Murilo comemorou o primeiro aniversário na Argentina, mas depois, todos os outros foram em solo brasileiro. Aos três anos, ele não era mais o bebê curioso, era o menininho falante, que perguntava tudo sobre tudo, e adorava jogar vôlei na areia da praia com o pai.
Conte voltou pro Sada, Uriarte ajudou — e muito —, a convencê-lo. O meu pai se casou de novo, e se mudou para o Mato Grosso. Um pouquinho longe. A casa que ele vivia, com meu irmão, Bia, e as crianças, ficou pra mim.
É, eu fiquei muito surpresa quando ele apareceu aqui em Pipa, dizendo que precisava ter uma conversa séria comigo. Segundo ele, criar Murilo em um apartamento não seria fácil, e que aquele seria um presente dele pro neto.
Meu irmão se mudou pra uma outra casa, projetada pela própria Beatriz e construída pela construtora da família dela. Durante a temporada de clubes, morávamos lá.
E na primeira folga, a fuga pro Nordeste era certa.
— Papai, papai. — Murilo correu igual um furacão da sala para a varanda. Conte abriu os braços para pegá-lo no colo, aproveitando enquanto ainda conseguia fazer isso porque o garotinho não parava de crescer. Contudo, ele escondeu as duas mãos nas costas. — Quer ver uma coisa?
— Quero sim, o que é?
Jogou o cabelo que caía na testa para trás, e mostrou o que escondia nas costas: a medalha de bronze. Os bracinhos gordinhos mal aguentavam segura-la.
Conte riu, se eu lembrava do argentino quando era criança, pegando a medalha do pai, imagine ele!
Tomou o menininho em seu colo, e colocou a medalha no pescoço dele.
— Onde você achou isso? — Fiz cosquinha na barriga dele, Murilo riu. Tinha um sorriso parecido com o do pai. — Garotinho.
— No armário, mamãe. Não podia pegar?
— Como você abriu o armário? — Ele tinha só três anos, e apesar de ser considerado alto pra idade, não tinha como dar altura para abrir as gavetas.
Murilo me olhou, e aqueles olhos eram iguais ao meus. O mesmo jeito de olhar. E depois olhou para o pai.
Abaixou a cabeça e segurou a medalha, os dedos — tão gordinhos quanto os braços — a acariciavam.
— Subi na cadeira. Mamãe — levantou a cabeça. — Você perdoa o neném?
E eu tinha como NÃO perdoar?
— Claro! — Passei os dedos por entre as mechas do seu cabelo, e deixei um beijo naquelas bochechinhas. — Mas não pode subir na cadeira, se subir de novo vai ficar de castigo.
— Neném não vai subir mais. Prometo.
Ele ia subir. Eu conhecia minha cria muito bem, Murilo fazia carinha de triste, e um biquinho, mas logo que Facu o colocasse no chão, ele ia pegar a cadeira e subir de novo.
— Gostou da medalha? — Conte indagou.
— Muito, muito, papai! Quando eu for bem grandão, igual você, quero ter uma igual. Eu posso ter uma igual?
— Claro que pode. Mas você não prefere ter uma dourada?
— Não. Eu gosto dessa. — Abraçou a medalha, a colocando contra seu peito.
Meu mini continho saiu com o pai. Conte o segurou pela mão, e foram os dois pra praia, brincar com Zeus e os filhotes dele. Ah, ele se tornou pai.
Facu estava decidido a castrar ele, mas eu fui contra. Disse que não era necessário porque ele não tinha contato com cachorras. Só que um dia, caminhando no calçadão, Conte e eu encontramos uma cadela, muito, muito magra. Aparentemente sem dono.
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Red Zone - Bruno Rezende
FanfictionEstela Martin é uma fisioterapeuta muito conhecida no mundo esportivo, mais especificamente do vôlei, há 10 anos atua em um clube francês e possui uma carreira consolidada no exterior. Sua "fama" se deve ao fato de ter conseguido ajudar jogadores fa...