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A King Cross trouxa é mais quieta, inabitável, fria e cinza do que quando se atravessa a plataforma 9 3/4.

Aqui tudo é calmo. As outras poucas pessoas na estação parecem estar a metros de distância. E aí percebo que isso é realmente muito estranho. Kings Cross, calma e quase vazia?!

Não vou tentar formular teorias de porquê isso parece tão estranho. Mamãe e Papai acabaram de embarcar as malas no trem e mamãe está, mais uma vez, tentando me convencer a ir com eles. Mas não vou, estou irredutível nisso.

— ...Amelie, mas ficar sozinha aqui nessa cidade... — ela continua insistindo. Já é a quinta vez nos últimos três minutos. Meu pai nem tenta pedir mais.

Eu só balanço a cabeça repetidamente, negando isso tudo de novo. Ela suspira fundo, finalmente rendida ao meu não.

— Você é tão teimosa, sabia? — ela suspira — Falei com Narcisa, pra receber você se...

— Não vai precisar, mãe — interrompo — Sei me cuidar sozinha. E está tudo sob controle.

Ela quer reclamar mais um pouco, mas o chiado do trem a faz desistir. Nos despedimos, eu ela e papai. E eles embarcam no trem. Mal o trem começa a correr nos trilhos e eu já penso; Nada está sob controle.

Não estou desesperada, nem nada do tipo. Só meio paralisada e tentando organizar meus próximos passos, que devem ser: Arranjar um lugar pra ficar. Mas não consigo me concentrar direito porque eu tenho a sensação irritante de que estou sendo observada...

Ótimo, mamãe estava certa. Eu não deveria estar sozinha em Londres.

Decido sair da estação. Talvez começar a caminhar na calçada seja uma ideia melhor.

Quase tropecei e caí agora. Um cachorro passou pelas minhas pernas. Meu lado irracional me dá vontade de gritar e de xingar o cachorro, mas o meu lado racional me faz ficar atenta. Me veio uma sensação estranha agora. Quase nostálgica ou familiar. Fico observando como o cachorro anda numa linha reta tão perfeita, quase como um humano andaria. Minha mão dói, quase como uma memória. Não poderia ser...

O cachorro "olha por cima do ombro" e depois vira em um bequinho. E adivinhe só o que eu fiz...

Segui junto. Não me pergunte porque fiz isso, nem eu sei a resposta.

Eu poderia achar que estava louca quando decidi seguir um cachorro bizarro num beco vazio. Mas eu tive mais certeza ainda que tinha enlouquecido quando vi que o cachorro virou um homem!

Não saí correndo como eu, supostamente, deveria. Travei aqui. Agora ele está parado de frente pra mim, com um sorriso que parece amigável e constrangido ao mesmo tempo. Eu sei quem ele é, meu cérebro só está um pouco atrasado em ligar as memórias certas...

Mas ele me olha sem dizer nada, e eu também olho sem dizer nada. Meu rosto está com um semblante meio de susto e de indignação. Acabei de lembrar (e de perceber);

— Foi você que mordeu minha mão! — eu acuso, lembrando do acontecido de quase dois anos atrás — Você é um animago!

— Achei que você tivesse superado essa mordida, de verdade. E eu já pedi desculpas!

Olho pros lados, talvez encarando mais uma oportunidade de sair correndo que eu, novamente, vou ignorar.

— Você é Sirius Black, e você está foragido!

— Eu gostaria que você falasse isso um pouco mais baixo, por favor — ele gesticula — Não vai ser nada interessante se me descobrirem. Obrigado!

— Ah, puta merda, o que é isso? Você está me perseguindo?

— Foi você que me seguiu! — ele rebate, e está certo.

Me dá vontade de gritar, espernear e bater o pé com força no chão aqui agora. A minha reação e a cena com certeza devem parecem muito engraçadas, porque ele está rindo agora. E eu segui mesmo! Mas não faço ideia do porque segui.

— Mas... — torna a falar — Eu estive fora do país no último ano, passeando de lugar em lugar, sabe? E, curiosamente, você esta em todos os lugares que eu também estava...

Arregalo os olhos e ergo a sobrancelha, incrédula e, potencialmente, assustada. Embora o tom dele fosse sempre muito amigável e quase divertido.

— Ora, eu estive na Irlanda e, veja só, vi você por lá pesquisando sobre... Elfos? — Sirius continua dizendo e eu permaneço meio atônita ouvindo tudo — Fiz um passeio pelo Egito e você também estava lá investigando as múmias... E depois eu fui na Romênia, e lá estava você, de novo, procurando alguma coisa sobre Drácula e seu castelo.

— Você estava me perseguindo!

— Foi coincidência! — ele reforça, se segurando para não rir. — Bem, recentemente eu estava na Argélia também, um cachorro passeando na praia, e, por acaso, você e, quem eu julgo ser os seus pais, estavam conversando em uma mesinha na orla...

— ESPIONOU MINHA CONVERSA COM MEUS PAIS? VOCÊ É UM DOENTE?!

— Ah, por favor, não precisa gritar! — ele chiou, olhando pros lados, pra ter certeza que ninguém mais me ouviu gritar.

Mas como alguém poderia ter me ouvido gritar, afinal? Não tem ninguém aqui. E é por isso que eu deveria correr e fugir o mais rápido possível, porquê eu estou cara a cara com um assassino foragido que está, abertamente, admitindo que esteve me perseguindo por meses!

Mas não fujo. Continuo aqui.

— É tudo coincidência, eu garanto. — Sirius Black torna repetir, falando baixo e gesticulando as mãos como se tentasse me amansar — Então... eu acabei ouvindo sua conversa com os seus pais, e, não sei... me identifiquei com você, Melie.

— Meu nome é Amelie. — corrijo prontamente. Melie é um apelido bem mais íntimo, que eu não gostaria ouvir um ASSASSINO FORAGIDO repetindo. — Se identificou comigo? Você?!

Mais do que você imagina. A criança rica, pais respeitados, meio conservadores, supremacistas... — a última palavra sai mais baixa — E você, visivelmente, não concorda com todos os ideais deles. Embora pareça claramente mais educada do que eu...

— É claro que eu sou mais educada que você, eu não matei ninguém! — alfineto-o de volta. Vou fingir que todo o resto que ele falou não perfeitamente relacionável e que acertou em cheio.

— Nem eu! — Black se defende, não questiono sobre isso — Bem, não pude deixar de ouvir que seus pais saíram do país e você está meio sem ter pra onde ir...

— Minha mãe pagou você pra perguntar isso, foi?

Ele dá uma gargalhada, não tão alta, pra não ser ouvido, e depois enfia as mãos dentro do bolso do casaco de veludo meio preto, e diz;

— Enfim, tenho uma casa com todos os quartos vazios. Se você precisar de um lugar pra ficar, não vai ser um problema receber você.

Cruzo os braços e arregalo os olhos. Dá vontade de rir. Ele não está esperando que eu responda isso, sério, está?

Está?

Mr Moony's New Assistant - Remo Lupin Onde histórias criam vida. Descubra agora