s e v e n t y | t w o

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-Tá com a roupa certa? -Saori perguntou checando seu casaco como se fosse sua mãe. Você riu e ela também. -Desculpa. Eu sei que você disse pra eu confiar no Baji, é só que...

-Sasa! -Você a puxou para um abraço apertado e acariciou de leve a cabeça da amiga. -Talvez a gente fique mais um tempo sem se ver, mas eu prometo que vou voltar.

-Promete mesmo?

-Eu já voltei uma vez, não voltei? -Você riu baixinho e sentiu ela fungar o nariz.

-É, você voltou mesmo!

Aquele abraço apertado que ela dava! Era tão bom. Em todos os momentos tristes que viveu, Saori sempre te apertava daquela forma, era como se extraísse toda a dor e todos os problemas que estava sentindo. Respirou fundo, sentindo o cheiro do shampoo da amiga e percebeu que ela e Baji agora compartilhavam do mesmo aroma.

-Vai ficar tudo bem. -Você sussurrou e deu um beijo no rosto dela.

-Vai sim. -Ela deslizou as mãos por suas costas e sorriu.

Desfizeram o abraço e mais uma vez você checou a própria roupa. Calças pretas com boa movimentação, coturnos também pretos, a regata branca e o moletom azul claro com zíper. Todas as peças eram da amiga, mas serviram perfeitamente em você. Prendeu o cabelo num rabo de cavalo de forma que não atrapalhasse a visão e respirou fundo olhando para ela.

-Sabe o que eu tava lembrando? -Saori disse com uma risadinha enquanto te olhava. -Lembra das aulas do internato quando a gente jogava xadrez?

-Lembro sim, o que tem?

-Lembra que a gente ria falando que a Rainha não tinha paz? Tipo, ela era a Rainha, deveria estar em casa tranquila comendo biscoitos, mas na verdade ela era a peça mais forte e com a maior movimentação.

-Por que você lembrou disso? -Você começou a rir e Saori também.

-Não sei, acho que é porque você tá agindo assim. Tá fazendo tudo isso pelo Mikey, não tá? Eu sei que não é só por você. -Você a olhou de soslaio e a puxou para um novo abraço. -Eu sabia.

-É por todos vocês. Por todo mundo.

-Deixa a gente lutar por você também, tá? A Rainha é forte, mas não luta sozinha. Tem o tabuleiro inteiro ainda.

-Tá bom. -Respirou fundo e deu uma risadinha. -Agora eu preciso ir.

-Vou te esperar.

Saiu do apartamento e colocou o capuz. Desceu as escadas com pressa até chegar no estacionamento, onde Baji já estava montado na moto.

-Vamos? -Ele perguntou e você assentiu, subindo na garupa.

O dia estava claro, o sol encontrava brechas entre as nuvens embora as gotas esparsas de chuva continuassem caindo sem parar. Fechou os olhos mais uma vez e sentiu o ar gostoso no rosto.

Em casa... estava em casa. Só precisava se livrar dos intrusos e finalmente estaria livre. Todos estariam, mas você sabia que aquele era só o primeiro passo. O verdadeiro inimigo ainda estava escondido por aí, sentado num trono que não pertencia a ele.

-O que a gente faz agora? -Baji falou estacionando a moto na rua e vocês foram caminhando o resto do trajeto à pé.

-A gente espera. -Tirou as mãos dos bolsos e girou o cadeado que já estava aberto, passando pelos portões gradeados e entrando no ferro velho que era o esconderijo de Takashi.

-Vai ser aqui mesmo. O Mitsuya já até tirou tudo. -Baji olhou ao redor e viu que não tinha mais nada lá. Nenhum carro, nenhuma moto, nada. -Cadê suas amigas?

Your Voice, MikeyOnde histórias criam vida. Descubra agora