Apenas nós

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Mirella:

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Mirella:

Caminhei até Lipe e o observei analisar os homens que colocavam algumas malas no jatinho. Ele fumava um cigarro em silêncio, quieto em um canto...

Estava terrivelmente frio aquela noite, me mantive estática ao seu lado e o olhei de relance. Retirei do bolso do sobretudo preto um cantil personalizado que dentro possuía o maldito e viciante whisky irlandês.

- Lipe: Tudo bem? - ele questionou rouco.

Assenti milimetricamente ainda em silêncio.

- Lipe: Então por que está tão estranha?

- Mirella: Eu... não sei. - confessei.

Guardei a bebida novamente e ele me analisou por alguns segundos enquanto ainda fumava.

- Lipe: Conclui o que pediu a 1 mês atrás... os números para contato com Viviane Bays e o celular descartável foi colocado na sua bolsa. - ele disse paciente. - Pode dizer a ela, e entregar os objetos necessários assim que quiser.

A pista de voo ficava um pouco longe da casa, tratei de ir depois pois havia ficado para resolver algumas últimas coisas.

- Mirella: Então ela está livre... - sorri de canto e Lipe assentiu. - Você foi mais rápido do que imaginei.

- Lipe: No fundo não queria que eu falasse isso, não é? - ele questionou e eu concordei.

"Você é a arquiteta da própria infelicidade" Bianca costumava dizer.

- Mirella: Arquiteto a minha própria infelicidade.

Lipe se manteve em silêncio e meu olhar ficou disperso, minha garganta secou e meu maxilar travou. Caminhei em passos lentos até a escada que me levaria para dentro da aeronave. Notei que Rafa dormia em uma posição desajeitada apoiada sobre o corpo de Bianca, Isabella entretida em olhar pela janela Beatriz entediada enquanto analisava a irmã.

Sentei ao lado de Stéfani e parei pra refletir que talvez aquelas horas de voo seriam nosso último tempo juntas. Deitei a cabeça em seu ombro e ela de uma forma desengonçada acariciou meu pescoço enquanto eu sentia suas finas unhas arranharem lentamente a região.

Ela estava livre...

Seu nome era quase inexistente agora, poucos sabiam do sequestro que ocorreu a exatamente um mês atrás e... muitos dos que poderiam a colocar em risco estavam mortos. Sua família ainda tinha a proteção dos meus seguranças por mais que nem soubessem disso.

- Stéfani: O que aconteceu? - ela questionou baixo e eu ergui o rosto para olhá-la.

Tentei evitar o assunto, não queria falar sobre isso agora. Ela compreendeu e voltamos a antiga posição, respirei fundo e ela deixou um beijo demorado na minha cabeça

(...)

Stéfani:

A intimidade pareceu crescer depois que ela confessou gostar de mim e gostar do que tínhamos.

Era uma ilha magnífica, mas não dava pra ver muito por conta da imensa escuridão da noite. Entramos para dentro de outra luxuosa mansão e... dessa vez ficamos no mesmo quarto. Só que... seu silêncio extremo me incomodava um pouco.

Deitamos na cama mas ainda nos encontrávamos tímidas pra algo mais intenso. Ficamos ali enquanto ela mexia no notebook e eu apertava os botões do controle da maldita TV em busca de algo que me tirasse daquele tédio. Ela parecia concentrada e eu não queria perturba-la.

Acabei caindo no sono...

(...)

Procurei Mirella pela cama e não encontrei, eu estava sozinha. Sentei na cama com dificuldade e liguei o abajur... notei que já era quase manhã e ao observar ao redor, a vi sentada numa poltrona em silêncio. Aparentava estar desconfortável.

- Stéfani: Não consegue dormir? - questionei rouca.

Ela movimentou a cabeça milimetricamente confirmando que não conseguia. Esperei em silêncio e ela por mais que relutasse em falar... se permitiu dizer. Ela abraçava as pernas enquanto se mantinha coberta com um edredom escuro...

- Mirella: As vezes dura a noite inteira. - soou rouca. - E quando estou deitada fico paralisada ouvindo o barulho das sirenes e a repetida voz do noticiário... escuto a voz soar lentamente recitando milhares e milhares de vezes o nome dele.

Ela suspirou pesado e eu me mantive estática escutando.

- Mirella: Eu tento fechar os olhos e posso ouvir o advogado dizer que ele seria levado ao corredor da morte. Daí... eu rezo.

- Stéfani: Reza? - questionei baixo.

- Mirella: Rezo pro sol bater na cortina antes que o telefone toque informando que ele havia falecido cumprindo a pena de morte.

Não pude ver suas lágrimas, mas podia perceber em sua voz embargada que estava prestes a chorar.

- Mirella: E quando não dá tempo de rezar eu apenas desejo.

Ela calou-se colocando a respiração em ordem, procurando palavras para se expressar.

- Mirella: Estamos sempre entre a vida e a morte... esperando para continuar. E no final não temos decisão... nos aceitamos e fazemos as pazes com o diabo, seguimos em frente.

- Stéfani: Você tem a inteligência do seu pai e a maldade da sua mãe. Eles brigam dentro de você... - pude ver que ela me olhou. - Deixe seu pai ganhar.

- Mirella: Eu deixo uma trilha de corpos por onde passo... a parte da minha mãe nunca vai morrer dentro de mim. - notei sua voz chorosa.

- Stéfani: Ei.. - me levantei me aproximando e agachando próximo a ela. Ela ainda abraçava as pernas e se mantinha estática. - Não faz assim.

- Mirella: Eu não me tornei assim porque eu quis... foi minha mãe quem me arruinou. - ela respirou fundo. - Sou uma abominação e não quero te arrastar comigo pro fundo do poço.

Mirella era manipuladora, tinha sede de poder de controle, de castigo. E todas as ações eram motivadas por apenas uma parte dentro de si...

Mas qual era?

A solidão. E ela odiava isso.

Quem Mirella tinha de verdade, sem forçar a lealdade com seu poder aquisitivo, sua frieza e sede de sangue assustadora? Ninguém.

O legado de morte feito por ela e pela família nunca morreria, eram a definição de maldição.

- Stéfani: Sem fundo do poço. - toquei seu rosto o erguendo. - Apenas nós.

Me levantei e a dei a mão, ela levantou e fomos para a cama. Apaguei a abajur e a puxei para se aninhar em meu corpo, a abracei transmitindo toda segurança que podia.

Mirella:

Deitei em seu peito escondendo o rosto na curva do seu pescoço. Sua respiração lenta emanava próximo ao meu ouvido enquanto eu sentia suas mãos se perderem em um carinho entre meus cabelos, beijos eram deixados no topo da minha cabeça e eu me prendia a ela abraçando sua cintura.

- Stéfani: As vozes não vão te incomodar... - ela sussurrou em um fio de voz. - Somos apenas nós.

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