Capítulo III

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Metido A Herói
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     Acordou apático, visualizando o teto azul de seu quarto com um olhar vago. Piscou algumas vezes, com o silêncio absoluto no recinto sendo quebrado com o leve farfalhar de sua calça contra o lençol e o ranger das molas do colchão ao se mover para se sentar.

Logo, passou a mão pelo rosto para dispersar o sono e se espreguiçou sentindo as suas articulações estralarem.

Nada passava em sua mente, exceto o sonho que tivera com o ômega desconhecido.

O ômega não passava de uma figura estranha e sem rosto definido, que emitia apenas sons dos seus passos pelos corredores do dormitório. Jonathan saiu de seu quarto e foi ao encalço daquela sombra assim que ela passou por si, pedindo para que ela – a figura sombreada e sem rosto – parasse de fugir, pois ele não desejava machucá-la.

Quando a figura parou no fundo do corredor, Jonathan também parou com a perseguição e não avançou um passo sequer, deixando aquele extenso espaço entre eles ser a confirmação de sua verdadeira intenção.

Inutilmente, perguntou o nome do ômega, que apontou para o chão sob os pés do seu perseguidor.

Jonathan não estranhou o fato de não ter visto papéis jogados ali antes de estar diante da figura, mas olhou os panfletos espalhados criarem, de repente, um géiser de papel bem debaixo de seus pés. Este, por sua vez, exalava mais uma vez aquele feromônio tão adocicado que o embalou numa dança flutuante sobre aquela caótica fonte de panfletos.

Num piscar de olhos, Jonathan se viu com os pés fora do chão, girando em pleno ar, subindo sem controle, como se estivesse fora da sua habitual gravidade, como os homens que foram recentemente à Lua. E, ao pensar nisso, atravessou a estratosfera e logo mais a atmosfera para, então, contemplar o silêncio sepulcral do espaço sideral.

A sensação de sem sustentação fazia surgir ondas de frio em sua barriga, embora lhe arrancassem risos, se divertia sempre que voltava para o eixo normal, perdendo o fôlego quando olhava para o planeta Terra se distanciando cada vez mais.

De repente, braços alheios o enlaçaram por trás e o aroma se acentuou. Acarinharam o seu rosto ao girar ao seu redor, se dando conta que eram as mãos da figura desconhecida que o seguravam, permanecendo com aquele rosto sombreado e incógnito por alguns instantes na sua frente, como se o analisasse primeiro, antes de se aproximar e parecer beijar os seus lábios.

Como geralmente acontece em sonhos, o cenário e o ritmo dos acontecimentos mudaram drasticamente sem qualquer aviso. Jonathan se viu caindo do espaço, em rota de colisão com a Terra quando o aroma simplesmente desapareceu.

O tão conhecido chão chegou rapidamente sem dar-lhe tempo de gritar.

Antes de sentir a dor da queda, abriu os olhos, que agora, bem acordados, foram direto aos panfletos sobre a mesa de estudos, lembrando-se do único que pegara – agora amassado na cama – para cheirar aquele adocicado que o deixara em alerta.

Desta vez, não ousaria checar se o aroma ainda existia ali. Mas o odor acre que chegou como um invasor malquisto, fez Jonathan querer tomar um banho demorado.

Pegou uma toalha, jogando-a sobre o ombro nu, e o sabão, além da escova de dente com a pasta sobre as suas finas cerdas e uma calça nova, e saiu de seu quarto, sem esperar que um burburinho se tornasse uma bagunça de vozes carregadas de receios e revoltas pelo corredor, mais à frente.

Caminhou devagar pela moleza que o dominava e ao virar a esquina, se encontrou com um grupo de seis alfas ocupando o corredor de acesso às escadas; alguns falando por cima de outros, mas se direcionavam ao inspetor beta de cabelos dourados e cumpridos, que só conseguia mover as mãos pedindo calma sem ter o controle de fato da situação.

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora