𝗰𝗵𝗮𝗽𝘁𝗲𝗿 10

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Não teve coragem para olhar para trás uma única vez ao deixá-lo no sofá enquanto caminhou para o quarto, – mesmo que sua vontade fosse a de o fazer desesperadamente! – sentia que não deveria porque de alguma forma estranha significaria algo, não soube explicar ou nomear o sentimento que pareceu iniciar uma suave linha dentre suas veias até chegar ao seu coração, muito provavelmente era apenas à sua imensa gratidão pelos dias tranquilos que tem vivido falando mais alto que qualquer outra coisa mas ainda não queria arriscar o suficiente para descobrir. Entretanto uma coisa era certa, você realmente desejou olhar para aquela expressão em seu rosto com mais atenção por pelo menos um segundo, porque aquele homem impassível e indecifrável derrubou suas barreiras por um instante, e fora aquele momento ao olhar em seus olhos após o simples ato de apertar suas mãos que as fez cair!

Mas infelizmente não saberia o que fazer ou dizer com aquela clareza transparente exposta tão de repente, Kenma era uma criminoso certamente perigoso procurado por outros bandidos e possivelmente pela própria policial então o que iria ouvir se ele decidisse se abrir em algum momento!? Sempre pensou em sua vida sendo nada mais do que miserável por todos os pequenos empecilhos que surgiram em sua trajetória até ali mas gângsters!? assassinos? Isso estava fora dos seus padrões de aconselhamento! Ele jogaria suas dores em seus braços e você se tornaria perdida com o peso de seus pecados em suas mãos, duvidava se sequer aguentaria ouvir cada situação traumática que o mesmo vivenciou ou fez outros vivenciaram sem vomitar aos seus pés porque realmente não tinha o que fazer, alguém como ele já deve ter visto e ouvido tantas coisas inimagináveis, porque ele esteve vulnerável quando o conheceu e mesmo que estivesse com dor ou medo ele nunca pediu ajuda, o que se quebrou dentro dele forte o suficiente para o impedir de confiar? Você não estava pronta para saber, não agora.

Entrou por fim ao cômodo com as íris um pouco perdidas na penumbra à frente pela falta da luminosidade das lâmpadas comumente apagadas acima, diferente da sala que sempre estava tão clara que doía os olhos lá sempre estaria escuro. Abraçou o próprio corpo após travar a fechadura do lado de dentro antes de suavemente caminhar em suas meias até as vidraças reluzentes com a claridade da cidade por toda a parte do assoalho e tapete ao chão, havia a movimentação dos carros na avenida agitada e o estranho conjunto de sons em abundância ao mesmo tempo e em vários lugares distintos lá embaixo, não incomodava de qualquer forma então apenas se sentou sobre a poltrona com os pés apoiados à frente, deitando a cabeça em seus joelhos cobertos ao admirar a vista lá fora com o coração doendo em seu peito, sentia saudades de caminhar pela rua à noite como nunca cogitou sentir antes, e era engraçado como pequenas coisas como estas faziam tanta falta quando lhe era negado o direito de as fazer como e quando quisesse. 

Começou a sentir as pálpebras pesadas a cada piscar de suas orbes uma hora depois, o sono espreitando a sua volta enquanto o ruído mínimo que tinha de fora se tornava cada vez mais escasso e distante por dentro. E entre um olhar e outro observou diferentes coisas quase que ao mesmo tempo, e se não fossem aqueles leves intervalos entre o consciente e inconsciente fazendo-a vacilar teria prestado mais atenção, havia os números em verde claro no relógio mostrando ser mais de duas horas da manhã, houve o momento em que um homem abraçou sua esposa na sacada do prédio à frente com um largo sorriso em seu rosto masculino e borrado, e então as luzes se misturando em pequenas estrelas e constelações imaginárias antes de ser vencida pelo cansaço de seu corpo, a cabeça tombou para o lado em seu ombro e suspirou profundamente ao que uma fina e solitária lágrima deslizou por baixo de seus cílios, trilhando um caminho até seu queixo caindo ao chão com uma única gota salgada, sonhou com Alisa.

Quase dois dias depois e enfim você conheceu os responsáveis por manter aquela casa tão impecavelmente limpa! Eram quatro mulheres e um único homem, elas tinham entre quarenta e sessenta anos, da mais nova para a mais velha, e trabalhavam para a família Kozume há mais de dez anos. Elas lavavam, passavam e cozinhavam com risadas e músicas entre elas com uma facilidade assustadora, o que não pôde passar despercebido por seus olhos curiosos ao sentar-se no sofá para observá-las em silêncio, não queria ser um empecilho e elas não aceitavam sua ajuda não importa quantas vezes se oferecia para auxiliá-las em algo, diziam que você deveria estar fazendo outra coisa ao invés de limpando e a observação a fazia rir, elas lembravam a maneira como Kenma havia ficado irritado ao vê-la no chão outra dia, era adorável. 

𝗵𝗼𝗹𝗱 𝗺𝗲, 𝗄𝗈𝗓𝗎𝗆𝖾 𝗄𝖾𝗇𝗆𝖺.Onde histórias criam vida. Descubra agora