𝗵𝗼𝗹𝗱 𝗺𝗲, 𝗄𝗈𝗓𝗎𝗆𝖾 𝗄𝖾𝗇𝗆𝖺.

𝗰𝗵𝗮𝗽𝘁𝗲𝗿 23

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Tetsurō Kuroo definitivamente a odiava, a odiava tanto que se estivessem no deserto agora e por algum milagre ele portasse uma garrafa de água na bolsa, beberia na sua frente e não lhe daria uma única gota! Chorava, de verdade, a cada vez que ele a obrigava a levantar o peso em suas mãos, os músculos de seu braço gritando por socorro tão alto que conseguiria ouvir se parasse de fungar e xingar em voz alta, e quando se sentia minimamente aliviada por não estar com dor por um segundo ele aparecia como o diabo para mostrar que não estava doendo porque estava erguendo errado. Decidiu que nunca mais abriria sua boca para provocá-lo por qualquer coisa, estava inclusive disposta a se converter para o cristianismo se ele acidentalmente tivesse um infarto agora, olhou-o de soslaio ao terminar a linha de pensamento cruel e claramente estava sendo uma dramática e não tinha Deus nenhum em suas costas porque o filha da mãe ainda estava muito vivo. 

— Consigo sentir seu ódio daqui. — Ele brincou segundos depois, não encarando-a diretamente ao virar a página de uma revista em mãos. Da onde diabos ele tirará ela!?. — Menos questionamento e mais foco, gatinha. 

— Eu te odeio. 

— Aham, levanta o braço. 

Depois da tortura física e psicológica bebeu uma garrafa de água inteira de uma vez, primeiro porque estava pensando sobre o deserto e queria acabar com a paranóia idiota sobre faltar o que beber e segundo porque seu corpo estava claramente desidratado, tudo bem estava sendo dramática de novo mas, se sentia até mais leve depois do treino, como se as máquinas tivessem sugado sua vitalidade, e como alguém poderia treinar e se sentir bem e pleno depois? Precisava aprender a alcançar essa paz de espírito em breve ou mataria alguém antes de precisar!

— Minha cabeça dói, minhas pernas doem, meu corpo dói.. — Resmungava, esticando as panturrilhas apenas para choramingar em seguida. Jogou sua cabeça para a apoiá-la na bolsa fechada atrás, sentindo falta do antigo emprego. Kuroo ria como se soubesse, revirou seus olhos. — Minha água acabou, pega mais para mim. 

— Qual a palavrinha mágica? 

— Vá antes que eu jogue meu sapato na sua cara!? 

— Engraçadinha. — Ele exclamou, sorrindo falsamente ao se desencostar dos armários para caminhar em sua direção, recolhendo a garrafinha transparente e vazia de suas mãos mesmo assim.

Sorriu para si mesma ao assisti-lo se afastar, fechando seus olhos para apreciar o fato de estar parada por algum tempo, seu corpo se acostumaria em algum momento no futuro, logo não seria mais tão difícil e isso a confortava de uma maneira boba. Sentiu o plástico gélido contra seu rosto quente segundos depois, xingando ao deparar-se com o moreno sorridente a sua frente.

— Beba tudo, ok? 

— Ok 

Tentava lembrar-se de todos os momentos em que o homem esteve ao seu redor, porque sabia que em algum instante no passado sentiu medo dele, mas agora parecia um sentimento tão distante e improvável que custava a acreditar que fora real. Ele queria proteger Kenma de uma provável espiã inimiga, e não o culpava por isso, o quão longe alguém iria para fazer um serviço direito? Nessa vida, – pelo menos você imaginava, já que ainda não vivenciou de perto – eles deveriam ir além de uma facada no ombro para se fazer de vítima para algum líder de facção criminosa, e ao olhar experiente de uma pessoa como o Tetsurō pensava que era ainda pior, o que ele já viu nesses trinta e um anos de vida? O que ele já fez por Kenma!? Quanto sangue à em suas mãos calejadas, quantas mortes assombram seus sonhos e quantos inocentes desmanchou seu sorriso divertido e animado? Uma parte sua queria fazer todas estas perguntas à ele, queria saber de tudo para ter a falsa sensação de estar preparada para qualquer coisa que acontecesse no futuro mas, uma parte escura e medrosa que ainda chorava sobre um ombro esfolado não queria ouvir uma palavra, não queria escutar uma única frase que começasse com "no dia que eu o matei" na vida e entendia ela mais do que qualquer um, era você afinal.