07

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Passei o final de semana irritada demais pra sair do quarto. Não chamei Isabelle desta vez, nem escrevi cartas, nem nada. Não sei como administrar isso. Eu estou com raiva, não dele, da situação; Primeiro, eu tenho esse impulso ridículo de beijar ele do nada, não tenho nenhum sinal de aprovação e fico todos os dias seguintes remoendo uma vergonha mortífera, me sinto culpada e até meio triste de ter feito isso. Por um milagre, parece que consigo contornar toda essa situação de merda e superar esse caos, pra aí ELE de repente vir e fazer a mesma coisa?!

E eu nem estou com raiva dele, no fim.

Está de noite e chovendo, de novo. Mas, diferente de quando Isabelle estava aqui, a chuva é forte. Aliás, será que ele trouxe algum amigo pra dentro do castelo? Pra fazer a mesma coisa que eu fiz quando precisei da minha amiga pra me distrair dessa idiotice?... Claro que não, Amelie.

Já roí todas as unhas e já mordi o travesseiro por minutos seguidos. Não ter controle da situação me deixa profundamente frustrada. Quero poder levantar da cama e ir resolver isso agora! E, honestamente, não sinto que tenha nada efetivamente me impedindo de fazer isso. E é o que eu vou fazer.

Desço da cama e, primeiro, não sei bem o que fazer. Busco uma fita pra prender meu cabelo da maneira mais porca e desgrenhada que eu consigo, e pego o primeiro casaco que eu vejo pra vestir por cima do pijama. E saio com a varinha acessa em um luz fraca.

Minha censura diz que eu deveria voltar pro meu quarto e aproveitar o barulho da chuva forte pra dormir tranquilamente. Mas a minha teimosia diz que eu não vou conseguir pregar o olho até sentir que eu tenho o controle da situação de novo, e eu acredito nela.

Não faço ideia de onde ir. Percebo agora que minha barriga está doendo de fome e eu quase sinto vontade de chorar. Posso jurar que senti alguma coisa se movimentar no outro corredor, de maneira que parecia, ao mesmo tempo, apressada e arrastada. Eu sigo, não muito certa se estou indo na direção certa, mas sigo. Escuto, a um corredor de distância, o som de uma porta abrindo e fechando devagarinho. Sinto que eu não deveria ir lá, mas é exatamente por isso que eu decido ir.

Bato na porta apressadamente, mas tentando não fazer muito barulho. Escuto um suspiro pesado antes que a porta abra e só daí já sei que estou no lugar certo. Ou errado, depende do ponto de vista. A porta abre um pouquinho e eu já disparo;

— Preciso perguntar uma coisa!

Primeiro, Lupin parece levar um susto, e depois faz menção de empurrar a porta;
— Hoje não, Amelie.

— Por favor! — imploro, mas num tom mais incisivo do que dócil.

— Não. — ele se mantém firme, a voz mais grave e séria do que absolutamente todas as outras vezes. — Volte pro seu quarto.

Mas eu não quero voltar pro quarto. Coloco o pé no meio da porta antes que ele a feche, e quando fecha eu finjo que abafei um grito. Aproveito os segundos que ele pensou que tinha machucado meu pé de verdade pra empurrar a porta e entrar.

Aqui tudo parece mais escuro do que do lado de fora. A porta fecha, o som dos trincos ecoa nos meus ossos. Todos os meus músculos estão tencionados e há uma luzinha vermelha piscando ma minha cabeça me dizendo que eu estou ultrapassando uma infinidade de limites. E que eu deveria sair dali.

Eu forço meus olhos ao redor do ambiente mas não consigo distinguir muita coisa. Dei dois passos involuntários pra trás e esbarrei em algo, que eu julgo ser uma escrivaninha. Contorno a mesa com a mão na sua superfície para me guiar, por sorte não derrubei nada. Talvez não tivesse nada pra ser derrubado.

— Vamos. Pergunte. — lembro que ele está aqui. O olho de novo, a luz da varinha ilumina pouco mas consigo perceber que ele ainda está escorado com as costas na porta e com os braços cruzados. O rosto muito mais sério do que sempre.

Mr Moony's New Assistant - Remo Lupin Onde histórias criam vida. Descubra agora