Capítulo 33 - Demitida ou não?

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                            BRUNO

A raiva me dominou, me cegou, de um jeito que poucas vezes eu havia vivenciado.

Minha única vontade é de retornar àquele corredor, encarar Conte, dessa vez sem Estela se pondo entre nós dois, e acerta-lo muito mais forte do que ele me acertou.

Mas, Lucas e Ricardo não me deixam sair do quarto. Trancaram porta.

Mais do que isso, se transformaram em verdadeiros "cães de guarda", vigiando cada movimento meu.

Se vou beber água, eles vão atrás, se olho pela janela, eles vão atrás, se caminho em direção a porta, ou faço um mínimo movimento que indique alguma remota vontade de ir até a porta, eles me cercam. Acompanham-me até no banheiro.

- Vocês não precisam ficar indo atrás de mim em todos os lugares, parecem duas sombras - reclamo, mas os dois não ligam.

- Estamos fazendo isso pelo seu bem - Lucarelli diz - para evitar que você volte lá e arrume mais confusão ainda.

- Eu não fui arrumar confusão!

- Ah não?! Então foi lá fazer o quê? - Lucas questiona, e a essa altura, ele age de uma forma muito semelhante a que o meu pai agiria.

Caso ele estivesse aqui, já teria gritado comigo dezenas, centenas de vezes, e talvez até me dado outro soco. Não duvido de nada.

- Fui esclarecer as coisas com aquele corno.

- Para de chamar ele de corno - Ricardo pede - tá querendo levar outro soco?

- Estou querendo é acertar a cara daquele argentino miserável.

- Pelo amor de Deus, Bruno, calma! Você já se perguntou como vai explicar pro Renan esse hematoma no rosto? - Lucas levanta um ponto que até agora eu não havia pensado. Com certeza o técnico vai perguntar o que houve no meu rosto, e o que irei dizer?

- Posso dizer que bati numa parede - única ideia que tive - e ficou assim.

Os dois reviram os olhos, afinal, que parede aceitaria a bochecha? E não a testa?

- Sua sorte é que Renan precisa de você em quadra, e que ele não sabe dessa história sua com Estela e Conte, se não, ele nunca ia acreditar nessa desculpa furada - o central tem razão, eu, por exemplo, sabendo de tudo que aconteceu, nunca acreditaria. Ainda bem que ele não sabe de nada.

Tudo aconteceu bem debaixo do nariz dele, e mesmo assim, Renan não percebeu nada.

Felizmente.

Dormir essa noite foi algo quase impossível.

O lado do rosto, que Conte acertou, além de inchar, começou a doer bastante.

Rodei a cama toda, procurando por uma posição mais confortável, no entanto, quando a dor física passava, a emocional retornava.

Flashs do jogo com a Rússia, da conversa com Conte, de Estela se colocando na frente dele, para protegê-lo, me atormentaram a noite toda.

Sem mencionar a preocupação, antecipada, com a partida valendo o bronze.

Acordo no outro dia, morrendo de sono, mas tenho que ir treinar.

Reunindo a energia que ainda me resta, vou para o CT.

E basta eu colocar os pés na quadra, para Renan vir perguntar do roxo no meu rosto, exatamente como Lucas havia dito ontem.

- O que houve com você? - O técnico me encara, preocupado.

 Red Zone - Bruno Rezende Onde histórias criam vida. Descubra agora