Mikey não respondeu. — Não faz isso.

— Kenzinho, isso pode ficar muito perigoso. Principalmente pra ela — a boca de Mikey pareceu ficar amarga repentinamente.

— Eu sei, mas eu também sei que se você se afastar e algo acontecer com ela, você nunca vai se perdoar. Eu sei que tem o conflito dela ser filha do Ryu, mas... nem ela sabe quem é o pai dela de verdade.

— Você acha que eu...? — Mikey parou por um instante, mas não conseguiu formular a pergunta. —  É, você tem razão — ele deu um sorriso enquanto olhava para o chão.

— Se alguma coisa for acontecer, não vai ser agora, então fica tranquilo. E não esquece que essa noite a gente tem um trabalho pra fazer com o Ryu, então vê se descansa um pouco. Tá parecendo um zumbi.

Eles se despediram e Mikey entrou em casa. Jogou a capa em qualquer lugar, tirou a calça e os sapatos ficando apenas de roupa íntima. Lavou o rosto no banheiro e então se deitou pra dormir, pensando no quanto queria ter Amber ali com ele.

[...]

— Depois dessa noite eu acho bom a gente contar uma grana preta — Baji colocou o capacete enquanto vociferava mal humorado.

— Ah, você pode falar o que for, mas não pode dizer que o Ryu paga mal — disse Chifuyu.

— Isso é verdade! — Pah concordou.

— Foco, cambada — Draken estalou os dedos, chamando a atenção dos amigos.

Todos ligaram as motos e se prepararam. O plano era simples: passar as pessoas pela fronteira e levá-las em segurança até o ponto de encontro. Na teoria tudo era fácil, mas a execução sempre dava problema.