02

1.8K 190 84
                                    


Primeira desvantagem de estar sozinha em Hogwarts: Ninguém acorda você.

O café da manhã de Hogwarts começa às 07h30, e vai até as 9h00. Quando eu era aluna, eu e meus amigos costumávamos acordar sempre antes das 07h30 e íamos juntos para o café da manhã. E depois juntos para as aulas. E juntos para o almoço...

E hoje eu acordei 08h36. É claro que eu não tenho que assistir nenhuma aula, mas eu não gostaria de perder o café da manhã.

Parece que a cama me segura aqui, deitada. Meu corpo levemente afundado no colchão macio, as cobertas aconchegando minha pele. A esse ponto, meus olhos pararam de lutar contra a vontade de dormir de novo. E eu estou desperta, embora ainda quieta. E ainda há uma breve sensação de desconforto, de me sentir uma intrusa. Mas eu acho que é normal.

Consigo abandonar a cama a ir tomar um banho. Continua frio como o da noite passada. Mas talvez em me acostume em breve — ou então morra de hipotermia a cada vez que tiver que me banhar.

Outra grande desvantagem de estar em Hogwarts sem ser aluna: não tem uniforme. Tenho que usar as minhas próprias roupas todos os dias (eu vou sobrecarregar os elfos domésticos da lavanderia, com certeza. Que pena).

Eu me troco na frente da janela, porque tenho segurança que ninguém consegue me espiar daqui. A não ser que esteja em uma vassoura, e eu tenho certeza que ninguém está com uma vassoura. Uma camisa branca de botões e mangas longas, um pullover de lã preto, por dentro da barra da saia xadrez marrom e curta. Eu quase consigo me passar por uma aluna de uniforme. Eu gostaria muito de ter tido tempo pra fazer uma trança e ajeitar o cabelo propriamente, mas isso me custaria o café da manhã. E eu estou com fome.

Alguns dos alunos do último ano, da Sonserina, me convidam para sentar com eles e tomar café da manhã. Eu aceito.
Eles me dizem sobre como estão animados pela formatura, e me pedem dicas do que fazer depois disso. Aí que mora o problema, eu não sei o que fazer depois. É por isso que voltei pra Hogwarts.

Eu termino o café da manhã e vou pra biblioteca. E fico lá a manhã inteira. E perco o almoço. E fico a tarde inteira também.

Meu primeiro passo foi encontrar a seção de Defesa Contra As Artes das Trevas. O segundo passo foi passar, pelo menos, trinta minutos encarando as lombadas de dezenas de livros diferentes, sem saber qual pensar em escolher. Decido começar por um. História das Artes das Trevas. Eu fico presa logo no sumário, sem saber qual seção seria a melhor de ler primeiro... Então escolho outro livro. Empaco de novo. Depois outro livro.

São cinco da tarde agora. O sol que passa pelos vitrais da biblioteca pintam todo o ambiente de dourado e laranja. Dói na vista, mas é bonito.

Há uma pilha de livros abertos na mesa em que eu estou, alguns pergaminhos com anotações inconclusivas e uma garota que começa a sentir o mal estar e uma súbita vontade de vomitar chegando. A garota sou eu! Tudo porque pulei o almoço... Eu estava muito determinada a fazer uma descoberta interessante logo no primeiro dia de pesquisa, mas não consegui nada. Foi tudo frustrante e inconclusivo.

Eu suspiro forte e me curvo sobre a mesa, deitando a cabeça em um dos livros abertos. O cheiro de página velha e amarelada nem me incomoda tanto. Eu deveria ter comido alguma coisa, nem que fosse uma maçã...

Amelie...? — ouço uma vez, mas não a reconheço. Nunca a ouvi na vida.

Levanto a cabeça de uma vez, me fazendo ficar um pouco mais tonta. Ou eu estou alucinando, ou é o professor Lupin que está aqui na minha frente.

— Sim? — eu aperto os olhos, tentando ajustar a luz na minha vista.

— Vim me apresentar. Propriamente. Ontem eu estava muito cansado, perdão se pareci rude.

— Não, não pareceu — eu digo. É mentira, pareceu sim.

Ele sorri discretamente e afunda ainda mais as mãos nos bolsos do terno;

— Os outros professores comentaram que você voltou para pesquisar Defesa Contra as Artes das Trevas — Lupin comenta. Eu percebi que ele analisou rapidamente os livros que eu estou lendo — Vai ser um prazer receber você nas aulas...

— Ah, professor, acho que o senhor entendeu errado — me ajeito na cadeira, tentando conter o mal-estar de estar sem comer há horas — Eu não sou uma estagiária, ou coisa do tipo...

— Claro que não é, eu saberia se eu tivesse uma estagiária. — seu tom de voz é calmo, e até certo ponto quase risonho. Me faz sorrir involuntariamente. — Só achei que talvez uma abordagem prática poderia ser interessante pra sua pesquisa.

Eu mordo o lábio. Estranhamente não quero ter que contradizê-lo, mas o faço assim mesmo.

— Ah... Não sei, ainda nem tenho certeza se vou querer seguir como professora...

— Ter a experiência não lhe fará mal algum, eu tenho certeza. — ele diz.

Eu olho nos seus olhos, que brilhavam de maneira divertidamente frustrada...? Eu sorrio fraco, sem saber como reagir direito, e digo;

— De qualquer forma, obrigada pela sugestão.

— Não há de quê. Você pode me procurar se precisar de algo na sua pesquisa — sua voz sai amigável e ele faz menção de se despedir, mas dá meia volta e diz mais alguma coisa, com a voz um pouco mais densa agora; — Você parece muito pálida, Amelie. Está tudo bem?

— Tudo. Só preciso sair daqui e ir comer alguma coisa.

Não percebo quando ele enfia uma das mãos no bolso interno do casaco e remexe procurando algo, até que me entrega um pedacinho de chocolate. Pelo cheiro eu sei que é chocolate amargo.

— Tome. Acho que vai ajudar, pelo menos até você ir comer decentemente.

Eu aceito o chocolate, e sorrio em agradecimento. Eu deveria ter verbalizado um "Obrigada!" mas fiquei sem jeito, na verdade eu até estranhei. Ele sorri rápido, sem mostrar os dentes, antes de se virar e seguir seu caminho. Sem olhar pra trás, dessa vez.

E eu como o chocolate.

Mr Moony's New Assistant - Remo Lupin Onde histórias criam vida. Descubra agora