𝗰𝗵𝗮𝗽𝘁𝗲𝗿 04

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Você ainda estava com dificuldade para aceitar que tudo aquilo era uma situação real e não um pesadelo monótono após uma maratona fracassada de filmes de terror, alguém realmente invadiu sua casa? Iria matá-la? Nada parecia certo, não importa a maneira como pensasse sobre isso, era absurdo, irrealista, improvável de acontecer. Beliscava sua coxa com a mão boa toda vez que o sono ameaçava espreitar por seus olhos, fazendo-a piscar mais lentamente com o pescoço se inclinando para o lado, e se despertava com a mesma esperança boba de ainda estar deitada em sua cama, estaria tão quente e confortável entre as cobertas recém compradas, ainda tinham o cheiro de novo e o perfume que usava para trabalhar, embaixo do travesseiro estaria um livro que prometera a si mesma que leria mas sequer lembrava seu título, o notebook sobre a cômoda com as suas atividades acumuladas, com certeza ficaria atrasada com as matérias, e o celular com a tela quebrada ao lado da cabeça em seu carregador, pronto para fazê-la resmungar de manhã quando um novo dia chegasse. 

Porém, obrigava-se à erguer seu rosto exausto logo em seguida quando sua mente já estava se perdendo na falsa sensação de segurança, obrigando-se a olhar para o tapete vinho que não combinava em nada com a decoração apenas para observar o corpo caído sobre ele atentamente, precisava olhar ou se deixaria cair na ilusão de estar bem e não, você não estava nada bem, muito longe disso, estava péssima. Ainda havia uma faísca calorosa de otimismo escondida em seu interior entretanto, como uma chama crepitando envolta da neve lutando para sobreviver por mais um segundo, sussurrando que você ainda respirava o que a momentos atrás pareceu que não poderia mais ser possível, lembrando-a que seu corpo estava apenas ferido e não desmembrado como fora ameaçada, obrigando-a a ver as partes boas, se é que poderia acreditar ser, não fazia idéia do que aconteceria dali em diante tão pouco conseguia entender os pensamentos do homem que prometeu a salvá-la então ainda não podia simplesmente se sentir aliviada por estar viva, precisava esperar um pouco mais. 

— Roupas? — Kenma questionou com um inclinar de cabeça suave, seus fios deslizando de trás de sua orelha no processo, como uma cortina. Olhava-o em silêncio do outro lado do cômodo. — Porra, não sei escolher essas merdas..

Observou com olhos curiosos a bolsa que ele segurava em suas mãos agora limpas, se tratava de uma bagagem para viagem, tinha uma perdida em cima do guarda-roupa que usara para se mudar anos atrás então a conhecia bem. Não era grande e muito menos espaçosa, apenas boa o suficiente para alguns pertences pessoais importantes e não dispensáveis, o zíper curvado em quadrado na parte superior se encontrava aberto desde que ele a deixou quieta em sua zona "segura" entre as pernas da cama e a cômoda para começar a vasculhar suas coisas em busca de objetos que você poderia precisar no caminho para Deus sabe onde, sequer mencionou para onde estava a levando então não tinha certeza do que precisaria, se deveria opinar ou não. 

—.. Você precisa de um banho mas não temos tempo para isso, vou ter que esconder o seu corte sobre algum casaco... — Ele continuou divagando para si mesmo, analisando com as sobrancelhas unidas a peça social que achou entre suas vestes. 

— .. Não consigo mover meu braço.. — Murmurou com o rosto ameaçando esquentar, reprimindo seus lábios ao imaginar a dor que seria fazer o movimento. 

— Não vou forçar-lá a usar. — Ele se tornou sério, não obrigaria você a sentir dor apenas para esconder seu ferimento sobre alguma manga apertada, mas era óbvio que precisava, as pessoas ficariam horrorizadas de vê-la daquela forma, conhecida ou não, chamariam a polícia no mesmo instante. — .. Sei o que você está pensando, e vai doer. 

— Também soube que eu iria pular.. — Exclamou pensativa, o rosto irradiando curiosidade, notando só agora o quão bem ele conseguia ler suas expressões desde o momento em que pisou naquela casa. Ele ergueu o queixo com o olhar brilhando, os ombros retos, estava se sentindo extremamente orgulhoso em ter acertado nas duas vezes. — Como? 

𝗵𝗼𝗹𝗱 𝗺𝗲, 𝗄𝗈𝗓𝗎𝗆𝖾 𝗄𝖾𝗇𝗆𝖺.Onde histórias criam vida. Descubra agora