Prólogo - 1974

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Panfletos, Panfletos e Panfletos
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     Insistir no erro nunca foi de seu feitio, mas Dio Brando tinha a convicção de que enxergava além daquela temporária situação estagnada.

Sentia em sua pele tatuada, em seu ouvido aguçado e orelha cheia de brincos, além de seu coração gelado, que a sua banda incrível de rock progressivo tinha potencial, de som viceral que enlouquecia a plateia por onde quer que se apresentasse, embora faltasse apenas o ou a guitarrista para a banda ser, finalmente, impulsionada ao estrelado. Assim acreditava.

Em parte, a culpa pela banda continuar no anonimato era de Dio e de seu temperamento difícil e comportamento, dito por muitos, como cruel e intolerável.

Kars, o último guitarrista, deixara a banda na mão numa apresentação importante por conta dessas desavenças onde Dio ordenara que ele seguisse à risca suas melodias, que Kars insistira em dizer que não passavam de "punhetagem instrumental", se recusando veementemente de tocá-las, principalmente após as humilhações que recebera no lugar de argumentos coerentes.

Meses depois dessa tragédia pública, Speedwagon foi o primeiro a tocar no assunto.

— Ninguém parece ser bom o suficiente pra você, Dio. O que pretende fazer agora? – Vocalista e guitarrista-base do "The Phantom Blood" desde o começo, há dois anos, Speedy, como também era conhecido, temia que a raiva dominante em Dio pudesse resultar na própria expulsão apenas por começar aquela conversa.

Ainda assim, sentia que precisava abrir os olhos do baterista sobre o tempo que a banda teve para ser famosa do qual poderia ter passado, restando aos integrantes seguir cada um o seu caminho, com ou sem um novo guitarrista.

Claro que Dio não via dessa forma.

— Continuar procurando alguém à altura – respondeu ao empilhar uns panfletos de "à procura de guitarrista que atenda aos critérios citados, do contrário, foda-se você", acrescentando sua rispidez tão típica para com Speedy. — A não ser que esteja tentando me dizer que tem coisa melhor pra fazer e pretende me deixar na mão como aquele headbanger filho da puta!

Speedy suspirou resignado, massageando as têmporas. Não havia outra maneira de dizer o que pretendia sem que Dio iniciasse uma discussão acalorada, pelo jeito.

— Há meses que sequer praticamos, estou só me questionando se vale mesmo a pena passar esse tempo ocioso enquanto você fica obcecado em encontrar alguém que pode nem existir!

Dio parecia escandalizado, mas de maneira irônica. Era sua maneira de fugir pela tangente, ele mesmo já ponderou sobre acabar com a banda e seguir a carreia de Direito, contudo, nunca admitiria tal fracasso tão precocemente.

— Oh-ho. Quer dizer então que vocês não estão praticando?! – Com o silêncio do outro, Dio ergueu a sobrancelha numa postura intimidadora. — Trate de ensaiar, invés de encher a porra do meu saco e reclamar de tempo ocioso.

Speedy foi deixado sozinho no pátio onde estavam, Dio seguiu o seu caminho aos dormitórios da universidade, sempre pregando com alfinetes alheios os seus panfletos nos murais.

Resmungava sozinho sobre o destino da banda, que era uma idealização sua, que trazia verdadeiras emoções quando subia aos palcos como há muito não sentia. Fossem apresentações clandestinas ou em pubs com direito a cachê de £25 à 50 libras para banda dividir entre si, de Londres à Berlim, eram sensações únicas.

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora