Capítulo XXXVIII

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Homens Retrógrados
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A luz do sol da tarde ofuscou os seus olhos dourados na saída do prédio administrativo, acentuando uma máscara de fúria sobre o seu rosto pálido. Não olhou para trás, não estava a fim de testemunhar a expressão vitoriosa do diretor quando saiu batendo a porta.

Sr. Von Stroheim dera um golpe certeiro ao confiscar a sua bateria e ameaçar diretamente a bolsa integral que conseguira com esmero, obrigando Dio a cooperar.

A mesma fúria que estampava em seu rosto uma carranca tenebrosa, crescia dentro de suas veias como veneno. E tão logo, a presença de Jonathan se fez presente em seus pensamentos.

Me diga o que houve... Você está... furioso, posso sentir. Há algo que eu possa...

Dio o interrompeu.

Não há nada que você possa fazer, alfa. Fez questão que a palavra soasse como uma ofensa. E eu tô meio cansado de, mesmo que indiretamente, recorrer a você toda a vez que preciso contornar alguma situação irritante. Então, pode me deixar em paz pelo resto da vida? Se você não puder, fique só calado e me deixe pensar por mim mesmo de novo, sem você bisbilhotando meus pensamentos. Então, vaza! Me deixa sozinho! Xô!

Jonathan não se silenciou imediatamente, quis lembrá-lo do teor da conversa que tiveram nas duchas, tantos dias atrás que já pareciam meses, como uma afronta, um desacatamento de sua ordem.

Você não precisa mais lidar com qualquer problema que seja, sozinho. Pode contar comigo...

— Talvez eu queira resolver do meu jeito! E sozinho! – Dio vociferou alto e claro para quem quisesse ouvir, e alguns alunos que passavam ali perto se assustaram com a sua repentina demonstração de descontrole.

Pouco se importava, a essa altura do campeonato, se todos o taxassem de louco varrido, um desvairado, porque ao menos teria uma reputação considerável diante dos universitários, ao contrário do que o próprio diretor levava em consideração.

Além disso, Dio sabia que já estava perdendo as estribeiras desde o momento em que conheceu o maldito alfa. E o pensamento, novamente, o deixou ainda mais amargurado.

Sentia-se emocionalmente instável, não sabia mais se portar como "o velho conhecido Dio" quando Jonathan estava por perto, e quando o alfa não estava, ficava furioso com o fato de estar irritado pela ausência dele. O que era inadmissível!

Não viveu grudado com esse filho da puta, por que agora precisa dele do seu lado o tempo todo?! Por acaso desaprendeu a viver sozinho? De se virar sem ajuda? Que merda de ômega está se tornando?

Quando a janela da memória se abriu, analisou a própria postura para com o alfa quando esteve no bar, como em outros momentos mais íntimos. Imaginou, com certo desprezo, a sua risada como pedante, os flertes descarados como desespero e a sensação de segurança que sentia ao estar nos braços dele como carência. E isso mais machucava o seu orgulho do que qualquer outra coisa.

E a gota d'água não foi o que ouviu no banheiro e nem do "infortúnio" por conta do inspetor-geral, e sim, a maneira como o diretor Von Stroheim lhe dirigiu à palavra que tornou tudo aquilo insuportável.

Quando Jonathan estivera presente, o diretor sequer olhara Dio nos olhos. Agora, sem o alfa para impedir, ele parecia muito mais à vontade de tratar o ômega como convinha a merecer: com desdém.

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora