Capítulo 12 (extra)

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— Isso não vai ficar assim, eu vou conversar com Anna agora mesmo, quem ela pensa que é para chamar minhas capacidades de limitadas? — Renan já retornou para a sua sala, mas Bruno e eu continuamos ali no corredor.

— Estela, se acalma, não vale a pena ir discutir com ela — minha irritação é perceptível, no entanto esse posicionamento vindo dele me surpreendeu.

— É impressão minha ou o cara que brigou com um jogador, e mesmo depois de ter levado um cartão vermelho e ter sido expulso de quadra, voltou para continuar a briga, está me pedindo calma?

— São situações diferentes, Anna pode escrever outra matéria e piorar tudo. Por isso, eu acho melhor você não ir lá brigar com ela e deixar que eu converso com Anna depois. 

— Nem pensar! Você pensa que eu esqueci do dia da entrevista? Ela estava dando em cima de você na minha frente, do Renan, quem vai conversar com Anna sou eu — só de lembrar do fatídico dia da entrevista, sinto um nó se formar na minha garganta, como não me sentir, mesmo que indiretamente, culpada pelo o que aconteceu? Enquanto me irrito e questiono minha parcela de culpa nessa confusão, Bruno sorri em meio ao caos que se tornou esse dia.

— Isso tudo é por que está com ciúmes de mim ou por que ela disse que você tem capacidades limitadas? — Ou seria os dois? Um pouco de cada? Nem eu sei responder isso.

— Nenhum dos dois, estou irritada por ela ter colocado o Renan, todos nós, em uma posição delicada. E irei ter uma boa conversa com aquela pseudo jornalista, ela me deve boas explicações — e como deve.

O Murilo já me espera em frente ao CT, então despeço-me do Bruno, que torna a dizer que não é uma boa ideia confrontar a loira, mas estou decidida a fazer isso.

— Preciso que me leve até um lugar — falo logo que entro no carro, colocando o cinto — é muito importante.

— E eu vou levar, para um lugar chamado: casa.

— Não, para um lugar chamado casa da Anna.

— Quem é Anna? — Justo agora a memória não tão boa da nossa família precisava se manifestar.

— A jornalista que esteve lá em casa naquela noite, uma loira, que estudou comigo e com Bruno — Murilo puxa pela memória, levando alguns segundos até relembrar quem seria Anna Monteiro.

— Imagino que deve ter lido a matéria que ela fez, por isso quer ir lá brigar.

— Eu não quero brigar, quero conversar. Sempre fui contra violência, o máximo que pode acontecer é termos uma conversa de ânimos exaltados. 

— Infelizmente, você deveria ir lá brigar com ela! — Um diz que eu não devo nem ir conversar, já o outro praticamente me incentiva a brigar —  mas como sou um bom irmão, vou te levar até a casa dela mesmo você não querendo brigar, só me diz o endereço.

Explico o caminho para ele, e como já disse antes, Murilo dirige bem rápido, e logo já estamos na rua da casa dela.

Em todos esses anos Anna não se mudou, continua morando no mesmo lugar de antes.

Um casarão antigo, de madeira, em uma rua pouco movimentada de um dos bairros nobres da capital carioca.

E obviamente não bastaria para Murilo ficar no carro me esperando, ele precisava ir me acompanhando até a porta, e ficar em pé ao meu lado enquanto aperto a campainha.

Mais parece uma espécie de segurança.

Na verdade está mais para "telespectador" da discussão, faltou somente uma pipoquinha.

— Não acredito que pela primeira vez na vida você vai confrontar alguém — uma estranha animação vem dele — minha irmãozinha cresceu, já é uma mulher adulta capaz de resolver suas próprias brigas.

— Eu sou uma mulher adulta há algum tempo — continuo apertando o botão, mas nenhum som vem do interior da residência — será que não tem ninguém em casa? Quando estou prestes a desistir, a porta se abre, e exatamente a Anna quem a abre.

— Estela, irmão da Estela, o que fazem aqui? — Não esperava que eu fosse procurá-la depois de escrever algo daquele tipo? Cínica, sonsa, falsa. 

— Vim conversar com você sobre a matéria que publicou, e Murilo está me acompanhando.

— Ah, claro, a matéria. Gostaram? — Chamá-la de cobra seria uma ofensa as cobras.

— Gostaria mais se você não tivesse mentido, e ainda duvidado da minha capacidade profissional. 

— Em qual parte, exatamente eu menti?

— Em tudo?! A sua matéria criou um problema imenso, o Renan está sendo massacrado por causa das suas mentiras.

— Eu não menti, apenas trabalhei a verdade. Ou vai me dizer que o Renan não te trouxe para cuidar da lesão do Bruno? — Como eu posso negar isso? Essa parte é a mais pura verdade — ou que ele escondeu isso das pessoas?

— Eu não posso falar com certeza sobre as atitudes do Renan, se ele escondeu isso de patrocinadores ou de dirigentes, mas o que eu posso te garantir, com total certeza, é a presença em quadra do Bruno nos jogos de Tóquio — se antes eu tinha qualquer ressalva, agora não posso deixar transparecer.

— Como tem tanta certeza que ele irá?

— Digamos que as minhas capacidades limitadas, estão sendo mais que suficientes para ajudá-lo a se recuperar. E ao invés de agir como um urubu loiro que mais parece desejá-lo fora das quadras, deveria torcer pela melhora — confrontar alguém dessa forma é algo muito novo para mim, nunca fiz algo assim. Sempre fugi no menor sinal de confusão, e agora eu literalmente procurei pela confusão, bati na porta dela.

A loira não me responde nada, mas o que poderia dizer? A matéria foi tendenciosa, semeou a discórdia e causou apenas confusões, nada que possa dizer mudará isso.

Apagar a matéria agora seria inútil, na realidade soaria como repressão, censura. E mesmo que fosse uma opção, duvido muito que Anna estaria interessada em fazer.

Anna fecha a porta na nossa cara.

— Falta de educação, não se fecha a porta na cara de alguém — enquanto Murilo finge uma indignação com a portada na cara, me sinto aliviada por ter retirado pelo menos uma parte desses sentimentos de dentro de mim.

Parecia que a qualquer momento eu iria explodir, me sentia sufocada.

Vamos para casa e durante todo o caminho o assunto é Anna: com sua matéria sensacionalista e a portada na nossa cara.

— Não acredito que você fez mesmo aquilo — Murilo abre a porta de casa, e entramos.

— Do jeito que você fala, parece que eu bati nela, quando na realidade só falei algumas coisas.

— Se tivesse batido, eu te ajudaria a fugir — ri — ninguém pode duvidar da capacidade da minha irmãzinha — me aperta em um abraço, dando um beijo na minha bochecha.

— Nem ela mesma? — Alguns dos comentários a respeito do que Anna escreveu podem ser um pouco cruéis, pessoas que nunca me conheceram ou viram meu trabalho querendo opinar. 

— Principalmente ela mesma! Você é incrível Tetela, não esqueça disso  — depois me apertar um pouco mais, e deixar outro beijo na minha bochecha, que provoca um sorriso em meu rosto, ele sobe para o seu quarto.

Já eu vou a cozinha, para pegar um copo com água, e logo também subo as escadas.

 Red Zone - Bruno Rezende Onde histórias criam vida. Descubra agora