28/02/2011
-Não quer tomar um chá? É camomila. -Perguntou a enfermeira Camila.
-Não, obrigada.
-Se quiser tem na cozinha, ok?
-Tudo bem.
Desde que a ficha tinha caído você tinha ficado completamente apática. De certa forma, ficava feliz por ter sido criada bilíngue, então não estava tendo tantas dificuldades com o idioma, só precisava de um pouco mais de prática. Ainda sim, sentia saudades de poder conversar no idioma nativo.
-Bom dia, passarinho. -Você sussurrou ao ver o pequeno pardal pousar no guarda-corpo da varanda.
Costumava passar os dias ali, apenas observando o tempo passar. Ainda sentia muitas dores, então não podia fazer muitas coisas, e não conhecia nada além do quarto em que estava, o banheiro do quarto, o corredor e a varanda.
Não sentia fome, a comida não parecia ter sabor, os cheiros não eram atrativos e o som das vozes de outras garotas também não te cativavam. Você só queria ficar ali, sentada na cadeira de balanço observando o tempo passar enquanto se lembrava de Mikey e da sua vida que fora arrancada de você a força.
-Como estão os ferimentos? -A enfermeira Minako era a única que falava japonês no local e não hesitava em usar o idioma com você.
-Fica latejando, mas não tá horrível igual antes.
-Em breve a gente tira esse monte de curativos e você vai poder ficar com o olho esquerdo à mostra de novo, mas vamos precisar tratar essa infecção que deu.
-Tudo bem. -Você continuou falando apática.
-[Nome], você precisa comer alguma coisa. Vai ficar doente.
-Meus pais ligaram? -Perguntou ignorando os conselhos da enfermeira.
-Não. Nós não temos contato com eles desde sua internação.
-Posso usar o telefone pra ligar pra eles?
-Sabe as regras da casa... além disso, aquele telefone só recebe ligações, não realiza.
-Porra...
Aquela era uma clínica de reabilitação isolada. Ficava no interior de alguma cidade que ninguém te dizia o nome. Não haviam vizinhos por perto, não haviam telefones ou celulares lá dentro. Rádios ou qualquer equipamento eletrônico de comunicação eram proibidos, e as televisões só eram usadas com aparelho de DVD, pois os canais não funcionavam. O objetivo do lugar era fazer as pessoas entrarem em contato umas com as outras e fugirem dos vícios do mundo, ficando completamente isoladas.
Um lugar perfeito para internar alguém e arrancar toda e qualquer chance que ela tinha de saber notícias sobre o mundo. Era como se tivesse sido arrancada do planeta e agora só existisse aquilo ali.
-Você gosta de ler? -Minako perguntou.
-Depende do livro.
-Tem uma biblioteca incrível lá embaixo. Devia ir algum dia.
-Outro dia eu vou.
-Tudo bem. -Ela suspirou e se levantou. -Nós só queremos cuidar de você, [Nome].
Você não respondeu. Apenas continuou encarando o horizonte vazio de sentimentos, mas cheio de imagens à sua frente. Não havia nada para falar.
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-Brigou de novo? -Perguntou o companheiro de cela ao ver Mikey entrar com o rosto vermelho.
-Não foi nada.
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Your Voice, Mikey
Fanfiction[Fanfic] [Tokyo Revengers] [Mikey] [+18] Depois de ser mandada para um internato fechado numa região tranquila de Tóquio, a vida de Amber ficou muito pacata... na teoria. Saideiras escondidas, encontros suspeitos e muitas festas na madrugada eram o...