s e v e n t y

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-Você tá viva mesmo! -Hanma riu bobo entre as lágrimas e afagou sua cabeça de leve, te abraçando ainda mais forte e enterrando sua cabeça no peito dele, como se fosse feita de pelúcia.

-Shuji... -Você fungou com o nariz e se afastou um pouco para poder olhar para ele, o rosto molhado e os olhos brilhantes pelas lágrimas eram tão gentis. -Eu tô viva!

-Fiquei com tanto medo. -Ele falou passando o dedo indicador pela cicatriz acima da sua sobrancelha e analisando cada detalhe do seu rosto com o olhar. -Não queria que você morresse.

-E eu não morri, porque você me levou pro hospital. -Você sorriu e ele deu uma risada tímida. -Obrigada.

-Eu sinto muito. Muito mesmo. -Ele te puxou de novo, te apertando firme como se você fosse se desfazer a qualquer momento. -Eu fiz tanta merda... porra.

-É, você foi aliado do Kisaki, o cara que tentou matar eu e meus amigos, mas... -Você riu sozinha pensando em como aquela frase era ridícula. -Ah, que se foda. -O abraçou de volta com toda força que tinha. Era tão bom estar ali. Tão bom! Se sentia confortável e aquecida.

Se pessoas fossem lugares, Shuji Hanma seria uma sala de estar com lareira, sofás confortáveis e cheiro de chocolate quente, com uma janela com vista para a tempestade que caía do lado de fora. Era exatamente assim que você se sentia quando o abraçava.

No fim, Shuji continuava sendo seu primeiro namorado de verdade. Apesar de Mikey ter sido seu primeiro amor na casa de praia, foi com Hanma que você teve uma relação de verdade primeiro. Querendo ou não, ele continuava sendo alguém importante no seu coração, por mais confuso que aqueles sentimentos fossem dentro de sua história.

-Se eu soubesse que você ia invadir minha casa eu tinha pelo menos varrido o piso. -Ele riu e você também.

-Não precisa. -Falou baixinho deslizando os dedos pelo moletom do braço dele.

-Como você veio parar aqui?

-Vem, deixa eu te contar toda a história.

Foram para a cozinha e Shuji tirou dois Cup Noodles da sacola. Você sabia muito bem que ele costumava comer dois daqueles sozinho, mas ele decidiu te dar um pra não ficar com fome. Enquanto preparavam, você contava tudo, cada detalhe. Desde o dia em que acordou no hospício vitoriano, até o momento em que chegou na porta dele.

Talvez você fosse demasiadamente inocente e sempre acabava falando demais da sua vida para os outros. Era uma mania que você não sabia controlar muito bem, mas acreditava em Shuji e confiava nele. Mesmo sendo aliado do Kisaki ele nunca deixou te machucarem. Ele foi traído pelo amigo e escolheu salvar sua vida ao invés de salvar a própria pele. Você sentiu que ele merecia um voto de confiança.

-Quanta coisa... -Ele suspirou pegando o macarrão com o hashi e colocando na boca.

-É... foi foda. -Seu estômago roncou e você se apressou em comer. Tinha falado tanto que a comida já estava quase fria.

-Eu não devia ter contado para o Kisaki sobre... -Ele falou, mas logo interrompeu a frase, encarando a mesa com vergonha.

-Shuji, tá tudo bem. -Você sorriu pra ele e viu o olhar sério de Hanma sobre si. -Eu tô bem sobre isso, você que precisa cuidar do seu coração agora. -Ele sorriu triste para a própria comida e um pequeno intervalo de silêncio caiu sobre vocês.

-Você pensa nele as vezes? Tipo, como seria sua vida se aquilo não tivesse acontecido? -Ele perguntou curioso, mas envergonhado ao mesmo tempo. Aquela dúvida o corroera por anos a fio, e ele finalmente teve coragem de fazê-la.

-Claro que penso. -Você respondeu e segurou a mão de Hanma por cima da mesa. Mãos frias e ásperas. -Shuji, é claro que eu penso. Eu só aprendi a não deixar isso me impedir de viver. Nunca parou de doer, mas eu aprendi a conviver com essa dor.

Your Voice, MikeyOnde histórias criam vida. Descubra agora