Capítulo XIX

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Não Sou O Que Acha Que Sou
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—— Por favor... Robert – disse Jonathan, removendo a mão alheia de seu rosto, com o máximo de delicadeza que conseguiu. Temia ser dominado pelo instinto e demonstrar-se descontrolado novamente sem qualquer intenção. Não sabia se Robert era ômega ou beta, o que justificava aquela atenção afetuosa em certa demasia para consigo, mas, em todo caso, não queria ofendê-lo. — Melhor não.

Acomodados num banco de praça, próximos de onde a bike arrebentada estava estacionada, Jonathan assistiu ao ciclista erguer as sobrancelhas em surpresa e, embora, a princípio, ele não quisesse soltar a sua mão, afastou a própria com rubor nas bochechas, que não sumiu.

— Oh! Desculpa pela... intromissão, eu... – Robert coçou atrás da orelha, parecendo desconfortável, mas voltou a falar com firmeza: — Você me parece tão triste, não pude me conter em te confortar de alguma maneira. Não sei o que te aflige, mas não acho que esteja assim por conta do acidente.

Era verdade, não era pelo acidente sofrido, mas isso colaborou para que Jonathan se sentisse ainda mais pra baixo.

— Há algo que eu possa fazer? – Robert insistiu.

Jonathan ponderou aquela possível oferta de ombro amigo de um completo estranho; claro, não era justo jogar os problemas, as angústias e os medos no colo dos outros. Ainda mais para alguém desconhecido.

Como ele poderia ajudar se nem te conhece?

Por outro lado, também não era nada satisfatório guardar essa dor dentro do peito já tão dilacerado. Porque, afinal, no ombro de quem derramaria as suas lágrimas?

Jotaro, o único que poderia ouvir e ajudar, estava ocupado demais com o próprio casamento e as negociações sobre. E provavelmente não teria uma boa reação diante da veracidade dos boatos sobre Joseph. Mal lidava com a própria ao descobrir da pior maneira possível o que o seu lado irracional, o instinto alfa dominante, era capaz de fazer...

A verdade era que Jonathan sentia-se muito sozinho, desde que se mudou de universidade e que despertara um ômega que sequer conheceu ainda. Não tinha muitos amigos na última em que esteve matriculado e tão pouco antes disso. Sempre fora reservado demais e muito dedicado aos irmãos mais novos, principalmente após a morte do papai, o que prejudicou em sua socialização, tendo apenas os irmãos como verdadeiros e mais próximos amigos.

Com o passar do tempo, as coisas mudaram, todos cresceram. Cada qual seguiu o seu próprio caminho, ainda que Jonathan se via estagnado em relações humanas enquanto os seus irmãos sempre estiveram rodeados de pessoas.

Parecia confortável deixar as coisas como estavam... até precisar conversar com alguém que não fosse os próprios irmãos.

Passando a considerar Robert como um psicólogo imaginário, que lhe ouviria sem prejulgamentos, a ideia de botar pra fora o que incomodava – para um ciclista que conheceu após um acidente – se tornava um pouco menos absurda.

Então, Jonathan começou a falar:

— Não sou quem eu gostaria de ser... – Acabou perdendo a vontade de tomar o sorvete, só segurava a casquinha ainda com o creme, olhando-a atentamente, para não ter que olhar nos olhos de Robert enquanto desabafava de maneira vaga. — E, por isso, acabei magoando pessoas importantes pra mim. Falei coisas... que me arrependo muito, mas que apenas pedir desculpas não vai reparar o estrago feito.

Jonathan suspirou pesadamente quando terminou de falar.

Robert aproveitou o silêncio do outro para se pronunciar:

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora