Capítulo 2 - Apostado?

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Finalmente estava em casa, no Rio. Nasci, fui criada, e passei grande parte da minha vida aqui, e a sensação de retornar, é tão maravilhosa quanto a dita cidade.

A França é linda, Paris estonteante, mas aqui é o meu lar, onde estão todas as boas memórias da minha vida, e as não tão boas assim.

Meu plano inicial era chegar, visitar meus pais e meu irmão mais velho, que não vejo desde o final do ano passado, mas o vôo acabou atrasando, por isso, decidi ir diretamente para Saquarema encontrar com a seleção e meus novos colegas de trabalho. Posso dizer que estou tranquila em relação a esse novo emprego, a única coisa que me assusta, ou melhor preocupa, é a questão com o Bruno.

Tenho pouco tempo, praticamente um mês, para deixá-lo em condições de jogar, e vencer, uma olimpíada. Não será um trabalho simples, talvez eu consiga aproveitar o que já foi realizado com ele antes por outros profissionais.

Assim que desço do táxi, encaro o grande prédio a minha frente, e estranhamente, tenho a mesma sensação de quando era uma adolescente e encarava a porta da escola. Talvez seja o fato do Bruno estar lá dentro, mas sinto o mesmo nervosismo de quando tinha quatorze anos.

Conforme vou entrando e passando pelos corredores, vejo a grande estante de vidro com todos os troféus e medalhas da seleção e um grande sorriso surge no meu rosto. Mesmo a distância, eu acompanhei cada conquista, cada vitória, e até mesmo as derrotas, em cada pódio desse eu estava torcendo. Seja através da TV, ou até mesmo da arquibancada, como na Rio2016.

Eu estava lá no estádio, eu vi meu país ser campeão olímpico. E espero, do fundo do coração, repetir esse feito agora em Tóquio.

Quando chego na porta da quadra vejo o time reunido, alguns sentados nas cadeiras na beira da quadra e de frente para mim, e consigo até reconhecer alguns, outros em pé de costas e um destes é o Bruno. Vejo a mão dele enfaixada, com certeza a lesionada, e então a voz do Renan se espalha por todo o ambiente.

—Vejam só se não é a nossa nova fisioterapeuta — diz animado, e então todos aqueles olhares estão em cima de mim, incluindo de Bruno, e consigo até mesmo ouvir a música que toca em uma das caixas de som, ao fundo da quadra, Still into you do Paramore.

Caminho até eles, com um sorriso no rosto, e o levantador simplesmente não consegue tirar seus olhos de mim. Começo a me questionar se ele se lembra que estudamos juntos, ou simplesmente esqueceu e está se perguntando de onde me conhece.

As apresentações começam, e um a um, sou devidamente apresentada a cada jogador, seja reserva ou titular, que compõe o time, além da comissão técnica. Alguns eu já conhecia, outros eram novidade, mas de um modo geral foram bem simpáticos comigo.

—Bem, acho que não preciso apresentar vocês dois — Renan pontua, com um certo riso na voz, gesticulando entre Bruno e eu — mas, de qualquer forma, essa é Estela Martin, a nova fisioterapeuta — coloca uma das mãos no meu ombro — e esse aqui — põe a outra no ombro do jogador que me encara — é o Bruno, levantador e capitão do time.
—É um prazer te rever! — Sorrio, estendendo a mão para ele, que não diz nada, apenas a aperta.

Um burburinho parece se formar, afinal eu disse que era um prazer revê-lo e até agora ainda estamos com as mãos juntas, nos olhando.

É tão estranho perceber que ao contrário do que aconteceu com a maioria das pessoas que estudaram conosco, o tempo só fez bem a ele. Parece até mais bonito. Não que eu o achasse bonito antes, ou agora.

Um voz se sobressai em meio as outras, chamando minha atenção, e é a do Lucarelli, ponteiro titular da seleção.

—Vocês já se conhecem? —  Pergunta curioso, e eu chego a abrir minha boca para falar, mas o Bruno se antecipa e muito.
—Estudamos juntos, desde a sexta série até o último ano do ensino médio — responde simples, e uma certa surpresa existe nas feições dos jogades.
—Exatamente, e agora vamos trabalhar juntos, não é legal? — Não nego, e muito meno disfarço, que apesar da responsabilidade imensa, eu estou entusiasmada com esse emprego, é uma chance incrível para mim.
—É sim, é muito legal — pela primeira vez dede que cheguei ele sorri, talvez também esteja contente com isso.

 Red Zone - Bruno Rezende Onde histórias criam vida. Descubra agora