Sasori
Mas eu sei que um milagre
Não é algo que se deva ignorar
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A aparência do Jiton era divergente da personalidade. Seus olhos tinham traços delicados, estreitos e perspicazes como de uma fênix marcados, eram delineados por sobrancelhas desenhadas e lábios cheios, pequenos como o de um bebê recém nascido, alto e magro, parecia frágil e fácil de enganar. Sua casa também estava arrumada com esmero, os poucos móveis organizados para aproveitar o máximo de espaço. Tinha uma mesinha na sala com fotos dele com uma mulher morena, de um bebê e uma garotinha que puxou os olhos amêndoas e redondos da mãe. Um homem de família, orgulhoso pelos seus valores e sem medo de os defender, de fato não combinava com sua aparência.
-Quer beber alguma coisa? - Jiton ofereceu assim que eu o segui até a cozinha.
-Estou bem, obrigado.
-Bom, eu vou fazer um chá para mim.
Ele virou para o fogão, pegou a chaleira e colocou no fogo, já com água, antes de voltar a falar comigo.
-Você tem passado bem desde que saiu da escola?
-Bem, obrigado.
Respondi usando o tom casual que aprendi a imitar por passar tanto tempo perto de pessoas normais ao meu lado.
-Você sabe, eu não tive opção senão prestar uma queixa formal, a sua atitude naquela época não foi profissional, muito menos... humana.
Eu tentei sorrir gentilmente para ele como tinha treinado com Hiruko antes de sair do apartamento que dividimos.
-Na minha área, quer dizer, na área para qual estudei, nem sempre podemos ser humanos. Um coração frio pode salvar vidas, assim como a empatia poder ceifar algumas.
Lembro muito bem que o médico responsável pelo meu treinamento no hospital público disse isso em minha defesa após atendermos vítimas de um acidente de carro. Uma garotinha teve uma artéria perfurada e a hemorragia já tinha se tornado fatal antes que eu pudesse terminar o diagnóstico, então eu foquei meus cuidados nos pais dela. Eu estava a ponto de perder anos do meu estudo quando ele se pronunciou diante da comissão de ética do hospital e usou esse argumento em minha defesa. Devido a situação, achei que aquela citação seria oportuna, mas parece que esse não foi o caso.
-Isso não é algo fácil de decidir. Eu posso imaginar como você se sentiu lidando com casos difíceis todos os dias, mas você precisa estar mais atento.
Não tinha como ele saber como eu me sinto, nem mesmo eu sei isso ao certo, só me resignei a acenar. A chaleira começou a apitar e ele se virou para preparar o seu chá, conversando comigo de costas.
-Hoje, por exemplo. Meu aluno teve uma torção no tornozelo, ele precisava apenas de um analgésico, mas os remédios que você deu eram fortes demais.
-Bom, eu já lhe disse que cada turno organiza os remédios da forma que preferem.
A xícara fumegante foi colocada sob o pedaço de mármore escuro, um metro e meio no máximo separando nossas realidades tão distantes. Foi a curiosidade que me fez aceitar o convite e não imaginei que me sentiria tão desconfortável.
-Sim, você comentou isso - Jiton soprou o chá antes de tomar um gole - Mas isso é estranho, não é?
-Seja mais claro.
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O Vazio das Chamas
Fiksi PenggemarUm incendiário. Um perfilador. Um sobrevivente. Um agressor. Deidara, um universitário tentando lidar com o vazio que as chamas deixaram. Obito, um perfilador em busca de um sentido a amais para a sua vida. Sasori, um residente em cardiologia sem co...