Quer ficar sozinha?

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Stéfani:

Depois que conversamos aquela noite e beijei sua bochecha, notei que o clima entre nós estava um pouco mais leve. Compramos roupas pela manhã por mais que estivéssemos cercadas por seguranças, era algo comum pra ela então encarei como algo normal... já no outro dia ficamos o dia todo distantes, ela trabalhava ao longo do dia enquanto eu tentava focar em alguma coisa.

Saímos no sábado pela manhã e ela me levou por não querer que eu ficasse sozinha... Mas voltamos pra casa quase em horário de almoço e dessa vez sua mãe estava lá. Era sábado, e como Bianca havia dito ainda bêbada, sua mãe chegaria no fim de semana. Não só Márcia, mas também Muryllo... era uma reunião em família, e ela estava a flor da pele.
Depois de Mirella me apresentar, beijar o rosto da mãe e abraçá-la, sentamos todos a mesa naquele silêncio terrível, Márcia encarava os três filhos que se evitavam a um tempo. Bianca comia em silêncio ao lado da esposa, Mirella sentada ao meu lado enquanto Muryllo a encarava com desprezo, Beatriz e Isabella comiam entre brincadeiras ao lado da mãe e Márcia se mantinha séria na cadeira principal da enorme mesa.

- Márcia: Vão ficar como crianças birrentas no auge dos 10 anos?

- Mirella: Não tenho nada a dizer então quero permanecer calada. Será que posso?! - questionou convicta erguendo o olhar para a mãe.

Muryllo riu provocativo e Mirella revirou os olhos, Márcia suspirou pesado e Bianca riu de canto... seja lá o que estivesse acontecendo, eu previa uma briga.

- Muryllo: Eu vou dar uma volta. - ele colocou os talheres ao lado do prato. - Quanto mais longe de você, melhor. - disse olhando para Mirella.

- Mirella: Vai lá, aproveita e volta só na hora de dormir. É um desgaste pra minha visão ter que ver você transitando no mesmo ambiente que eu.

Aquelas poses de durões pareciam sumir quando a família se reunia e ali eu só via pessoas que aparentemente se odiavam tendo que montar uma imagem e conviver em conjunto num maldito fim de semana.

- Muryllo: Eu o amava, ok Mirella? - ele voltou atrás. - Deveria ter consciência disso.

- Mirella: Não, você não amava. - ela alterou o tom de voz. - Você só não queria ficar sozinho, talvez ele fizesse bem ao seu ego ou talvez melhorasse sua vida imprestável. Mas você não amava ele,
porque não se destrói a pessoa que você ama!

A morena concluiu se levantando da mesa, deixando todos estáticos. Até mesmo suas filhas.

Me impulsionei a levantar e ir atrás dela, mas sua

mãe me parou no meio do caminho.

- Márcia: Mirella precisa ouvir algumas verdades, posso ir primeiro?... - ela me pediu paciente e delicada, e eu assenti.

Mirella:

Eu estava no meu quarto, em silêncio sentada na cama enquanto sentia meus olhos marejarem e o ódio subir a cabeça outra vez

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Eu estava no meu quarto, em silêncio sentada na cama enquanto sentia meus olhos marejarem e o ódio subir a cabeça outra vez. Minha mãe passou pela porta a fechando outra vez, o eco da batida foi ouvido em todo o quarto e por fim sua voz firme soou outra vez.

- Mirella: Eu sei que não quer que ele aprenda da pior forma e se sinta como você se sente, mas essa decisão não é sua. Seu irmão não tem mais 6 anos, deixe-o quebrar o coração sozinho e cura-lo da mesma forma.

- Mirella: Não vê que ele está se matando aos pouquinhos? - questionei rouca, falha.

- Márcia: Vejo, e você também prevê-lo futuro disso porquê assim como eu, também está morta por dentro.

- Mirella: Não estou.

- Márcia: É um vazio total e sombrio que você tem aí dentro, Larissa. - ela se aproximou aos poucos. - Nada o preenche, não é? - eu engoli em seco. - Nem comida, bebida ou mesmo sexo.

- Mirella: Cala a boca. - pedi gélida e ela segurou meu maxilar com força, mantendo minha coluna ereta enquanto eu a encarava com raiva.

- Márcia: Você força sorrisos, coloca a máscara de frieza e mente pros seus irmãos e pra você mesmo... mas não pra mim! Eu vejo você por dentro, Mi... eu vejo, como está arrasada, indefesa e frágil, Você não pode vencer e sabe disso... mas continua lutando...

- Mirella: Já falei pra calar a boca! - soou ríspido, enquanto minha fragilidade era demonstrada em lágrimas.

- Márcia: Você não tem fome de vida... porque por dentro já está morta. Você tira vidas pra satisfazer o seu ego e poder... sempre sobre um pedestal onde ninguém pode ousar tentar te alcançar... essa é você.

um tapa foi deixado em meu rosto e pude sentir aquilo queimar como o inferno, minha mãe se mantinha a me encarar.

- Márcia: Você pode ser a porra de uma grande empresária, chefe da maior máfia da América Latina, e uma psicopata e assassina de merda... mas não ouse se dirigir a mim com alta voz outra vez. - ela disse com o dedo apontado ao meu rosto.

Eu só queria xinga-la ou dizer o quanto a odiava em certas situações. Queria dizer a ela que culpa da dor que eu carregava era pelo motivo dela ter sido tão distante desde a morte do nosso pai.

Mas ela saiu, saiu pela porta sem me deixar dizer mais nada e eu fiquei em silêncio.

Stéfani:

Depois que vi Márcia descer as escadas enxugando disfarçadamente algumas lágrimas, ela se despediu de mim com um abraço rápido e sussurrou no meu ouvido um pedido, que cuidasse de Mirella.

Bati na porta do seu quarto e ela continuou em silêncio, depois que ouviu minha voz pediu que entrasse. Provavelmente só não queria ver a
família outra vez... adentrei o quarto e fechei a porta assim como pediu. Eu nunca havia entrado lá, mas era enorme, bem arquitetado e com detalhes decorativos únicos.

- Stéfani: Está tudo bem? - questionei paciente sentando ao seu lado enquanto ela evitava olhar pra mim.

Ainda estava sentada, virada para a vista que podia ter através do vidro que servia como parede para seu quarto. Se perdia naquela visão intercalando entre o verde das árvores e o céu nublado quase em chuva.

- Mirella: Estou bem. - notei a mentira e o desprezo em sua resposta, e quando ela me olhou, vi a marca estampada em vermelho causada pela irritação da agressão na pele.

Mirella:

Stéfani não me olhou com pena, e aquilo era bom. Eu merecia e sabia disso. Ela também...

Sua mão delicada e macia tocou meu rosto, exatamente onde minha mãe havia marcado com o tapa. Um carinho foi feito ali enquanto nos olhávamos com paciência, sem maldade.

- Stéfani: Quer ficar sozinha?

Neguei e ela assentiu em silêncio.

Stéfani:

Sua mão tocou minha coxa despida e eu levei a
mão que tocava seu rosto até sua nuca, afagando
e causando um atrito com as unhas. Ela fechou os
olhos e deixei um beijo demorado sobre a recente
marca vermelha... Mirella me puxou pra perto e a
prendi em um abraço...

- Mirella: Por que insiste em se aproximar de mim?
- questionou rouca, baixo.

- Stéfani: Eu não... eu não sei... - sussurrei falha, em
um fio de voz rouca.

Eu me vi confusa, não tinha resposta para aquela
bendita pergunta.

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