Capítulo 39 - Adeus

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Bruno continuou comigo, fomos até a cantina e após alguns dias me alimentando mal, finalmente comi direito.

- Acho que já vou indo - o levantador diz, deixando o suco de lado, e se preparando para levantar da cadeira - é um momento da sua família, e eu tenho que arrumar minhas malas.

- Malas?

- É, viajo pra Taubaté daqui uns dias. Esqueceu que falta pouco tempo para a Superliga começar?

- Por um momento sim - perdi competentemente a noção do tempo, em meio aos últimos acontecimentos - se precisar mesmo ir, pode ficar a vontade. Mas saiba que você não incomoda e foi muito bom te ver.

- Quando Murilo apareceu na minha porta, falando que você estava vivendo de suco de laranja, eu tinha que vir. É isso que fazemos quando amamos alguém - devagar, leva sua mão até a minha, segurando-a — estamos lá por ela.

- Estela?! - A segunda surpresa do dia chegou, com Conte aparecendo ali, atrás de Bruno.

Constrangido, o levantador tira sua mão da minha, e levanta. Seu último movimento é acompanhado pelo meu.

- Agora eu tenho certeza que é o meu momento de ir embora. Tchau Tetela, se cuida!

- Obrigada pela visita e pode deixar que vou me cuidar sim.

Pelas pontas dos dentes deu um sorriso para Conte, saindo rapidamente daqui.

- Bruno veio te visitar? - Facu fica curioso a respeito.

- Sim. Murilo o procurou e disse que eu estava um pouco mal, aí ele veio me ver. E você? Não estava em Buenos Aires?

- Estava, mas quis passar os últimos dias de férias a tu lado. Imaginei que estivesse se sentindo mal. Até trouxe um presentinho — mais um? Será outro urso?

— Presentinho?

— Sí. No caminho para cá eu passei em frente a uma padaria, e vi um bolo de limão, e sei que é um dos seus preferidos. Então, comprei pra você.

— Um bolo inteirinho?

— Claro.

Segurando o ursinho com uma das mãos, uso a outra para pegar o bolo que Conte trouxe.

Olhando para o argentino, que está de costas para a entrada, vejo Murilo passar pela porta, parecendo nada bem. 

Está pálido, mais do que o habitual, e o seu corpo inteiro treme.

Acompanhada por Conte, vou falar com ele.

- Murilo, o que aconteceu pra você estar assim? - No fundo, desconfio que a resposta seja algo que não irá me agradar, nem um pouco, mas preciso perguntar.

- A nossa mãe - as mãos tremem tanto, parece que a qualquer momento o copo irá cair no chão - ela se foi Estela.

- Se foi? Como assim se foi? - O nervosismo que havia me abandonado retorna - do que você está falando?

- Morreu, Estela. A mamãe morreu.

Não sinto o chão sob os meus pés, as pernas falham, e quando acho que irei cair, Conte me segura.

- Você não está falando sério, não pode estar falando sério!

- Eu gostaria de estar brincando, pode ter certeza.

- Eu só saí de perto dela por alguns minutos - as lágrimas voltam a molhar meu rosto — você a viu conversando, rindo, falando com Bruno.

- Foi melhor assim, para você guardar uma boa última imagem dela - Murilo tenta me confortar - Não iria gostar de ver o que eu vi. E quando a súbita melhora, já ouviu falar da "melhora da morte"? O médico disse que foi isso que ela teve.

 Red Zone - Bruno Rezende Onde histórias criam vida. Descubra agora