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Nascida no Rio de Janeiro, mas criada em São Paulo

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Nascida no Rio de Janeiro, mas criada em São Paulo. Essa sou eu.

Dezessete anos nas costas, trabalhando, e tendo a família perfeita. Prazer, Mariana. Na verdade não é só Mariana... é Maria Mariana.

A verdade é que essa minha "família perfeita". Não é totalmente minha. Quando tinha meses fui deixada no lixo, realmente no lixo. Até minha mãe, Kaiçara, me adotar.

Ela me encontrou lá e não pensou duas vezes, me levou pro hospital. Foi avisar a família quando as enfermeiras ja estavam me examinando.

Infelizmente ela não conseguiu meus dados, e nem me adotar de primeira. Fiquei um mês apenas na adoção. Meu tio, Filipe, que apressou tudo fazendo eu ser adotada mais rápido.

Eu sempre fui criada pela minha mãe, a mãe da minha mãe (minha vó) e Filipe sempre esteve presente. O problema é que eu sou um grude nele, diz ele que a minha primeira palavra foi "fiipe".

Minha vó só teve outras três filhas, elas moravam com a gente, mas já saíram de casa sobrando apenas nós quatro. Porém os filhos das minhas tias vem direto aqui. A casa nunca tá vazia.

Minha mãe trabalha de cuidadora e minha vó é aposentada, ela vende uns doces de Minas Gerais e é só Deus atrás dessa velha.

Filipe, Infelizmente, é do crime. Ele é o sub do dono do morro, que não é ninguém mais que o meu best, xamã.

Ele é bem humilde, mesmo sendo dono do morro, trata todo mundo "normal".

── Vózinha, diz que eu não tô atrasada. ── murmuro descendo as escadas a milhão com minha mochila nas costas.

Incrivelmente, eu e Filipe dormimos no mesmo quarto. Porém em uma beliche, eu em cima e ele embaixo.

── Se eu disser que não, vou tá mentindo. ── murmura olhando uma revista ── As menina vão te deixar sem emprego, não sei pra que essa demora!

── Meu cabelo não é fácil de arrumar. ── reclamo e pego uma bolacha colocando na boca ── Sobrou café? ── pergunto embolado.

── Quase que não, seu tio bebê café igual bebe cachaça. ── reclama e eu tive que rir.

Coloco o café em um copo de plástico, se eu levo um copo dessa senhora pra fora de casa... aí de mim.

── Beijo, te amo. ── beijo sua testa.

── Se cuida, pelo amor de Deus! ─ me grita.

Concordei e saio de casa. Moramos mesmo que no topo dessa favela, coisa boa é a vista que tem do meu quarto.

── Apressada por que? ── Filipe me aparece em cima da moto.

Meu "tio" é aquele tipo de traficante que não fica acabado. Ele tem uma cara de quem fuma, mas não do tipo que fica com cara acabada e os caralho a quatro.

Terça de Tarde Onde histórias criam vida. Descubra agora