Domingo

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(play em lovely)

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5 dias após a prisão.

Lipe:

Era uma tarde de domingo e mesmo que eu quisesse cumprir o pedido de Mirella em levar suas filhas para passear, eu não podia. Estava chovendo.

Eu e a senhora Bragança observávamos ambas as garotas brincar com o cachorro ganho no tapete da sala. A mais velha, de olhos verdes como os da filha falecida me olhou com piedade e eu engoli em seco.

Compartilhávamos da mesma dor. Mirella havia morrido, essa informação já estava espalhada entre os policiais corruptos de dentro da CIA. Um dos subornados havia me contado na noite anterior e depois disso bebi até dormir...

- Beatriz: Quando a mamãe volta? - Beatriz me pegou de surpresa.

Engoli em seco e meus olhos marejaram. Virei de costas e analisei a vista lá fora enquanto ouvia os questionamentos da pequena...

- Luiza Bragança: Ela foi a uma viagem, querida. - a mulher disse com uma voz convincente.

A garota pareceu se convencer e eu me mantive em silêncio. Luiza me abraçou de lado de deitou a cabeça em meu ombro... ela tinha o colar de prata da morena em uma de suas mãos, o segurando... parecia tentar tê-la por perto de alguma forma. Meu maxilar travou e lágrimas escorreram pelo meu rosto...

- Luiza: Tenta descansar querido. Você já não dorme a dias...

- Lipe: Eu fico deitado escutando o barulho das

armas engatilharem e os chutes para arrombarem os portões. Consigo reviver os momentos escondidos atrás das árvores enquanto a observava se ajoelhar e os agentes mirarem armas em sua cabeça.

Quando a chuva cessou no fim de tarde, sai para respirar um pouco. Eu me encontrava devastado, minhas expressões só demonstravam dor...

Por um momento vi o quanto estava perdido, o quanto

me parecia inútil viver. Saquei a arma e a apontei pra

minha própria cabeça.

A voz delicada e feminina, parecida com de Mirella soou como uma salvação.

- Isabella: Mamãe ficaria brava se fizesse isso... - a garota disse frustrada.

- Lipe: É... ela ficaria. - abri os olhos e soltei a arma.

- Isabella: Não estamos bem, não é? - ela questionou inocente e eu a olhei com delicadeza. - Posso te abraçar?

Eu agachei pra ficar da sua altura e seus bracinhos me rodearam pelo pescoço. A peguei no colo e me reergui outra vez. Ela deitou a cabeça em meu ombro...

- Isabella: A vovó mentiu sobre a viagem... -ela disse quase convicta. - Acho que somos só eu, você e a Bea.

- Lipe: Somos eu, você e a Bea. - eu disse com a voz

embargada.

Rafa:

Bianca parecia desolada, dispersa e já se completavam 26 horas sem dormir.

- Bianca: Aquela idiota foi e nem se despediu. - ela disse com os olhos marejados enquanto segurava uma taça da bebida com maior teor de álcool da Inglaterra. - Ela me disse que estava tudo bem, que era um inspeção mensal.

A taça foi arremessada na parede e a morena se encolheu, suas mãos foram levadas ao rosto e o choro compulsivo voltou. Eu a abracei por horas enquanto ela chorava. Um grito doloroso ecoou pelo quarto e eu vi a mulher que tanto amava se apoiar em meu corpo já sem forças.

Eu já podia denominar que Bianca havia perdido tudo.

Muryllo:

Perdi o ar e me sentei no chão do apartamento.

Mirella havia me ensinado tudo. Me ensinado a amar, a nunca desistir, a sempre lutar pelos meus princípios e agora estava morta.

pela primeira vez na vida não foi adorável estar sozinho.

Tudo que me restava era Bianca.

Meu coração se tornou vidro, frágil. Minha mente uma compilação de dores me deixando abalado, amedrontado... sozinho.

Stéfani:

Já era noite, eu estava deitada na cama. Observava as luzes pelo reflexo na porta de vidro da sacada enquanto apenas vivia. Meu celular tocou e vi um número desconhecido, com DDD europeu na chamada. Qual nunca havia me ligado antes, então rapidamente o atendi.

- Stéfani: Quem é? - questionei baixo.

- Lipe: É o Lipe. - ele disse com a voz embargada. O aperto no peito voltou, minha vista escureceu e eu

tentei respirar fundo.

(...)

Lipe me contou como Mirella mentiu pra mim. Sobre a operação da CIA e sua prisão. Sobre sua morte... Sorri boba quando ele disse que ela havia dito que até casaria comigo.

Depois de que desliguei pareci cair na realidade. Meu corpo deslizou até o chão e eu me abracei. Chorei silenciosamente enquanto sua voz doce soava ao meu ouvido dizendo que voltaria pra me buscar.

Aparentemente tudo que me amava acabava de forma desastrosa. Eu me sentia perdida, sozinha... Me arrependia amargamente por não ter dito com todas as letras que a amava. Por não ter tido coragem de dizer que a queria pra mim.

Narrador:

Stéfani relembrou as memórias a noite inteira. E a única razão de ser apegada a memórias, era pelo fato de que elas nunca mudariam... mesmo que a protagonista delas estivesse morta.

Seu grito de dor foi escutado pela mãe. Que naquela madrugada tentou ajudar, mas tudo ouvido da filha foi: "mãe, sinto dor" Stéfani tinha perdido tudo que lhe foi capaz de transmitir paz, capacidade extrema em demostrar o carinho que sempre lhe foi faltado.

Mirella podia ter sido uma fodida psicopata, mas era o amor da vida de alguém... e esse alguém, agora grunhia de dor nos braços da mãe.

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