Capítulo 4 - Zebra (Final Alternativo)

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— Como Zeus está? — Conte estava de saída da sala, parado no vão da porta. — Ele se acostumou bem?

— Muito bem. Algumas vezes na semana eu passeio com ele, e ontem ele ficou o dia inteiro na casa do meu irmão.

Facu abaixou um pouco a cabeça, e mordeu os lábios antes de falar. Procurava as palavras certas? Ou não sabia se devia falar?

— Eu estou pensando em dar uma passada na sua casa, algum dia desses. Para vê-lo.

— Pode ir quando quiser, é muito bem vindo! E Zeus vai adorar te ver.

As vezes, a noite, eu escutava um choro baixinho vindo do cachorro. Ele sentia saudades de Conte. Desde que o deixou lá em casa, o argentino não foi visitá-lo.

Nessas horas, ele deitava a cabeça no meu colo, dava algumas lambidas na minha mão, e me dava o seu olhar mais apelativo. Parecia pedir para ver Conte. Meu coração ficava tão apertado.

O ginásio em Betim estava lotado, a torcida do Cruzeiro compareceu em peso. Cantavam, gritavam, "empurravam" os jogadores. O Vôlei Itapetininga praticamente não tinha torcedores no meio daquela multidão.

Alan estava lesionado, então Marcelo fez uma "gambiarra" no time. Colocou Conte para jogar de oposto, e Rodriguinho formou a dupla de ponteiros com López.

Começamos o jogo bem, com excelentes saques do Otávio, e bloqueios também.
Ele era um dos centrais da equipe, junto com Isac, e eu era incapaz de pensar numa dupla melhor que eles.

Porém, no meio do segundo set, algo desandou. O saque parou de entrar, passe também não funcionava tão bem, e os ataques, quase todos estavam ficando no bloqueio. Aquilo não fazia o MENOR sentido!!

Itapetininga não era um time tão forte, como Minas ou Sesi-SP, por qual motivo eles estavam virando o placar e dominando o set?

Mendez teve que parar o jogo.

O grande problema não era físico, os jogadores eram muito bons e tinham tudo que precisavam para ganhar, mas sim psicológico. Foram dormir e acordaram com a notícia do Alan machucado. O emocional abalado estava os prejudicando.

As conversas com Marcelo não resolveram, o Sada perdeu o segundo set. Placar empatado.

Bom, só nos restava ganhar o terceiro, e o quarto, só assim levaríamos a partida. Contudo, a cada jogada, a situação se deteriorava. Inversão, substituição, nada resolveu.

Perdemos o terceiro set, e o quarto. Sada Cruzeiro eliminado da Superliga pelo Vôlei Um Itapetininga.

Mendez reuniu jogadores e comissão técnica, ele se cobrava demais por resultado. A frente de um dos projetos mais vitoriosos do Brasil, e após uma década de muitos títulos sob seu comando, a confiança depositada nele era gigantesca.

— Sei como é difícil lidar com a derrota, podem ter certeza que eu sei! Mas agora, é momento de levantarmos a cabeça porque ainda temos campeonatos muito importantes pela frente. Hoje não conseguimos dar o nosso melhor, mas amanhã é um novo dia e vamos trabalhar para ganhar tudo que vier pela frente.

Ninguém fingiu alegria, ou aplaudiu o que ele falou, todos estavam "mordidos" pela derrota. Um silêncio ensurdecedor reinava no ambiente.

Cada um seguiu seu caminho, e o único com quem falei foi Fernando. Ele me viu na calçada, prestes à pedir um Uber, e me ofereceu uma carona.

Não era muito longe e o caminho não era longo, durante a maior parte não conversamos. Mas, éramos amigos, e eu senti que precisava dizer algo.

— Não foi culpa sua. — Eu conheço um semblante de culpa quando vejo um. Olhar baixo, seriedade, silêncio absoluto. Fernando estava se culpando pela derrota. — A história do Alan mexeu com o psicológico de vocês.

 Red Zone - Bruno Rezende Onde histórias criam vida. Descubra agora