Capítulo X

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Fantasmas Do Passado
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     Devia ter sido uma casa elegante vidas atrás, agora, não passava de uma fachada com tinta desbotada, com grandes pedaços descascando da parede como feridas abertas e janelas de vidros quebrados, mas tampadas com tábuas que impediam qualquer um de fora de descobrir o completo vazio que havia lá dentro.

E o sereno da madrugada com a neblina deixando tudo ainda mais úmido, davam um aspecto ainda mais tétrico à residência.

A placa dependurada na varanda de "vende-se", eternamente prestes a cair que o diria.

Ervas daninhas cresceram ao redor e uma porção assustadora dessas plantas tomaram conta de toda a lateral da casa, como um monstro gosmento faminto por... tudo, engolindo qualquer coisa que visse pela frente, ficando apenas estagnado ali por descobrir que a digestão, talvez, seria mais difícil.

E parado naquela rua sem saída, estava Dio, observando aquela casa que, de alguma maneira, resistiu à destruição da Grande Guerra e da devastação do tempo, com fascínio juvenil.

Pessoas viveram ali; a casa, agora servindo de esconderijo para dois jovens omegas, abrigara uma geração inteira de uma família, que talvez sequer existisse mais. Mas a casa insistia na existência. Tinha vontade própria, queria fazer a sua própria história...

Uma cutucada forte na cintura tirou Dio de seus devaneios, descobrindo Enrico de sorriso fácil no rosto chocolate ser substituído por uma arqueada de sobrancelha.

O sol da manhã começava a despontar e os dois jovens trocaram cumprimentos afáveis.

O que tá fazendo parado aqui que não entrou logo na casa? – perguntara Enrico enquanto dava um olhada na frente da casa e depois para Dio, com a interrogação expressada em leves dobras de pele entre as sobrancelhas. Passara a mão sobre a própria testa para secar o suor, limpando a mão na camisa de flanela em seguida. — Tem alguma coisa lá dentro?

Fantasmas do passado – respondera Dio, se voltando para frente da casa. — Não tem nada aqui além de fantasmas daqueles que viveram debaixo deste teto. E agora, somos nós, criando mais páginas da história neste lugar esquecido... – Caminhava, seguindo o percurso que era conhecido; seguir até a varanda, passar por debaixo das trepadeiras que engoliam a lateral da casa e passar pelo buraco formado por uma parede cedida, não sem antes de destampar essa entrada camuflada com as plantas, arrastando um pedaço grande de madeira deitado, que fora uma porta agora velha e desgarrada da casa, para o lado.

Os dois rapazes precisavam se ajoelhar para adentrar ao esconderijo e um deles sempre ficava um pouco mais de tempo agachado para arrastar de volta a porta e tampar o buraco.

Enrico o acompanhava em silêncio, mas Dio sabia que ele o ouvia atentamente, pois ele era o seu amigo... o único amigo. E essa percepção tão óbvia fez Dio se sentir grato por tê-lo conhecido... e um misto de nostalgia também se fez presente.

Sentir saudades de alguém que te faz companhia, talvez este pensamento não fizesse sentido para um garoto de 12, quase 13 anos. Porém, mais velho, Dio teve certeza que era uma premonição.

Está na hora de deixarmos uma marca, não acha? Pra que os próximos saibam que existimos e que estivemos aqui – dissera Enrico, com entusiasmo, acariciando a parede onde ficava uma lareira e agora era só uma pilha de tijolos e restos de carvão.

Dio sorriu, tão absorto em pensamentos que não ouviu os passos na varanda. E quando o som aterrador chegou aos seus ouvidos e de Enrico, era tarde demais.

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora