Capítulo 15 - Anna

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Eu tentei beijar a Estela? Tentei, isso foi ruim? Em partes.

Quase duas semanas se passaram desde que estive na casa dela, e quase demos o nosso primeiro beijo, e desde então ela age como se não tivesse acontecido nada. De fato não aconteceu, mas quase aconteceu!

Apesar desse quase estamos mais próximos, depois daquilo não houve mais nenhum momento em que quase acontecesse algo, ou que acontecesse, mas começamos a construir uma relação muito legal. Visitei a casa dela outras vezes, conversamos, até cachorro quente ela fez, (que Renan nunca saiba disso), e a mãe dela me mostrou álbuns de fotos, e falou todo o tempo sobre a filha.

É tão estranho vê-la frente a frente com a filha, mais em alguns momentos não a reconhecê-la. Em outros ela sabe que é a Estela, mas a trata como se ainda fosse criança e é até agressiva. Não sei como eu reagiria se passasse por algo assim, Estela é muito forte, tanto ela quanto o irmão, e como eu tinha prometido a ela, fui um amigo para ela nesse momento delicado. 

Profissionalmente falando, tudo está igual, na verdade parece ainda melhor. Progredi tanto nos últimos treinos que, finalmente, pararam de noticiar que eu estaria fora de Tóquio para comunicar a minha convocação definitiva.

O capita está definitivamente de volta para as quadras.

Ainda tenho o acompanhamento médico, mas já treino na mesma intensidade dos outros e participo normalmente dos treinos em quadra, a melhora foi bem rápida e justamente a tempo para as olimpíadas.

Amanhã vamos viajar para BH, e no sábado é o casamento, poucos dias depois já estaremos indo para Tóquio, ou seja, se eu não tivesse melhorado, não teria mais tempo o suficiente para isso.

E por falar no casamento, eu estranhava bastante a calmaria do irmão da Estela, parecia que Murilo nem ia se casar, mas agora ele está agindo feito um louco para organizar tudo.

Eu acho que ele procrastinou a organização, eu nunca o vi planejando nada, sempre falava que iria resolver depois, e agora que faltam apenas dois dias, ele resolveu organizar tudo. É uma avalanche.

Perdi a conta de todas as ligações que recebi dele, e como padrinho, eu tenho que ajudá-lo, mas as vezes parece que a intenção é me enlouquecer também.

Ajudei a escolher o hotel que vamos passar um final de semana, lá em Belo Horizonte, o mais próximo da igreja para evitar atrasos. O problema é que não é tão grande, e pelo tanto de gente que ele convidou, alguém vai precisar dividir o quarto, com alguém. A pergunta é, quem?

Os pais dele vão ficar juntos, ele vai ficar sozinho, e tirando esses quatro, a única pessoa que conheço é a Estela. E não acho que ela dividiria o quarto comigo.

Na hora vamos ver o que acontece.

— Então a jornalista quer fazer outra matéria com você? — Lucarelli indaga, enquanto saímos da academia para a quadra.

— Sim, algum problema?

— Muitos. Esqueceu a confusão que ela gerou? — Como se eu pudesse, ou conseguisse esquecer.

O propósito de se ter uma vida mais reservada é justamente de não estar todos os dias em perfis de fofoca, que não paravam de falar sobre o “escândalo na seleção masculina” tudo causado pela matéria que Anna publicou, nas palavras da Estela: “tendenciosa e sensacionalista”.

E era mesmo tudo isso.

— Não esqueci, mas ela fez uma retratação, e disse que pretende fazer essa nova matéria justamente mostrando minha melhora. Por isso eu concordei.

 Red Zone - Bruno Rezende Onde histórias criam vida. Descubra agora