Capítulo 10 (extra)

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Reencontrar a Estela após muitos sem vê-la pessoalmente, apenas por fotos, foi uma das coisas mais inesperadas que aconteceu, mas também uma das melhores.

Eu estava muito desmotivado, quanto mais se aproximava das olimpíadas, menor era a minha crença de conseguir ficar em condições de jogar, mas então, aquela ruivinha apareceu, e apesar das minhas tentativas iniciais para afastá-la, ela continuou. E agora finalmente sinto que estou melhorando.

Claro que a aposta com ela teve sua contribuição na minha rápida mudança de humor, digamos assim.

E o melhor disso tudo é que provavelmente a Tetela pensa que eu não sei o motivo dela ter pedido o carro, provavelmente acha que eu esqueci, até porque na hora não falei nada, mas me lembro muito bem.

O motivo pelo qual me calei é que nós dois precisamos ter uma boa relação profissional, completamente focados no trabalho, e remexer em coisas do passado poderia atrapalhar, então, naquele momento, optei por fingir que não lembrava.

Nos aproximamos bastante e bem rapidamente. Recebi o convite para ser padrinho de casamento do irmão dela há alguns meses, e quando a vi, imaginei que ela não sabia, até porque se soubesse teria falado alguma coisa.

O Murilo me ligou, logo depois de contá-la, e disse que a Estela recebeu a notícia como uma bomba.

Por que seria tão ruim assim entrar numa igreja comigo?

O dia cuidando do Pedro foi bem cansativo, cheguei no Centro já procurando pelo meu quarto, e ao entrar, vi o Lucas sentado na cama dele, ainda acordado.

Me aproximei dele e entreguei o pote com o cachorro quente que a Estela havia feito.

— O que é isso? — Pegou o pote e o abriu, olhando o seu interior e depois para mim — cachorro quente?

—Sim, foi a Estela quem fez — sento na minha cama, de frente para o central — é o melhor cachorro quente que já comi na minha vida.

— Não sabia que além de fisioterapeuta ela cozinhava — fecha novamente o pote, o colocando ao seu lado — e por falar em fisioterapia, a Estela é muito boa! Curou o joelho do Lucarelli, que doía há meses.

— Realmente a Tetela é muito talentosa — e para conseguir uma carreira no exterior, não poderia ser diferente.

— Tetela? — Ri.

— É um apelido que o irmão dela a deu quando estudávamos — rio, lembrando — a Estela odeia ser chamada assim, muito mesmo.

— Então por que você continua chamando?

— Não sei, eu acho que gosto de chamá-la assim.

— Eu acho que você quer é chamar a atenção da Estela, isso sim.

— Até parece, Lucas — por que eu iria querer chamar a atenção da Estela?

— Você desmarcou o encontro que iria ter hoje com a jornalista loira para levá-la a casa, no mínimo a fisioterapeuta é importante para você.

— Foi uma gentileza, ela estava com uma criança, não achei legal eles voltarem em um ônibus lotado. Ser gentil significa que eu quero chamar atenção?

—Eu li um livro de psicologia infantil — lá vem — e o autor falava sobre esse seu comportamento, então eu digo com total certeza e com base em dados científicos, que você quer chamar atenção. Você sabe por que os garotos puxam o cabelo das meninas na escola? — Como eu iria saber isso? — porque eles querem chamar atenção, mas são burros demais para fazer isso de uma forma legal. Então, começam a agir exatamente como você. E dado o grau de importância que você está dando a esse encontro com ela, eu acho que você gosta muito dela, tipo muito mesmo, quase apaixonado em segredo.

Eu já comecei a planejar o encontro, por isso o Lucas dá a entender que estou dando muita importância a ele, mas eu não fiz nada demais.

Como a Estela gosta de cassoulet, comecei a procurar pelo melhor restaurante francês da cidade, para que ela tenha uma noite perfeita.

Tudo bem, talvez eu esteja dando muitos importância, mas eu só quero ser legal com ela.

— Na verdade, durante um tempo, eu quis sim chamar a atenção dela — mas especificamente na época da escola. O Lucas tem razão, eu implicava com ela por isso, era um pouco babaca da minha parte? Talvez. Mas eu nunca fui maldoso com ela, só era um pouco chato — passei anos tentando.

— Quando eram colegas de turma?

— Sim, e eu até consegui a tão desejada atenção, mas deu tudo errado — muito errado.

—Como assim deu tudo errado? — A Estela acha que todos aqui são fofoqueiros, pode ser que ela tenha um pouco de razão.

— Isso é assunto para outra conversa — me levanto — agora eu vou tomar banho, quem sabe outro dia eu te conto — rio, e ele também se levanta, ficando na minha frente.

— Nada disso Bruno, você vai contar agora. Já sei, vocês namoraram e aí ela terminou com você? 

— Não chegamos tão longe assim.

— Ah, então você se declarou e ela ignorou?

— Também não — em todos os cenários, sou eu quem leva o "fora".

—Então conta o que foi, eu prometo que não comento para ninguém — como se eu fosse acreditar nisso.

— Agora eu vou tomar um banho, deitar na minha cama, e dormir até amanhã. Quem sabe num outro dia eu não te conto — dou um tapinha no ombro dele, pego a toalha e a roupa, indo para o banheiro.

A pergunta é, será que depois de todo esse tempo eu voltei a tentar chamar a atenção da Estela? 

POV curtinho do Bruno, e aí, o que estão achando da história? Bjsss!

 Red Zone - Bruno Rezende Onde histórias criam vida. Descubra agora