Capítulo 22 - Primeiro e último

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                          BRUNO

— Já não era para Estela ter chegado? — Essa deve ser a décima vez que Renan repete a mesma pergunta, e ele tem razão.

Quando estávamos no Brasil, ela não se atrasou nenhuma vez, e aqui, está atrasada para o primeiro treino. Estou praticamente recuperado da lesão, quase não sinto dor, mas Renan faz questão da presença da Estela, para a possibilidade de algo acontecer, porém até agora não tivemos nenhum sinal dela.

A última vez que a vi foi ontem e embora estivesse deslumbrado em ser um dos porta bandeira da delegação, e com a cabeça, na verdade o corpo todo, nas nuvens, consegui prestar atenção na ruiva mais bonita que já vi em toda minha vida.

Assim que terminou a parte mais formal da cerimônia de abertura, ocorreu uma “festinha”, e enquanto eu fiquei quase o tempo todo conversando com o mesmo grupo de pessoas, ela conversou um pouco com cada pessoa, incluindo o argentino. O tal Facundo Conte.

Não tenho nada contra ele, o respeito profissionalmente, mas não posso, e acho que nem quero, dizer que somos amigos.

— Será que ela não ouviu o despertador tocar? — Lucas teoriza a respeito do atraso da fisioterapeuta.

— Difícil — Isac rebate — Estela tem uns três despertadores.

— Talvez tenha ficado presa no trânsito — sugiro, e atraio os olhares confusos deles para mim — o que foi gente? É normal ficar preso no trânsito.

— Sim, é normal — Lucas concorda — mas isso aqui é uma vila olímpica, não a marginal Tietê para ter um engarrafamento.

Várias hipóteses sobre o anormal atraso são levantadas, e o técnico só fica mais impaciente, com Alan e Cachopa sentindo o tornozelo, tudo que Renan queria era a presença da fisioterapeuta de confiança dele aqui, mas não teve.

O tempo passa, e quando parece que ele finalmente irá começar o treino, a ruiva surge no ginásio, mancando e com o tornozelo enfaixado, sendo logo auxiliada por Lucarelli.

— O que aconteceu? — Pergunto preocupado, enquanto os dois se aproximam.

— Tive uma entorse no tornozelo direito, nada grave — responde serenamente, passando calmaria, apoiada no ombro de Ricardo.

— Tem certeza? Um médico já te examinou? — Insisto.

— Sim, recomendou alguns dias de repouso e o uso de gelo, vou ficar bem — sorri.

— Que horas o nosso médico olhou seu pé? — Renan pergunta — porque ele esteve aqui conosco o tempo todo. 

— Foi outro médico quem me examinou, mas se quiser posso conversar com Willian — o médico da seleção que nos acompanha há anos.

Renan concorda, e pede a ela para contá-lo tudo o que o profissional disser durante a consulta. Então, finalmente o treino começa.

Uma coisa fica rodando na minha cabeça: como ela se machucou? E que médico a examinou? A faixa no pé dela não está tão bem colocada, o que me faz pensar que possivelmente não foi um especialista, ou se quer alguém da área da saúde, que a colocou. Um nome surge sempre entre as minhas ideias: Conte.

Não sei explicar o motivo, verdadeiramente não sei, mas para mim, ele tem algo a ver com isso. Ou talvez eu só queira culpá-lo por todas as coisas ruins que aconteçam. Não que eu o odeie, de forma alguma, respeito o profissional que é, mas essa situação é pessoal demais.

Meu time perde o manchetão, e os erros cometidos por nós são tão idiotas, que parecemos um grupo de amadores!

Falhas no bloqueio, erros de recepção, no decorrer dos “sets” se repetem indefinidamente.

 Red Zone - Bruno Rezende Onde histórias criam vida. Descubra agora