𝗰𝗵𝗮𝗽𝘁𝗲𝗿 17

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Kenma havia marcado algumas das páginas do livro que agora segurava aberto em suas mãos, sentada na ampla sala de estar no sofá recém limpo e incrivelmente cheiroso lia alguns dos versos preferidos do loiro atentamente, encantada por cada palavra que ele gostou o bastante para marcar. Toda Poesia, de um autor chamado Paulo Leminski era o que outro havia lhe recomendado indiretamente a ler mais cedo, e sendo de propósito ou não pouco importava, era muito bom afinal então estava agradecida! A capa laranja escura e folhas amareladas com partes riscadas com caneta preta deixava-a ansiosa para ler a próxima marcação e então a outra e a outra até terminar e isso ocorreu pelo o que parecia ser horas desde que saiu da biblioteca mais cedo, mas de repente se encontrou estagnada naquela última página marcada que trazia-a nada além de uma sensação calorosa e amena ao peito, uma coceira em seu coração como algo que deveria significar mais do que os olhos vêem, fazendo com que você apertasse seus lábios juntos e encarasse aquele trecho com orbes cintilantes, sem ar

"Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não"

Distraidamente imaginou o instante em que o homem a sublinhou, provavelmente sentado em algum lugar minimamente confortável tarde da noite quando finalmente teve algum tempo para si mesmo. As sobrancelhas franzidas com qualquer que tenha sido o sentimento que lhe tomou o peito naquele rápido segundo de decisão, levando os dedos esguios para se curvarem envolta da caneta escura antes de deslizar-lá pelo papel com a luz do luar adentrando as vidraças ao lado, refletindo em seu rosto bonito e acentuado em feições tão suaves e concentradas que ficava cada vez mais difícil de encarar. Era tão estonteante a imagem que se formou em sua mente que prendeu a respiração como se estivesse lá! Molhou os lábios ao mesmo tempo em que fechou o livro com força antes de jogá-lo para o lado com o peito cantando algo. O som da capa dura se chocando contra o amontoado de folhas abaixo ecoou por seu corpo distraído mas não estava preocupada, o apartamento se encontrava em um profundo silêncio desde que a equipe divertida da limpeza se retirou com suas músicas felizes, não havia ninguém além de você e Kenma no lugar exageradamente grande e com ele do outro lado do corredor não chamaria a atenção para si com qualquer que fosse o barulho, ele estava apenas concentrado demais com seus afazeres para ligar. 

Balançou a cabeça suavemente, não importava o que o outro gostava ou não de ler em suas horas livres, não importava a maneira como a caligrafia dele era estupidamente elegante e cursiva, nada importava porque você não dava a mínima para isso. Sim! Confirmou para si mesma com um aceno, dane-se! Preparando-se para levantar com os pés descalços tocando o carpete devidamente limpo, caminhando até a cozinha em busca de um novo copo com água gelada. 

Havia suco de maracujá natural na porta da geladeira duplex e bolo de morango cortado em um pote na primeira prateleira, ambas refeições e bebidas feitas exclusivamente para si por Kanae e as outras mulheres que insistiam em mimá-la mesmo não tendo feito nada para ganhar tal atenção e generosidade, não incomodava ter alguém se preocupando com os seus gostos pessoais de qualquer forma então deixava-as fazer o que quisessem, olhou e olhou no interior do eletrodoméstico antes de recolher uma das vasilhas transparentes com tampa preta, pescando uma colher na gaveta do balcão embaixo da pia antes de puxar e se sentar em uma das cadeiras postas ao lado da mesa comprida, ignorando seu lugar habitual na ponta para não precisar encarar a outra extremidade vazia com a sensação de solidão no estômago, comendo tranquilamente. 

— Hum, nossa! — Cantarolou para si mesma, impressionada com a maciez e doçura da massa, sorrindo com uma generosa parte do doce na boca. As bochechas estavam cheias como um esquilo guardando nozes e o canto dos lábios sujos com chantilly. — Muito bom, meu Deus! 

𝗵𝗼𝗹𝗱 𝗺𝗲, 𝗄𝗈𝗓𝗎𝗆𝖾 𝗄𝖾𝗇𝗆𝖺.Onde histórias criam vida. Descubra agora