Capítulo XXXV

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No Fundo Daquele Aquário
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Foi como cometer um crime: bisbilhotar, mentir, enganar, esconder... Jonathan agira contra a sua verdadeira natureza ao se deixar levar pela curiosidade por conta de uma gaveta da cômoda aberta e, por mero acaso, descobrir a data do aniversário de Dio; o ID dava sopa dentro da carteira e ele não resistira em olhar uma foto e algumas informações que nunca saberia se perguntasse.

Imediatamente, para ocultar as próprias emoções em relação à descoberta, o alfa resolvera bloquear temporariamente o fluxo de pensamentos e sentimentos que resvalavam de suas mentes e tentara agir o mais natural possível. E por sorte, a convocação à diretoria viera logo depois.

Toda aquela situação com o diretor, porém, fora desconfortável, para dizer o mínimo. E ficar de mãos dadas fora a sua maneira de garantir a Dio que não permitiria que ninguém lhe faltasse com respeito por ser um ômega.

Tentando evitar qualquer mal-estar decorrente da reunião com o diretor, Jonathan assumira o papel de "dissimulado", além do risco grande de despertar o interesse de Dio quanto à verdadeira razão daquele novo bloqueio. Mas o que o alfa não esperava era ter a situação revertida a seu favor quando Dio pedira para escrever a letra para a sua melodia.

Mas se vasculhar minha mente sem que eu permita, arranco as duas cabeças que você tem aí – Dio passara a ameaçar todas as vezes que se encontravam pelo campus quando Jonathan, eufórico como uma criança à espera de um presente, perguntava sobre a letra.

O ideal seria trabalharem em conjunto, numa parceria, para, de quebra, Jonathan descobrir como era dar vida às criações, mas o alfa se contentara com o fato de Dio ter gostado muito da melodia – sua criação – a ponto de sentir-se inspirado em escrever uma letra – a criação dele – só para ela. E a sua intuição dizia que seria marcante.

No intervalo entre as aulas, Jonathan avistou Speedy passar no corredor em direção à saída do prédio principal, distraidamente. Teve que correr para alcançá-lo e cutucar o ombro dele para chamar a atenção, pois o ciclista não parecia ouvi-lo.

— Robert! – chamou a primeira vez e logo o cutucou no ombro. — Speedy!

— Oh! Oi! Hey! Jonathan! – Foi uma sequência de exclamações incrível que saiu da boca de Speedy, arrancando uma gargalhada de Jonathan. — O que foi? Tá tudo bem?

— Ah, sim, está. Eu não queria te assustar, mas te chamei e você não me ouviu – justificou a cutucada leve que dera, passando a caminhar juntos assim que saíram do prédio.

O sol da manhã estava fraco, mas o céu não tinha uma nuvem sequer.

— Oh, desculpa, eu... ando distraído, eu acho... – Speedy mexeu numa mecha longa do cabelo e passou a andar olhando para o chão e se afastando aos poucos de Jonathan durante a caminhada. Joestar não conseguiu evitar de pensar que o ciclista poderia estar incomodado consigo por andar ao lado dele.

— Speedy... – Jonathan parou e segurou o pulso do outro alfa para impedi-lo de seguir o fluxo de gente que passava por eles sem dar-lhes importância, de frente à biblioteca. — Se houvesse algo que te incomodasse em relação a mim... você me contaria?

Speedy engoliu em seco, olhou para Jonathan e depois para a mão que segurava o pulso, voltando a olhar para aquele que o segurava, com muita surpresa e receio. Em dado momento, Jonathan percebeu as bochechas rosadas do outro e, só por isso, soltou a mão dele.

— Desculpa, Speedy, eu só queria... – Desta vez, Jonathan foi quem se sentiu incomodado, pois sabia qual impressão passava com aquela postura invasiva e autoritária, embora não fosse essa a sua intenção. — Bem, percebi que anda me evitando. Não o vejo mais com tanta frequência e você parece incomodado sempre quando estamos a sós. Eu queria saber o que houve... pra me desculpar com sinceridade e pra que algo assim não se repita. É que tentei falar contigo tantas vezes, não só por conta do conserto da bike, que não se preocupe, não tocarei mais nesse assunto. – Antecipou o protesto de Speedy, embora ele não veio, e continuou: — Mas porque pensei que pudéssemos ser amigos. Sou muito grato pelo conselho e ombro amigo que me deu no dia em que nos conhecemos, porque ninguém faria o que você fez por mim. – Fez uma pausa. — E eu só queria ter certeza de que estamos bem, sabe? De que eu possa caminhar do seu lado sem ter a impressão de que sou um problema ou um incômodo.

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora