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É sábado no meio da tarde quando eu sinto que meu cérebro já está exausto de ler, reler e formular teorias. Dois anos atrás, quando eu ainda estudava aqui, esse cenário era bem comum.

A diferença é que, naquela época, qualquer uma das minhas amigas me imploraria pra parar de estudar e ir para Hogsmead aproveitar o final de semana. Passear em cada uma das lojas, convencer os garotos a nos comprarem cerveja amanteigada... Eu meio que sinto falta disso. Hogwarts parece meio tediosa quando não se tem os seus colegas de classe andando de cima a baixo com você.

Eu balanço a cadeira nos seus dois pés traseiros e bufo. Olho através da janela; é nublado e levemente ensolarado.

Troco meus pijamas por roupas normais. Parece nostálgico, muito nostálgico. Até parece que tenho 16 anos (...como se ter 19 fosse uma GRANDE diferença, é claro que não é...) O castelo parece vazio quando só se tem alunos do primeiro e segundo ano por aqui. Eu me sinto sozinha e isso é melancólico. Ou talvez sejam só os hormônios.

Eu tento compensar a sensação de estar solitária ficando bonita e indo andar pelo castelo. Porque, decididamente, meus pecados capitais são uma mistura inofensiva de soberba e vaidade. A saia é marrom, quadriculado, e o suéter é cinza. A fita que prende o final da minha trança é bege, e a minha meia-calça é preta. O sobretudo também é marrom, um pouco mais claro, quase creme. Não é exatamente frio, nessa época do ano, mas os ventos são fortes. E é meu tipo de clima favorito, só perde para as chuvas torrenciais de verão.

Ele está aqui de novo, na ponte coberta que dá acesso a uma das saídas pra Hogsmead e pros jardins. Eu consigo vê-lo de longe, está parado no meio da ponte, olhando para o abismo da paisagem, e... e eu estou pensando em contornar todo o castelo e sair por um caminho alternativo. Porque não quero que pareça que eu estou seguindo ele. Eu não estou fazendo isso, mas acho que ele vai me achar uma adolescente obcecada se eu for falar com ele mais uma vez. Mesmo eu tendo falado poucas vezes... Estou me sentindo uma idiota.

Tudo bem, talvez se eu passar quietinha sem fazer nenhum barulho talvez passe despercebida... ou talvez aí ele me ache mal-educada.

— Amelie! — ele me cumprimenta assim que passo por ele e eu paro de andar. Giro nos calcanhares — Bom ver você.

Sorrio com as bochechas porque, de repente, sinto que não sei como responder. Acho que esse tipo de figura de autoridade acessível que ele transparece me deixa timidamente intimidada. E eu estranhamente gosto disso. Eu acho...

— Como vai a pesquisa?

— Vai bem! Eu só precisei fazer uma pausa — eu me exalto — Seus textos são incríveis, a propósito.

Seu lábio se curva num pequeno sorriso e agora eu percebo que ele tem uma cicatriz enorme correndo o rosto inteiro. Eu me pergunto onde ele a conseguiu, mas imagino que deva ser muito indelicado de perguntar. Então eu desvio o olhar. Olho pros seus sapatos, e ele cruza uma perna na frente da outra. Merda.

— Tente não ficar muito obcecada nisso — ele diz em tom de conselho e eu rapidamente o olho confusa. Ele logo completa: — Na pesquisa. Ficar muito imersa pode acabar prejudicando você, se não tirar um tempo pra descansar a cabeça.

— É, estou tentando fazer isso. Achei que ir a Hogsmead seria uma boa ideia.

— Definitivamente uma ótima ideia.

Eu sorrio fraco e estreito os olhos. Dois segundos depois eu murcho;
— Mas... sei lá, parece mais tedioso quando não tenho mais os meus amigos pra ir comigo.

— Eu imagino como se sinta — ele diz, como se soubesse de todas coisas do mundo. E até parece que sabe mesmo — Voltar depois de alguns anos sem os seus antigos colegas de classe. É, eu entendo. — e dá um sorriso breve. Só percebo que, agora, estamos caminhando porque já estamos saindo do outro lado da ponte — Incomodaria você se eu fosse pra Hogsmead junto?

Mr Moony's New Assistant - Remo Lupin Onde histórias criam vida. Descubra agora