Sasori, 39 anos
Eu quero ter isso
Eu quero a fúria
Eu quero ser como o juiz e o júri
Do lado de fora tudo parece certo
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No começo eu não conseguia entender a fixação do Hiruko com colocar fogo nas coisas aleatórias que ele encontrava pelo quarto que dividimos no orfanato. Folhas arrancadas dos cadernos, fios de cabelos que ficavam na escova, brinquedos e livros, qualquer coisa que ele pegava, em pouco tempo ela se tornaria cinzas.
A primeira vez que vi ele brincar com fogo, me lembro perfeitamente dos olhos castanhos abertos e brilhando, a boca um tanto aberta e a respiração agitada. Ele segurava diante do rosto algumas folhas brancas nas mãos que eu consegui identificar como sendo as provas que fizemos alguns dias antes. O fogo cresceu e se espalhou por elas, mandando sua cor e estrutura molecular num ciclo de reação agressiva, as chamas pequenas dançando nos seus olhos escuros. Foi só depois que ele quebrou o restante da folha carbonizado nas mãos e deixou as migalhas serem carregadas pelo forte vento do lado de fora que ele notou minha presença ali.
Era uma expressão de adoração, plenitude e uma grande paz que nunca entendi, nunca tinha experimentado algo assim em toda a minha vida.
Quando vi aquela expressão pela terceira vez, perguntei a ele mais por irritação do que curiosidade.
-Por que você faz isso?
Hiruko limpou as cinzas da ponta dos dedos antes de me responder com a mesma locução que nossos professores usaram na aula de hoje para explicar sobre a origem da vida.
-Não é lindo ter poder sobre algo tão ambíguo como o fogo? Ter o poder de acabar com seu potencial destruidor com um simples sopro é... meu coração se acelera só com isso.
Não fazia a menor ideia do que ele falava, pois exceto os picos de adrenalinas que os exercícios causava no meu corpo, nunca tive essa experiência, nunca soube o que é o coração bater mais forte por um sentimento ou por medo, nunca provei das pequenas emoções corriqueiras aos meus colegas.
Me deitei na cama para ler um dos livros de ciências que consegui pegar na biblioteca, sem nenhuma animação para conversar com ele. Hiruko não se importou com meu descaso. Ele se agachou perto da minha cama, encarando uma pequena teia de aranha que estava na perna da cama, possivelmente foi tecida durante nosso tempo na aula. Ele riscou um fósforo grande e aproximou a chama de uma aranha presa em sua teia. O artrópode se encolheu, como se desejasse se esconder nas suas patas mas não soubesse como.
-Às vezes, eu penso em como seria prender o Kujira, o Nobutoshi e o Nagazawa numa sala e ver eles se retorcendo como essa aranha. Será que eu teria compaixão também?
Ele afastou o fósforo já pela metade da aranha, só para perfurar seu corpo com o que sobrou do palito. Ainda presa na teia, a aranha se contorceu e encolheu até ser um pontinho preto e mais nada.
Kujira, Nobutoshi e Nagazawa eram os três garotos mais velhos do nosso alojamento que implicam conosco, quer dizer, comigo. Hiruko criou coragem e reagiu quando Kujira o atacou certo dia, com tamanha violência que ele ficou o dia todo na enfermaria. Desde então, eles não provocam mais ele. Já eu, a história é diferente.
-Por que você não reage também?
Ergui meus olhos das páginas amarelas do livro para encarar Hiruko. Ele tocou meu rosto e desceu os dedos até meu pescoço, acho que ele ainda tinha os hematomas verdes e amarelos que os dedos do Nagazawa causaram.
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O Vazio das Chamas
FanfictionUm incendiário. Um perfilador. Um sobrevivente. Um agressor. Deidara, um universitário tentando lidar com o vazio que as chamas deixaram. Obito, um perfilador em busca de um sentido a amais para a sua vida. Sasori, um residente em cardiologia sem co...