Capítulo XLIV - 2009

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Meu Whisky Acabou
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—— Passei por maus bocados com seu pai depois disso... Hoje, eu tenho certeza de que ele não pensou muito bem no que a abstinência poderia me causar. Também pudera, na verdade, nem eu sabia que estava tão dominado pelo vício como eu estava. E ele foi o único que viu isso e resolveu agir... me punindo! Em favor dele, havia a preocupação com a saúde do pai dele, seu falecido avô a propósito, então, eram coisas demais pra se resolver em pouco tempo... – Fez uma breve pausa, como quem reconhecia as razões pelas quais tais eventos aconteceram do jeito que foram apenas naquele momento. — Enfim... não víamos a cocaína, naquela época, como algo nocivo. Era apenas um estimulante pra que você não precisasse parar um segundo sequer no que precisava fazer com a desculpa de que estava cansado. Quem precisava dormir quando o mundo continuava a rodar lá fora, à noite toda e no dia seguinte? – Dio, de pé e sem o paletó, serviu mais um pouco do whisky em seu copo e, desta vez, também depositou no copo que Giorno segurava. — Quem precisava dormir quando se era o maior astro do rock daquela época, que precisava lançar discos atrás de discos pra que ninguém o esquecesse?

Bebericou de seu copo assim que depositou a garrafa – a essa altura quase vazia – na bandeja, assistindo ao rapaz, que continuava sentado na poltrona, também sorver do whisky sem expressar careta.

Deu créditos à qualidade superior daquela bebida cara que não servia para refrescar, que também não tinha o propósito de matar os demônios internos, só de amansá-los.

Afrouxou a gravata vermelha no pescoço e caminhou até a janela para olhar por entre as persianas a cidade movimentada de Cairo.

Não sabia que sentiria tanta saudade daquela época, apesar dos pesares, até começar a contar a sua história. Tirando os primeiros meses de sofrimento quando Jonathan o obrigou a renegar a droga e os últimos meses de gravidez, que sucederam ao parto de Giorno, Dio não tinha dúvidas de que fora feliz.

Contudo, tinha certeza de que não faria tudo aquilo de novo. Caso tivesse uma nova chance de recomeçar a própria vida, nunca entraria naquele dormitório alfa... Não sabendo o que aconteceria com ele e Jonathan... e da dor tamanha que sentiria, indescritível e inimaginável...

— Não vejo o ato dele como punição. Ele salvou sua vida, afinal – disse Giorno, tirando Dio de seus devaneios.

— E a dele também – respondeu em seguida como se quisesse esclarecer que, no final, havia um propósito egoísta por detrás das ações do alfa. — Não esquece que estávamos ligados pela marca. Basicamente tudo o que eu sentia, ele também sentia. E por mais que ele tentasse bloquear nossos pensamentos com a voz de alfa, vire e mexe, algum sempre escapava e acabava nos machucando ainda mais... e não era eu que detinha essa habilidade...

— Mas você nunca optou pela cirurgia. – Não soou como pergunta. Havia quase uma irritação no timbre de voz de Giorno, que fez Dio arquear uma das sobrancelhas e se aproximar da mesa, apoiando as mãos sobre ela, deixando o copo com whisky de lado.

Olhou para aquele rapaz com seriedade.

— Não e você não teria nascido se eu tivesse feito. – Fez uma breve pausa, analisando as expressões do rapaz, embora elas não fossem tão visíveis assim, havia a sutileza naquele olhar de íris turquesa que demonstrava certa ambição, mas Dio se recusava a acreditar que a ambição do garoto se resumia apenas em saber de uma história que acontecera mais de vintes anos atrás. — Seria melhor pra você?

Âmbar No Azul-Celeste [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora